domingo, 8 de abril de 2012

Espelho, Espelho Meu



“Espelho, Espelho Meu”- “Mirror, Mirror”- Estados Unidos 2011

Direção: Tarsem Singh



A conhecida história da Branca de Neve dos livros de nossa infância e do desenho inesquecível de Walt Disney (1938), ganha roupagens novas em “Espelho, Espelho Meu” mas, no fundo continua a mesma fábula.

“Espelho, Espelho Meu” tem os ingredientes necessários para ensinar que toda donzela tem um pai que é uma fera, que a mãe pode ser madrasta na adolescência da menina, que beleza apenas não põe a mesa, como diz o ditado e que um príncipe é sempre muito bem-vindo, mesmo que seja só bonito e bobo.

À beira de um lago azul, cercado de florestas verdes, em cima de uma coluna negra de rocha, de frente para o abismo, lá está o castelo onde vive prisioneira a princesa (a lindinha Lily Collins, uma mistura de Audrey Hepburn e Leslie Caron) e a madrasta má (a ótima Julia Roberts) tão inteligente e bela quanto voraz e onipotente.

A conhecida rivalidade e a inveja entre as gerações femininas é o centro da história e sempre será.

E então entra em cena a magia que, negra ou branca, todos temos dentro de nós mesmos.

Em belíssimas cenas escurecidas, Julia Roberts mergulha no espelho líquido do seu quarto e vai para um lugar onde outro espelho, outro reflexo dela, aconselha a ter cuidado com esse plano de fazer Branca de Neve desaparecer.

Do alto de sua arrogância, ela não ouve a si mesma e vai se dar mal. No fim, vai ter que provar do próprio veneno.

O diretor indiano Yarsem Singh conta a história antiga com sabores novos. Há um humor afiado que, às vezes, se perde na tradução e, decididamente, há uma guinada na imagem dócil e caseira de Branca de Neve. Aqui ela veste calças para lutar e defender os seus direitos.

Mas não deixou de ser meiga e solidária. Os passarinhos foram substituídos pelos pobres súditos da rainha má, que Branca, politicamente correta, salva da expoliação que sofrem naquele reino.

É hilário o “spa”da rainha, que ironiza o que algumas mulheres passam para parecer uns anos mais jovens e, nem sempre conseguem. Muitas risadas com as abelhas-botox picando os lábios de Julia Roberts, as máscaras malcheirosas e as ferroadas do escorpião para tirar a celulite.

Os anões, que agora são ladrões, brincam com a ideia do impoliticamente correto, bancando os marginalizados que se revoltam e retribuem maldade com maldade.

E os figurinos? Roubam a cena. São tão lindos e pomposos os vestidos de Julia Roberts, com menção especial ao vestido de noiva, todo em pétalas brancas, que distraem os nossos olhos do resto.

Branca de Neve de cisne, no baile à fantasia em que conhece o príncipe (Armie Hammer) e com a gueixa revisitada do vestido que usa no seu casamento, é simplesmente uma visão. Isso para não falar dos intrincados figurinos da corte, feitos com uma incrível imaginação.

Eiko Ishioda, a figurinista quem o filme é dedicado, morreu em janeiro último. “Espelho, Espelho meu” foi o seu último trabalho. Grande perda para a fantasia no cinema.

E, no final, Hollywood se inclina perante Bollywood. Branca de Neve canta e todos dançam como se estivessem em Mumbai. Sinal dos tempos.

“Espelho, Espelho Meu” tem lá os seus encantos. Quem ainda é ou já foi uma garota, vai apreciá-los.



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