sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Roda Gigante



“Roda Gigante”- “Wonder Wheel”, Estados Unidos, 2017
Direção: Woody Allen

Uma roda gigante no parque de diversão da praia de Coney Island, nos anos 50, será o cenário de um melodrama que vai mostrar que a vida humana é como a roda gigante, metáfora para os altos e baixos e a brevidade do tempo que temos a nosso dispor.
Quem nos apresenta os personagens é um rapaz forte e bonitão, Mickey Robin (Justin Timberlake), o salva-vidas da praia, que já foi da Marinha e adora contar sobre os lugares longínquos que visitou:
“- Mas só no verão vigio a praia. Eu estudo para ser um grande dramaturgo na Universidade de Nova York. Um dia vou escrever uma obra prima.”
O que acontece é realidade na vida dele ou fantasia? Não sabemos. Ele será narrador e personagem. E dá a impressão que observa os outros mais do que se envolve com eles.
E o rapaz começa a contar a história dando boas vindas à primeira personagem que aparece. Carolina (Juno Temple), mocinha bonita de vestido justo e decotado, entra no parque. Ao fundo, a roda gigante.
Parece assustada. Procura o pai que tem um carrossel no parque mas ele não está. Alguém diz para ela falar com Ginny, que é a mulher de Humpty, o pai dela, que trabalha como garçonete no restaurante.
Quando Ginny vê Carolina, sua expressão é de espanto. Aos poucos percebe quem é ela e na avaliação que faz da juventude e beleza da moça transparece claramente a inveja.
Ginny está mal humorada:
“- Odeio esse maldito parque. Moramos aqui em cima”, diz ela subindo as escadas, “estou com problemas com meu filho. Nunca tenha filhos!”
A roda gigante, bem na frente da casa, vai ser a testemunha muda e a metáfora para o que acontece com os personagens que vivem naquela casa de vidraças ao longo das fachadas.
Jim Beluchi faz Humpty, o pai de Carolina e marido de Ginny, alcoólatra em abstinência. Ele é grosseiro mas carinhoso quando quer. Não falava com a filha há 5 anos porque ela se casara com um mafioso, contra sua vontade. Mas a acolhe e perdoa. Sonha com um belo futuro para ela.
Ginny, quase 40, tem um filho do primeiro casamento. O menino é piromaníaco. Sua distração preferida é o cinema e acender fogueiras. Por que? Talvez alimente um fogo de purificação? Pensa na destruição ou castigo para alguém? Ou o fogo é a imagem da depressão raivosa que o invade?
A mãe dele é estressada, vive com enxaquecas e procura uma tábua de salvação para escapar de um afogamento mental.
“-E como nós mentimos para nós mesmos para podermos sobreviver”, comenta o salva-vidas.
Kate Winslet está maravilhosa. Da vida à Ginny, com seus cabelos vermelhos, uma beleza prestes a fenecer e uma vontade louca de esquecer seus erros, para poder repeti-los novamente.
Atriz fracassada, vive como se estivesse num palco, pronta para mudar de personagem. Isso faz com que perca preciosos momentos, só podendo avalia-los tarde demais. Uma sensação de não viver é a consequência desastrosa dessa atitude.
A luz do filme é trabalho do talentoso fotógrafo Vittorio Storaro e ele usa cores brilhantes, bem anos 50 e Cinemascope, para depois comentar os sentimentos dos personagens com mudanças na cor na sequência de uma cena. Ginny está sempre mudando de clima e a luz vermelha do seu quarto de repente muda para o azul.
E, até por isso, a música da trilha sonora incrível que melhor se adapta à personagem de Kate Winslet é a canção “Red Roses For a Blue Lady” (Rosas vermelhas para uma mulher triste).
Woody Allen, 82 anos, a cada ano nos encanta com seus filmes que, ultimamente, tem refletido sobre a futilidade e a breve passagem que é a vida.

Os fãs vão se deliciar.

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