terça-feira, 1 de julho de 2014

O Homem Duplicado



“O Homem Duplicado”- “Enemy”, Espanha/Canadá, 2013
Direção: Denis Villeneuve

Numa cidade com perfis de edifícios envoltos em uma sinistra luz amarelada, Adam Bell guia por uma rodovia.
Escuta no viva-voz o recado de sua mãe:
“- Foi bom você me mostrar seu apartamento novo. Estou preocupada com você. Vamos voltar a falar como antes?”
Ele tem um vislumbre de uma mulher grávida.
E um ritual erótico tem início: homens sentam-se numa sala onde uma mulher nua geme. Usa sómente sandálias de salto alto.
Outra mulher entra, vestindo um “peignoir” branco. Uma travessa de prata com tampa é colocada no pequeno palco, centro dos olhares masculinos. Uma aranha negra escapa quando a travessa é aberta. O salto da sandália da mulher aproxima-se perigosamente da aranha.
Sonho? Metáforas? Alucinação? Não sabemos.
O tímido professor Adam Bell (Jake Gyllenhaal), na sala de aula, discorre sobre ditaduras e suas formas de controle:
“- Umas, como na Roma antiga, davam pão e circo para o povo. Outras exercem o controle através do baixo nível de educação, censura às informações e limitação de acesso à cultura. É importante que percebam que esse é um padrão que se repete ao longo da História.”
E a vida do professor também tem um padrão que se repete com monotonia. De casa para a universidade, de novo para casa e a namorada que chega. Transam sem emoção e Mary (Mélanie Laurent) se vai:
“- Ligo pra você amanhã.”
Tudo debaixo daquela luz estranhamente amarelada que borra todos os contornos. Há um clima sufocante, que oprime a cidade e as pessoas.
Logo vai instalar-se claramente uma paranoia na mente de Adam, que fica obcecado com seu duplo. Um homem idêntico a ele aparece de passagem num filme que foi sugerido para ele ver.
Denis Villeneuve ( “Os Suspeitos”2013 e “Incendios” 2010),o diretor e Javier Guillón, o roteirista, tentaram passar ao espectador as emoções que sentiram ao ler o livro do escritor português José Saramago (1922-2010), já que a única condição que ele impôs, foi que o filme fosse uma adaptação totalmente livre do livro.
E o espectador terá que responder às perguntas que o filme provoca. O professor Adam Bell está louco? Procura na cidade as confirmações de suas alucinações e acredita nelas? O duplo de Adam, o ator Anthony Saint- Claire existe?
Tudo indica que a leitura à luz da paranoia esquizofrênica de uma mente dividida, explica melhor os acontecimentos.
E a aranha que paira pela cidade e assusta Adam em seus sonhos?
Talvez perguntar à obra da falecida artista plástica francesa Louise Bourgeois (1911-2010), que plantou enormes aranhas negras pelo mundo a fora?  Simbolo do feminino proibido e exaltado (a obra chamou-se “Maman”), ela assusta Adam, que se perturba com a gravidez da mulher dele como Anthony, Helen (Sarah Gadon) e tem que transar com outra, a namorada Mary, para se proteger?
Quem sabe?
Isabella Rossellini, numa ponta importante, pode ser o centro dos problemas do filho.
“O Homem Duplicado” é um filme para quem gosta de pensar em como a mente humana pode deixar-se levar por defesas perigosas para controlar aquilo que não quer ou acredita não poder viver.
 

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