quarta-feira, 19 de junho de 2019

Obsessão



“Obsessão”- “Greta”, Estados Unidos, Irlanda
Direção: Neil Jordan

Uma bela bolsa verde está abandonada no metrô de Nova York. Frances (Chloe Grace Moretz) vai no “Achados e Perdidos” mas não tem ninguém lá. Então leva a bolsa para casa pensando em devolvê-la pessoalmente.
Frances veio de Boston para morar um tempo com sua amiga Erica (Maika Monroe) que ri dela:
“- Em Nova York quando a gente acha uma bolsa tem que chamar a polícia. Só pode ser uma bomba!”
E, claro, abre e encontra dinheiro, um bilhete de loteria e a identidade com o endereço de Greta Hideg (Isabelle Huppert, sempre magnífica).
Vão ao cinema e Erica percebe que a amiga está chorando antes de começar o filme:
“- É porque cinema era uma coisa nossa, da Mamãe e eu...”
Frances perdera a mãe e ainda estava de luto. Algo acontecera, que não ficamos sabendo, envolvendo o pai dela. Mas uma coisa compreendemos. Frances está sensível e carente, fácil presa para alguém mal intencionado. Existe uma fronteira borrada entre realidade e ficção que penetra na mente dela, que está muito perturbada.
E a misteriosa Greta, que mora numa casinha escondida num beco, fica deliciada quando Frances vem devolver sua bolsa. Convidada para um chá, logo fica sabendo que o marido de Greta morreu e que sua filha Nicola mora em Paris.
Greta senta-se ao piano e toca Liszt, “Um Sonho de Amor”:
“- É o que me resta. Um sonho. Uma lembrança.”
Frances, que sente saudades da mãe, vai se apegar muito facilmente a Greta, aquela que perdeu todos os seus amores. Mal sabe ela onde está pisando.
“Obsessão” é dirigido por Neil Jordan, 69 anos, o escritor, diretor e produtor irlandês, que ganhou vários prêmios com seus filmes como o Oscar de melhor roteiro original por “Traídos pelo Desejo – Crying Game” e o Leão de Ouro em Veneza como melhor diretor por “O Preço da Liberdade”.
Aqui, ele dirigiu e escreveu o roteiro com Ray Wright e o tema principal do filme é o apego com possessividade como doença mental. É o caso da mãe superprotetora doentia que fecha a filha numa caixa, metáfora de sufocação amorosa.
As tintas são mais carregadas no caso da personagem Greta. Ela lembra os ogros das fábulas dos irmãos Grimm. Faminta de juventude, é a bruxa que prende a menina que quer viver sua própria vida. Ele é movida a solidão e rancor.
Também lembra a madrasta da Branca de Neve. A isca aqui é a bolsa, não a maçã. Mas a personagem é a mesma: a mãe que inveja mortalmente a filha.
Isabelle Huppert, falando inglês com sotaque, está ótima como Greta, a seca e tortuosa viúva, plantada em sua casa, à espera.
Se não é um grande filme, também não é mau. Sempre é fascinante ver a brilhante Isabelle Huppert na tela fazendo um personagem. Dessa vez metendo medo nas mocinhas incautas.


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