domingo, 17 de maio de 2015

Um Pombo pousou num Galho refletindo sobre a Existência


“Um Pombo pousou num Galho refletindo sobre a Existência”- “En duva satt pa en green och funderade pa tillvaron”, Suécia, França, Alemanha, Noruega, 2014
Direção: Roy Andersson

O pombo aparece na primeira cena do filme. Só que está empalhado numa vitrine de uma espécie de museu de História Natural. Um homem apatetado observa o pombo e é observado por uma mulher.
O humor negro ou melhor, sardônico, do diretor sueco Roy Andersson parece beber da mesma fonte de inspiração de Samuel Beckett (1906-1989), escritor e dramaturgo irlandês, um dos mais influentes do século XX, Nobel de literatura em 1969.
Assim como em Beckett (“Esperando Godot”, “Dias Felizes”), a maioria dos personagens de Andersson são patéticos mais do que engraçados e sofrem de angústia e solidão. Há uma crítica ácida à natureza humana e sua tendência à crueldade, seja em situações terríveis como as guerras e a colonização da África, seja na amizade e nas relações familiares, como também no trato com os animais.
Em 39 quadros, Andersson mostra um sofrimento mudo ou pouco refletido do ser humano em situações de relacionamento com os outros.
Seus principais personagens, uma dupla tipo “Gordo e Magro”, quer divertir as pessoas com produtos ridículos como dentes de vampiro, saco de risadas e uma máscara grotesca de um velho. Devem dinheiro a seus fornecedores e não são pagos pelos poucos produtos que vendem. Há uma relação sado-masoquista e uma dependência perversa entre os dois, que se sentem solitários sem a presença do outro e por isso não se separam.
A morte é um tema que abre os três primeiros quadros e não há piedade nem compaixão nessa hora.
O uso do telefone celular é ridicularizado. As pessoas escutam e escutam, só murmurando sons apaziguadores e, no fim, dizem sempre a mesma frase;
“- Estou feliz em saber que você está bem.”
E vivem ligando para saber se há mensagens e escutam sempre:
“- Você não tem mensagens.”
O amor contrariado, a vida como espera de algo que nunca se encontra, o desespero mudo das pessoas bebendo sózinhas no bar ou o choro convulsivo no qual ninguém presta atenção, são situações exploradas em outros quadros.
Entretanto, há alguns momentos de descontração e felicidade num casal que acaba de fazer amor e fumam abraçados na janela, numa mãe que brinca com seu bebê, num casal jovem que se ama na praia e na dona de um bar que aceita beijos como pagamento.
E há reflexão, ainda que tardia, em um único momento. O quase desespero de um velho que, na hora em que o bar fecha, repete seguidamente:
“- Eu fui ganacioso e não generoso na minha vida toda. Por isso terminei infeliz.”
Então temos escolha, parece dizer o diretor sueco que ganhou o Leão de Ouro de Veneza 2014.
O filme é uma reflexão sobre o ser humano que, talvez, poucos vão apreciar. Afinal, para a grande maioria, infelizmente, é o “pombo” que tem que refletir sobre a existência e não eles.

Nenhum comentário:

Postar um comentário