segunda-feira, 4 de junho de 2018

A Amante




“A Amante”- “Hedi”, Tunísia, Bélgica, França, 2016
Direção: Mohamed Ben Attia

A Tunísia é um país do norte da África, banhado pelo Mediterrâneo. Foi lá que começou a Primavera Árabe e o resultado foi a queda do regime de Ben Ali e uma transição democrática. Porém o país vive uma crise econômica.
Mas Mohamed Ben Attia, diretor e roteirista, não quer falar diretamente de política em seu filme. Seu foco é um rapaz de 25 anos, Hedi, que vai viver uma crise existencial num lugar onde a tradição ainda comanda a vida das pessoas, apesar dos ventos de liberdade.
Ele é vendedor de carros Peugeot mas logo vemos que seu trabalho não o entusiasma. Vai casar-se logo e fica sabendo que terá que adiar a lua de mel por causa da crise. Mas isso não parece afetá-lo.
Durante uma visita à casa da noiva de Hedi, podemos notar que sua mãe Baya (Sabah Bouzouita) é quem manda em sua vida. Esse casamento é arranjado e planejado sem a participação do filho. Hedi obedece. Parece que para ele tanto faz.
Khedija (Omnia Ben Ghali), a noiva, é uma moça bonita mas quase tão indiferente a Hedi quanto ele a ela. Em seus poucos encontros no carro dele à noite, não há nenhum sinal de paixão e a conversa é superficial e desanimada. Ela só mostra entusiasmo nas mensagens que envia para o celular de Hedi. Parece outra pessoa.
A paixão de Hedi são seus desenhos que sonha publicar um dia numa revista de quadrinhos. Mas sua mãe desdenha desse “hobby”. É evidente pela conversa na casa da noiva que a mãe não considera Hedi um filho de quem se orgulha, diferente do mais velho a quem ela só tece elogios. Falam todo dia pelo Skype porque ele mora na França e casou por lá. Conta, mentindo, que o maior desejo desse filho é voltar para casa.
Bem, tudo se daria conforme o que quer a mãe de Hedi, se não fosse por um encontro casual num hotel em Mahdia, onde Hedi fora enviado para prospectar novos clientes.
Ao ver a bela dançarina Rim (Rym Messaoud) no cenário tropical do palco ao ar livre, sorrindo ao cantar e dançar para os hóspedes, Hedi descobre pela primeira vez na vida o que é o poder de atração que uma mulher pode exercer sobre um homem.
A química entre os dois é perfeita e Hedi se apaixona a poucos dias do seu casamento. Aflora sua espontaneidade e ele se mostra carinhoso com Rim, que é um pouco mais velha do que ele. Eles se divertem e riem o tempo todo.
Mas ao viver toda essa felicidade e prazer, desconhecidos para ele até então, Hedi também vai ter que enfrentar seus limites como pessoa e decidir o que vai fazer com sua vida.
No Festival de Berlim o filme ganhou o Urso de Prata como melhor filme de diretor estreante e O Urso de Prata para o melhor ator, Majd Mastoura, que faz o papel principal.
Com o selo de qualidade dos irmãos Dardenne que figuram como produtores, “A Amante” é um interessante estudo psicológico do homem na tradição muçulmana, tão sujeito quanto a mulher à sua força, representada pela família.

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