quarta-feira, 19 de julho de 2017

Gatos


“Gatos”- “Kedi”, Turquia, 2016
Direção:Ceyda Torun

Istanbul, capital da Turquia, é uma cidade antiga e mágica. Debruçada sobre o mar, acolhe-o quando ele avança pelo estreito de Bósforo, que liga o Mar Negro ao de Marmara.
Já foi chamada Constantinopla e Bizâncio. Foi sede de vários impérios ao longo dos séculos. Gregos, romanos e venezianos estiveram por lá.
A cidade é dividida em duas e uma ponte movimentada liga a Europa à Ásia, nessa cidade que se estende em dois continentes.
A imagem inicial do documentário “Gatos” é uma bela visão panorâmica da cidade, vista do alto. Vemos o mar, os prédios antiguinhos, as ruas estreitas e as impressionantes Mesquita Azul e Hagia Sophia.
Mas a câmara desce e passa a se interessar por uma outra população: os gatos de rua de Istanbul.
E um dos amigos de felinos, resume numa frase o que  muitos dos habitantes da cidade acham sobre esses animais:
“- Os cachorros pensam que os humanos são Deus mas os gatos sabem que as pessoas são executoras da vontade de Deus.”
E, por essa e por outras, os gatos de rua de Istanbul não são seres abandonados. Eles andam com graça e majestade pelas ruas e telhados, no meio das pessoas. E vemos como são acariciados, mimados e bem-vindos pelos humanos que eles escolhem.
Ao longo das histórias de alguns gatos e seus guardadores, a câmara vai mostrando não só os bichanos e sua vidinha boa e livre, mas como são aqueles que dão voz a seus gatos.
A diretora Ceyda Torun, nascida em Istambul e vivendo agora nos Estados Unidos e o fotógrafo do documentário, Charlie Wuppermann, assumidos amantes de felinos, mostram um outro lado da cidade através dos gatos e das pessoas que os acolhem, alimentam, levam no veterinário, sem jamais deixar de respeitar sua privacidade. Ou seja, os gatos de Istanbul são livres para ir e vir e são recebidos com portas e janelas abertas.
“- Eles absorvem a energia negativa” diz uma dona de loja. “Me fazem bem”, acrescenta ela.
Outro, conta como se curou de uma crise de depressão quando começou a cuidar dos gatos que apareciam para ele:
“- São a minha terapia.”
Quem gosta de gatos vai adorar os “closes” dos focinhos e dos olhos sedutores e ternos, os pulos incríveis, as correrias e mesmo a braveza de alguns deles que não permitem invasões de seu território por outros gatos.
Para não falar dos gatinhos, acabados de nascer e mamando em suas mães pacientes e sempre atentas e, quando crescidinhos acompanhando a mãe nas explorações do ambiente onde vão viver.
Mesmo um pai gato aparece cuidando de uma ninhada.
Mas até quando? O documentário alerta para o perigo que ronda esses gatos, que passeiam hoje livres pelas ruas de Istambul e isso desde o Império Otomano. Istanbul cresce, as ruelas somem, prédios enormes são construídos no lugar onde existiam casas, seus velhos muros, quintais e telhados.
Feitos para a liberdade, talvez esses gatos desapareçam ou quem sabe, dada a sua esperteza, consigam sobreviver.
Porque onde os humanos não veem, existem os esconderijos secretos e os lugares impossíveis onde se acomodarão os enigmáticos felinos para meditar e velar pela sua bela cidade, como fazem desde há muito tempo.


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