sábado, 7 de abril de 2012

Heleno - O Principe Maldito



“Heleno – O Principe Maldito” Brasil, 2011

Direção: José Henrique Fonseca



A vida dele foi uma ópera. E o filme começa no 3º ato, o mais dramático.

A câmara nos mostra Heleno, vivido por um Rodrigo Santoro surpreendente, 12 quilos perdidos, uma sombra de si mesmo, quase irreconhecível. Vê-se um homem muito magro, cabelo ralo, dentes ruins, olhar desfocado, arrancando da parede pedaços de jornal onde se leem as manchetes:

“O casamento de Heleno mexeu com a Cidade”, “Heleno é o mais novo membro do Clube dos Cafajestes”, “Dupla personalidade de Heleno de Freitas”, “Destempero de Heleno – Caso perdido” e outras mais que cobrem todo o nosso campo visual.

“- Serei lembrado, vocês não”, balbucia, “eu não preciso do carinho de vocês. Eu brilho.“

É um choque para quem não sabe nada sobre a vida de Heleno de Freitas (1920-1959), um dos maiores craques de futebol que o Brasil já teve e que empolgou as torcidas, jogando pelo Botafogo nos anos 40.

Mas, na verdade, o filme não é sobre futebol. Nem mesmo é a biografia de Heleno, porque muitos dos fatos mostrados no filme não aconteceram, nomes foram trocados, nada é muito explicado, para que o mito criado possa começar a aparecer na tela em cenas que são esparsas e não cronológicas.

Ao som de árias do “Cavalheiro da Rosa”, o vemos jogando na chuva e a torcida vibrando com um gol. Ele tira a camisa e, com o olhar esgazeado, joga-a para a multidão que grita seu nome.

E o homem elegante, que nasceu de uma rica família mineira, bacharel em Direito e bem relacionado com a elite carioca da época que o Rio de Janeiro era capital do Brasil, vai ser mostrado aos poucos.

E o que vemos é um ego descomunal, alguém que se considerava o melhor de todos e que por isso, não aceitava regras e nem conhecia limites.

Mulherengo, exibido e claro, sem noção da própria fragilidade, era presa fácil dos vícios que entorpecem. Fumando sem parar, bebendo muito e cheirando éter, seu caminho em direção à queda foi anunciado a todos, menos a ele mesmo.

Briguento no campo e na vida, pisava duro e maltratava os companheiros no jogo e nos vestiários.

Sedutor, passava de mulher em mulher nas boates do Rio. O Cassino da Urca e o Hotel Copacabana Palace eram o seu mundo. Uísque e champagne a rodo, arrogância e desprezo por quem mostrava algum cuidado com ele.

A bela Alinne de Moras vive Silvia (Ilma na vida real), a moça com quem se casou e teve um filho. Mas o casamento era um tal inferno para ela, que Heleno nunca conviveu com o filho, que ela afastou dele.

Acabou internado em um hospício em Barbacena, com sífilis, já em estado avançado.

Morreu aos 39 anos, louco e paralisado, depois de 5 anos de internação, tendo como único apoio o carinho do enfermeiro (Mauricio Tizumba, comovente).

O filme é um tratado sobre o que pode acontecer com alguém que, cego pelo próprio narcisismo, não ouve nada e a ninguém e é guiado por um sabotador interno incansável.

Causa horror ver alguém se destruindo dessa forma...

Filmado em um luxuoso preto e branco, com a fotografia do premiado Walter Carvalho, tem cenas deslumbrantes, que impactam pela beleza estética.

Talvez quem goste de futebol fique decepcionado com “Heleno”. Já quem se interessa pelo ser humano e pela beleza trágica no cinema, vai ficar encantado.



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