domingo, 20 de novembro de 2011

O Garoto da Bicicleta



“O Garoto da Bicicleta”- “Le Gamin au Vélo”, Bélgica/ França/ Itália, 2011

Direção: Jean-Luc e Pierre Dardenne





Qual é a maior necessidade de um ser humano?

Eu diria que é sentir-se amado e, principalmente, poder amar alguém. E que isso é visceral nas crianças.

A referência amorosa cria caminhos que nos levam de volta para casa. Casa que nos acolhe e que diz quem somos.

Graças aos irmãos cineastas, os Dardenne, à sensibilidade deles e claro, podemos inferir, à biografia amorosa dos dois, temos no cinema o encantador “O Garoto da Bicicleta”, uma lição de amor.

Um menino, Cyril (Thomas Doret) e uma bela e intuitiva fada madrinha (Cécile de France) nos ensinam que, para começar, o amor precisa de dois para existir.

Se o pai de Cyril não pode ou não quer exercer essa função, o filho vai aprender que o coração, quando ajudado pela mente que estuda as experiências de vida pelas quais passamos, sempre encontra o caminho e a pessoa certa.

Mesmo que muitos erros aconteçam nesse procurar.

Afinal, como aprender sem se enganar e depois pensar sobre isso?

A bicicleta, aqui, é metáfora de liberdade, qualidade essencial que o ser que procura o amor precisa ter. Daí Cyril lutar com unhas e dentes pela sua.

Como pode encontrar o amor quem não circula?

Cécile de France, que nós vimos como a turista francesa que passa por um “tsunami” no belo filme de Clint Eastwood, “Além da Vida”, empresta todo o seu talento ao rosto sensível de Samantha, a moça sem ninguém que reconhece e vive com vontade o amor que aparece, de repente, em sua vida.

Ela mostra para Cyril que o amor não é passivo. Que ele vigia, conduz com firmeza.

Não sendo um sentimento fácil, exige muito dos dois que querem praticá-lo.

E como um fruto, o amor nasce verde e precisa de um ambiente favorável para amadurecer. Entre dias de sol e outros de vento e trovoadas, certamente.

Thomas Doret vive o menino abandonado no orfanato com alma. Seu rosto ensombrecido, emburrado, raivoso mesmo, vai se iluminando aos poucos, até o final do filme.

Os irmãos Dardenne ganharam o Grande Prêmio do Juri no Festival de Cannes nesse ano. Merecido, porque acertaram em tudo em “O Garoto da Bicicleta”.

E encerram sua lição de amor com uma bela chave: a melodia límpida, grave e delicada do adágio do Concerto para piano e Orquestra No 5, “Emperor”, de Beethoven.

Tocada por Alfred Brandel, um dos maiores pianistas vivos, a música nos embala e saímos do cinema pensando na nossa infância. Emocionados.


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