terça-feira, 30 de janeiro de 2018

O Sacrifício do Cervo Sagrado




“O Sacrifício do Cervo Sagrado”- “The Killing of a Sacred Deer”, Reino Unido, Irlanda, 2017
Direção: Yorgos Lanthimos

Um coração pulsando no peito aberto de um homem. A fragilidade desse órgão nas mãos de um outro homem causa apreensão. E nos prepara para o que vamos ver na tela.
A história é sobre um cirurgião cardiologista ( Colin Farrell) e sua família.  Nicole Kidman é a oftalmologista, mulher do cirurgião famoso, com quem tem dois filhos, Bob o caçula e Kim, a mais velha.
Estranhamos os encontros iniciais do médico com um adolescente (Barry Keogan). Haveria algo sexual entre eles? Aos poucos vai ficando mais clara a relação entre os dois. Há um clima de chantagem e sedução.
“Não sei se este é um filme sobre sacrifício, embora alguém seja imolado. Prefiro pensar que é uma reflexão sobre a justiça e sobre escolhas”, disse o diretor grego de  44 anos, no Festival de Cannes do ano passado.
E a justiça aqui é aquela dos deuses antigos. Imediatamente pensamos em uma história de vingança.
Quem conhece um pouco das tragédias gregas vai se lembrar da personagem de Ifigênia. Mesmo porque o nome é citado, já que a filha do cirurgião escreveu um trabalho da escola elogiado sobre essa personagem de Eurípedes. Ifigênia escapa de ser morta em sacrifício pelo pai Agamenon, que ofendera a deusa Artemisa, porque é substituída por um cervo.
Quem será o cervo na história do cirurgião?
Lanthimos vai desenvolvendo o clima trágico, criando suspense, E vai nos envolvendo no horror proposto por uma justiça do “olho por olho”.
O médico vai ter que expiar sua culpa na morte de um paciente durante uma cirurgia. Ele se submete aos desejos do adolescente, filho do morto, levado pela culpa. Sabe que o paciente teria uma chance se ele não tivesse bebido.
A maldição que o filho do morto lança sobre a família do médico, começa a surtir efeito. Uma estranha paralisia joga os dois filhos dele numa cama.
Lanthimos usa esses personagens, aparentemente banais, para expor as reações deles quando colocados numa cilada que os obriga a uma escolha impensável. A natureza humana sob a influência das forças inconscientes, maiores do que pode suportar, vai atuar em obediência a esses deuses, as fúrias internas que castigam sem piedade.
“O Sacrifício do Cervo Sagrado” é um filme para poucos mas fica conosco quando saímos do cinema porque leva a reflexões pouco convencionais.


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