sábado, 20 de abril de 2019

O Anjo




“O Anjo”- “El Angel”, Argentina, Espanha, 2018
Direção: Luis Ortega

Buenos Aires, 1971. Num bairro de gente rica, um garoto de 17 anos pula a grade e invade a propriedade, uma casa imensa. Despreocupado, ele atravessa o jardim e entra pela porta de vidro aberta. Vai andando casa adentro. Serve-se de uísque, põe na vitrola o disco “El Extraño de Pelo Longo” e dança com naturalidade e graça. Depois rouba o que encontra nas gavetas do quarto e sai com a moto que encontra na garagem.
Ele começa a invasão da casa perguntando m voz alta:
“- Será que mais ninguém quer ser livre? Eu sou ladrão de nascimento. “
Quem diria que o dono da cara de anjo, cabelos louros encaracolados, boca vermelha, olhos claros e bela figura vestida em jeans e tênis, que prezava a liberdade, viria a ser o prisioneiro que está por mais tempo na prisão argentina?
É como se Carlos (Lorenzo Ferro, novato excelente) não entendesse que fazia algo errado. Os primeiros roubos ele dá de presente aos amigos e as joias para a namorada e sua irmã gêmea. Em casa conta para os pais que as coisas que ele traz são emprestadas. Como a moto por exemplo.
Carlitos vem da classe média e seus pais, Aurora (Cecilia Roth, ótima) e Hector (Luis Gnecco) desconfiam da origem de tanta coisa. Ele é filho único, de pais carinhosos e atentos mas que não sabem o que fazer com o filho.
Na verdade, o poder de sedução de Carlitos era a sua maior arma. Todos ficavam hipnotizados com sua presença que emanava um carisma infantil, quase que paralisante. Era como se a fachada angelical impedisse ou tornasse impensável imaginar que ele era uma criatura do mal.
Mas houve uma escalada nas ações desse garoto que roubava por prazer. Ele passou a usar armas depois de tornar-se parceiro de Ramón (Chino Darín, filho de Ricardo, o maior ator argentino) e seus pais criminosos (Mercedes Morán e Daniel Fanego). Não demorou para tornar-se um assassino.
A sexualidade de Carlos era dúbia. Nesse ponto ele parecia mesmo uma criança. Pelo menos como foi mostrado no filme de Ortega, 38 anos. O verdadeiro Carlos Robledo Puch era assim? Dizem que haveria muito de ficção na criação do personagem que também seduziu o diretor e, por sua vez, o público também.
Na Argentina, “El Angel”, produzido pelos irmãos Almodóvar, foi o filme mais visto de 2018, apesar de alguns censurarem o clima atrativo que cerca um criminoso narcisista, psicopata, que agia como se o mundo lhe pertencesse, roubando e matando sem remorsos nem escrúpulos.
Carlitos foi chamado de “Anjo da Morte” pela imprensa argentina da época que produziu manchetes escandalosas e poéticas como “ Loucura, Amor e Morte”.
“O Anjo” é um filme atraente, com ótimos atores e produção impecável. Mais um argentino de excelente qualidade.


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