domingo, 22 de abril de 2018

7 Dias em Entebbe



“7 Dias em Entebbe”- “Entebbe”, Estados Unidos, Reino Unido, 2018
Direção: José Padilha

Quando um fato histórico, acontecido no século XX, ocupa um espaço enorme nos meios de comunicação da época, espera-se que se torne um bom filme. Foi o que aconteceu. Um ano depois, três estavam prontos. “Resgate Fantástico” tinha Peter Finch como Primeiro Ministro de Israel, “Vitória em Entebbe” era estrelado por Kirk Douglas e Elizabeth Taylor e “Operação Thunderbolt” mostrava atores israelenses e Klaus Kinski como um dos sequestradores.
Após 42 anos do sequestro do avião da Air France que faria Tel Aviv-Paris em 4 de julho de 1976, José Padilha, 50 anos, diretor brasileiro em Hollywood, escolhe contar novamente essa história famosa com um viés diferente.
Ele, que se notabilizou por filmes de ação, principalmente “Tropa de Elite” de 2007, que ganhou o Urso de Ouro em Berlim, começou sua carreira de sucesso com “Ônibus 174” de 2002, documentário sensível e premiado, que contava a história de um jovem delinquente que sequestra um ônibus com passageiros no Rio de Janeiro. O diretor mostra como o contexto social de pobreza e violência determinou o destino trágico do sequestrador, bem como a ação escandalosa da TV e a incompetência da polícia.
Parece que ele usa esse mesmo olhar em seu filme para pensarmos sobre os bastidores políticos e psicológicos desse sequestro do avião. Porque todo mundo sabe como tudo termina. Não faria sentido fazer apenas mais um filme de ação. Talvez memórias do seu documentário pressionaram para que Padilha olhasse os acontecimentos com um olhar humanizado.
O grupo dos quatro sequestradores era composto por dois guerrilheiros da Frente Popular para a Libertação da Palestina e dois revolucionários alemães simpatizantes do grupo Baader-Meinhof (Daniel Bruhl e Rosamund Pike, excelentes). Exigiam a libertação de todos os presos políticos de Israel, ameaçando matar todos os sequestrados.
O filme se passa em três cenários: no avião sequestrado, no aeroporto de Entebbe, Uganda, com a conivência do ditador Idi Amin e em Israel, onde o Primeiro Ministro Yitzhak Rabin (Lior Ashkenazi) e o Ministro da Defesa Shimon Peres ( Eddie Marsan) discutem estratégias.
Tanto entre os alemães revolucionários mas burgueses e os palestinos que defendiam suas ideias, dispostos a morrer por elas, quanto no cenário do governo israelense, haviam disputas e dúvidas.
Essas diferenças entre os membros do sequestro e as posições distintas dos líderes israelenses são o diferencial do filme, adaptado do livro “Thunderbolt Operation” de 2015, escrito pelo historiador britânico Saul David. Padilha também teve uma consultoria do antigo membro da Força de Defesa Israelense, Amin Ofer.
Desde as primeira cenas, o diretor amarra a movimentação do sequestro com o ensaio de um espetáculo do grupo Batsheva. Esse grupo de balé, o mais importante de Israel, tem como diretor e coreógrafo Ohad Naharin, que culmina seu espetáculo mostrando em imagens a tragédia que separa israelenses e palestinos. São metáforas em movimentos corporais de grande intensidade emocional, acompanhadas da canção da tradição judaica “Echad mi Yodea”. Um grande acerto.

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