sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Mercuriales


“Mercuriales”- Idem, França, 2014
Direção: Virgil Vernier

Em um mundo inseguro, perigoso, quem cuida da segurança?
Nas Mercuriales, torres gêmeas de Bagnolet, no subúrbio de Paris, vemos um rapaz negro ser admitido como vigia, sem ter nenhuma noção do que poderá ter que enfrentar. Equipamentos há muitos. Câmaras, medidas automáticas contra fogo e mal funcionamentos.
Mas ele vai ter também que enfrentar pessoas. Aquelas que procuram o terraço para se jogar ou ainda outras que buscarão atacá-lo. Sem conhecer golpes de lutas marciais, parece que o único recurso seria enfiar os dedos nos olhos do agressor. Ele é magrinho e calado. Escuta essas instruções com olhos medrosos.
Reaparece, cenas depois, como vigia de roubos no supermercado das torres e, no fim do filme, participando de uma milícia armada, com roupas de camuflagem, que patrulha os arredores das Mercuriales.
Mas ele não é o protagonista.
As duas garotas do filme são Joane (Phillipine Stindel), a francesa e Lisa (Ana Neborai), a que veio da Moldávia.
Ambas são belas, cabelos claros, lisos e longos, corpos jovens e peles perfeitas.
São tão parecidas que poderiam ser irmãs mas acabaram de se conhecer, quando foram fumar num intervalo do trabalho, no alto da torre.
“- Faz tempo que você trabalha aqui?” pergunta a recém-chegada.
“- Parecem mil anos...” responde a francesa.
Elas convivem com as pessoas que habitam aquele subúrbio, em prédios mal tratados e data para ser derrubados.
Debaixo do viaduto próximo das torres rastejam ratos e pessoas.
Esse fluxo de gente desgarrada e sem rumo, aproxima as duas moças que conversam sobre banalidades e medos quotidianos, enquanto se fazem companhia, porque Joane é babá da filha de uma negra que trabalha na noite. A menina é como uma boneca para as duas mocinhas. Vestem as roupas da mãe nela, riem muito  e as três conversam sobre fé em Deus, fim do mundo, paraíso e inferno. Tudo muito infantil e amedrontador.
Lisa perdeu de vista uma prima que desapareceu na cidade e Joane tem lembranças de um hospital psiquiátrico e medo da loucura nela.
Mas nenhuma delas se aprofunda em nada e a vida parece um dia depois do outro, sem rumo nenhum.
Lisa tem um pequeno apartamento mas dorme com Joane num colchão, no chão do quarto dela. Temem a solidão. São meninas, não mulheres.
Precisam de algo que não existe ali. E sonham com outro lugar e outro tempo.
Lisa se lembra de festas pagãs na chegada da primavera na aldeia em que morava. São imagens sexualizadas e perversas.
A francesa leva a outra para a casa do avô que já morreu. E lá elas andam ao longo do rio, tomam sol e banho de banheira juntas. Um hiato de tranquilidade mas que não dura muito.
Um dia, Lisa quer voltar para a casa dela.
E Joane fica só.
O diretor Virgil Vernier, francês de 40 anos, nos leva a perguntar: o que sonha essa juventude sem objetivos na vida?
Parecem muito frágeis. Mas a segurança de que precisam, não é a dos vigias das torres, nem a falsa sensação de segurança que conseguem com bebida, drogas e sexo fortuito.
Não sabem o que procuram...Por isso não vão encontrar.
Um filme que surpreende pela narrativa incomum e que fica propondo perguntas que não sabemos como responder.

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