sábado, 6 de dezembro de 2014

À Procura


“À Procura”- “The Captive”, Canadá, 2014
Direção: Atom Egoyan

Pedofilia é tabu. Assunto difícil de ser tratado num filme, sem que haja um apelo quase irresistível para mostrar imagens que chocam. Não é o caso de Atom Egoyan, diretor que consegue falar de inocência roubada com delicadeza. Em “À Procura”, há inclusive uma tentativa sincera de alertar para o problema, sem tapar o sol com a peneira.
Aquele pai desesperado (Ryan Reinolds), que deixou a filha no carro, no fim de um dia gelado nas montanhas canadenses, para vê-la desaparecer sem deixar vestígio, causa pena. Ele foi comprar uma torta para o jantar, depois de pegar Cassandra no ensaio da dupla de patinação com o  amiguinho Albert, quando o inesperado drama começa.
E pior. Ninguém acredita nele. A mãe de Cass (Mireille Enos) culpa o marido de ter abandonado a filha e a polícia desconfia dele. Seu negócio vai mal, ele está falido, não pode ter vendido a filha para gente inescrupulosa?
Participamos do calvário do pai porque somos os únicos a ver Cassandra (Alexia Fast) nas mãos de uma rede bem organizada de pedófilos na internet, que tem entre seus membros, pessoas importantes da sociedade local.
Em “flashbacks”o diretor conta a história de Cassandra, 10 anos de idade, uma bela menina loura que se transforma, 10 anos depois, em uma mocinha sem brilho, tristonha, que faz tudo que seu dono (Kevin Durand) manda fazer. Como já não interessa sexualmente, Cassandra desempenha o papel de aliciadora de novas crianças pela internet.
Vemos na tela, menos em Cassandra e mais em outra moça que trabalha para a rede de pedofilia, o que tecnicamente é conhecido como “Síndrome de Estocolmo” e que tem esse nome desde 1973, quando sequestraram funcionários de um banco na Suécia. Mantidos presos no cofre, enquanto os sequestradores conversavam com a polícia, os sequestrados passaram a mostrar simpatia por seus algozes, rejeitando inclusive o auxílio do governo,  mostrando-se mesmo ligados emocionalmente aos que os aprisionavam, defendendo-os até.
A hipótese mais aceita para esse tipo de comportamento é a entrada em cena de um mecanismo de defesa, estudado pela psicanálise, conhecido como “identificação com o agressor”. O trauma da vítima transforma-se em uma ligação emocional com o seu algoz, numa tentativa de eliminar o perigo. Colocada numa situação de total impotência, a vítima tende a transformar seu agressor na figura de uma mãe poderosa, com direito à vida e à morte, mas que poupa sua vítima. O temor extremo transforma-se em uma espécie de laço amoroso.
Em seu filme, Egoyan trata todos os personagens com a mesma dureza. Ninguém escapa. Todos ficam presos na história de Cassandra e não vivem suas vidas. O pai, a mãe e até a própria polícia, na pele da investigadora Nicole Dunlop (Rosario Dawson) e do detetive Jeff ( Scott Speedman).
Atom Egoyan, 54 anos, filho de pais armênios, nascido no Egito, vivendo no Canadá, é o diretor do brilhante “O Doce Amanhã – The Sweet Here and After”1998. Em “À Procura” não mostra o mesmo desempenho mas consegue realizar um filme interessante que faz pensar nos perigos do progresso, quando novas tecnologias são usadas por gente do mal.

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