sexta-feira, 15 de maio de 2015

A Gangue


“A Gangue”- “The Tribe”, Ucrânia, 2014
Direção: Myroslav Slaboshpytskiy

De cara, ficamos sabendo que não haverá letreiros nem vozes em “off” narrando os acontecimentos. Isso causa imediatamente uma aflição no espectador que se pergunta: mas como vou entender?
Porém, se houver um pouco de paciência e nos convencermos que não vamos entender mesmo a linguagem de sinais que os surdos-mudos ucranianos usam no filme, acontece uma experiência única.
De repente, vamos vendo pela sequência das ações, que aquilo que pensamos que estava acontecendo, é o que estava realmente acontecendo.
Como é estranho, e ao mesmo tempo surpreendente, que as ações falem mais que mil palavras. É nesse momento que mergulhamos no filme, nos identificando com o protagonista (Grigory Fesenpo) .
O garoto chega de mochila e mala numa escola para surdos-mudos. Lugar decadente, com paredes descascadas, portas de ferro enferrujadas e móveis precários.
Aparentemente, há algum interesse nas crianças e nos jovens que ali estudam, com professores também surdos- mudos. Mas, como aquele lugar é um microcosmo, em tudo igual ao mundo em que vivemos, logo aparecem os sinais, para o novato, que ele vai ter que se adequar às regras impostas pelos mais violentos.
Ele é forte, alto e é logo assediado para pertencer à gangue que comete todo tipo de crimes: roubo, prostituição infantil, contrabando. São violentos e vivem se atracando.
Em nada diferentes de jovens delinquentes de qualquer lugar do planeta.
Mas o novato é tanto capaz de ódio como de ternura. A bela loirinha (Yana Novikova) desperta nele uma paixão intensa. Ela retribui e  são muito bonitas as cenas de sexo, filmadas com bastante realismo.
Só que, num ambiente como esse, o amor é uma flor bissexta.
O diretor usou atores surdos-mudos que recrutou em um ano, a maioria pela internet.
A câmera sensível acompanha longamente o que acontece, sem cortes abruptos. O tempo é cronológico e as cenas se passam em tempo real.
Não à toa, “A Gangue” causou espanto e polêmica em Cannes no ano passado, onde ganhou a “Caméra d’Or” e o prêmio da Semana da Crítica. A violência aqui é bastante real e causa incômodo para um público acostumado com os filmes de ação corriqueiros.
“A Gangue” abala mesmo. Principalmente porque topamos com a nossa própria natureza humana em carne viva.

Nenhum comentário:

Postar um comentário