Direção: Hossein  Amini
Na mitologia greco-romana, Janus era o 
deus das duas faces: uma que olhava o passado, outra mirava o futuro. Por isso 
chamaram  janeiro o primeiro mês do 
ano.
Por uma questão de vivência, a lição 
que o passado nos trouxe, podemos empregá-la no futuro com sucesso. Janus teria 
esse papel na vida das pessoas.
Aqui, na novela de Patricia Highsmith, 
adaptada para o cinema pelo diretor iraniano Hossein Amini ,52 anos, fazendo seu 
primeiro longa, as duas faces mostram esse e também outro lado complicado  da natureza humana, a dissimulação. Ter “duas 
caras”, como dizemos.
Todos os personagens escondem algo 
nesse, aparentemente, despreocupado cenário de férias de um casal americano em 
Atenas.
Colette e Chester (Kirsten Dunst, bela 
e Viggo Mortensen, ótimo), felizes e elegantes, passeiam entre as ruinas da 
Acrópole. Como estamos nos anos 60 e eles são ricos e sofisticados, ele está de 
terno claro e chapéu panamá, ela com um vestido leve, de chapéu de palha e 
luvas.
Não parecem temer o futuro, nem olhar 
com culpa para o passado. Mas as aparências enganam.
Alíás, essa é a frase que vai dizer um 
terceiro personagem dessa trama, Rydal (Oscar Isaac), um jovem americano que é 
guia turístico, disfarce que escolheu para encobrir um drama pessoal. 
Quando Rydal se aproxima do casal, 
encantado com os dois, olhares são trocados por detrás de óculos escuros e a 
fumaça de cigarros. Existe um clima de sedução e de mistério no 
ar.
Uma trama edípica se anuncia entre 
aqueles três seres, tão longe de casa e, não por acaso, na Grécia, lugar das 
tragédias humanas vividas na antiguidade por deuses.
Quando o trio viaja para as ilhas 
gregas, os dados são lançados e eles não irão libertar-se uns dos outros, nessa 
rede de fascinação que eles mesmos teceram e que os envolve 
perigosamente.
Kirsten Dunst, como sempre boa atriz, 
com sua beleza frágil, oscila entre a menina inocente e a mulher fatal. Viggo 
Mortensen, másculo e rude, por detrás de uma aparência refinada, é o dono da 
cena. E Oscar Isaac, jovem carente de afeto, brigado com o pai, faz com graça 
juvenil o Édipo, encantado com a mãe e fascinado pelo pai que é dono dela. Os 
dois desejam Colette, cada um à sua maneira. Parecem unidos por um clima tenso 
que paira entre eles. 
O ambiente de época é recriado com 
requinte pela direção de arte e as paisagens nas ilhas de ruazinhas estreitas, 
bares no porto e bazares, são um dos atrativos desse 
filme.
“As Duas Faces de Janeiro” é um 
suspense inteligente, com uma carga psicológica marcante. E sugere que a vida é 
breve, está sempre por um fio e depende de nós mesmos para mostrar-se doce ou 
cruel.


 
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