terça-feira, 21 de maio de 2013

Terapia de Risco

“Terapia de Risco”- “Side Effects” Estados Unidos, 2013
Direção: Steven Soderbergh

Ela parece tão frágil, ao lado do marido, naquela sala de visitas na prisão onde ele estava cumprindo pena por crime de “colarinho branco”. Ele, um homem grande, afetuoso, que abraça ela e a mãe dele com gosto, no dia de sua libertação.
Tudo fazia crer que aqueles dois poderiam retomar a vida boa de antes. Era só uma questão de tempo.
Mas a vemos cada vez mais triste, mais longínqua, fora do mundo. Uma avezinha com a asa quebrada. E seu olhar era de medo, ansiedade por não conseguir nem retomar a vida social com os amigos do marido.
No banheiro da festa, chorando, ouve de sua amiga que também ela sofrera de períodos de depressão na vida e que um remédio a tinha salvado. O mesmo lhe diz sua chefe.
E Emily vai atrás dessa solução, depois de ir parar no hospital porque não freara frente um muro na garagem do prédio. Antes, acelerara.
O médico simpático que a atendeu, concordou em não interná-la, passando a atendê-la no consultório.
Sabemos como o termo “depressão” virou coisa comum hoje em dia. A antiga tristeza cedeu vez a essa doença. E, na cultura competitiva em que vivemos, onde todos querem se realizar e ser felizes, essa “doença” se espalha. Ninguém tolera frustração, perdas, não atingir metas sonhadas. E aquela pílula parece que faz tão bem...
“- Faz você se sentir você mesmo, no auge de suas potencialidades”, dizem os que a usaram e mesmo os psiquiatras. E a propaganda corre de boca em boca.
Só que ninguém está preparado para os efeitos colaterais, “side effects” do titulo original. Nossa sociedade adoeceu e a pior coisa que nos acontece não é essa “depressão”, novo nome da velha tristeza.
A ambição de grupos vai de encontro às pessoas que se vendem, com desculpas de que estão, por exemplo, fazendo pesquisa. No campo da medicina, é comum os grandes laboratórios financiarem os médicos que aceitam comprovar os benefícios de drogas novas no mercado ou até ampliar o uso de remédios indicados a casos especiais. Sem saber o que fazem. Essa é uma denúncia importante que “Terapia de Risco” tem a coragem de fazer.
O filme de Steven Soderbergh é um “thriller” muito inteligente. Trata de efeitos colaterais no sentido específico do termo e também num sentido mais amplo. Porque o ser humano, infelizmente, tem falhas que nenhum remédio pode curar.
Falar algo mais sobre o enredo de Scott Z. Burns é fazer o filme perder a graça.
Steven Soderbergh reuniu nomes famosos e talentosos como os de Rooney Mara, Jude Law, Catherine Zeta-Jones, Channing Tatum e contou uma boa história que prende o espectador e o faz pensar.
O que mais se pode pedir de um bom filme? Tomara que a anunciada aposentadoria do mestre Soderbergh seja apenas um boato.

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