quarta-feira, 3 de junho de 2020

My Happy Family



“My Happy Family”- Georgia, 2017
Direção: Nana Ekytimishvili e Simon Grob

Quando vemos Manana (Ia Shugliashvili), uma mulher de meia idade, olhando com a corretora um apartamento bem simples com uma varanda que uma árvore invade, pensamos que ela é solteira.
Mas não. Logo ela chega em um outro apartamento onde mora sua família.
Abre a geladeira e pega um pedaço de bolo e é logo repreendida:
“- Mas comendo a sobremesa antes do jantar? ”, pergunta quem parece ser a mãe dela.
No sofá um casalzinho se beija, observados pelo avô. Um outro jovem também está na sala com quem parece ser o marido dela, Soso (Merab Ninidze).
A sensação é de claustrofobia, principalmente porque a câmera centra-se em Manana que tem um semblante cansado.
E aí vemos que o título do filme é irônico. A família não é feliz nem infeliz. Vivem a vida juntos e não se incomodam como jeito invasivo da avó. Nem se perguntam como está Manana.
Ela vai fazer 52 anos mas não quer festa. Comenta que prefere uma noite calma. Mas o marido não concorda. Inclusive já convidou os amigos. E não adianta ela repetir que não quer festa. Parece que a julgam uma ingrata.
E a festa acontece. Manana não demonstra o que sente mas seu rosto não tem sorrisos. É educada mas distante.
No dia seguinte, na escola onde leciona, uma aluna reaparece depois de muitas faltas. Manana pergunta o motivo e a aluna (Lika Babluani) diz que se separou do marido:
“- Éramos muito diferentes. Não ia dar certo...”
Aquela menina, sem saber, deu uma lição sobre a passagem do tempo para a professora. A festa, que não era para ela mas para os amigos do marido, fora a gota d’água. O exemplo da aluna, o último empurrão.
Quando chega em casa e dá a notícia que está se mudando porque quer morar sozinha, pega todos de surpresa.
“- Mas o que foi que seu marido fez? ”
“- Você tem que respeitar seu pai, sua mãe, seu marido e seus filhos! ”
“- Não vou explicar nada para ninguém” responde calma Manana à saraivada de perguntas da família toda.
E lá está ela, limpando o apartamento ouvindo Mozart. O sol entra pela porta aberta da varanda e a árvore balança ao vento suas folhas verdes.
Será que ela vai aguentar a pressão que certamente vai haver? Talvez a pior seja a culpa que ela vai sentir. Quanto custa a liberdade?
O filme é muito bem conduzido e a naturalidade dos atores é excepcional.
A Georgia libertou-se da extinta União Soviética em 1992. O coletivo criou raízes nas pessoas. A família, com seus membros ligados por correntes afetivas que podem ser muito pesadas, parece ser o problema e Manana que se sente numa prisão. Não deve ser a única a sentir essa vontade de libertar-se.
O final do filme em aberto certamente aponta para a dificuldade dessa questão.


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