sábado, 24 de novembro de 2012

E Agora, Onde Vamos?



“E Agora, Onde Vamos?”- “Et Maintenant, Où Va T-On?” França/Egito/Libano/Itália, 2011
Direção: Nadine Labaki

Ouve-se o vento do deserto.
O que fazem aquelas mulheres de preto, rostos graves, umas com véus, outras com cruzes, andando juntas numa coreografia de uma dança sem alegria?
Vão ao cemitério, dividido em dois, a cruz e a crescente, onde se lembram de seus pais, maridos e filhos mortos.
Uma voz feminina diz:
“- A história que vou contar é para quem quiser ouvir. É a história de um povo isolado, cercado por minas, de duas guerras, sozinho entre o céu e a terra, de dois clãs com o coração ferido, as mãos manchadas de sangue, em nome da cruz e da meia lua. De um povo que escolheu a paz. De mulheres vestidas de preto, seus olhos maquiados com cinzas. Quis o destino fazer da coragem delas a sua virtude.”
As casas de cristãos e muçulmanos, na mesma aldeia, se enlaçam com fitas.
E o amor pode até acontecer na fantasia da bela Amale (Nadine Labaki) e do viril Rabih (Julian Fahrat), revelado pelos olhares furtivos trocados entre eles na vida real, envolvidos em uma dança sensual na imaginação.
Mas, como é natural, o ódio também se revela, quando chegam notícias de incidentes entre cristãos e muçulmanos no país.
E, quando a única televisão que existe é tirada de seu esconderijo na casa do prefeito, o noticiário se encarrega de alimentar as desavenças adormecidas.
As mulheres se entreolham e percebem que precisam agir para que seus homens esqueçam a loucura da guerra religiosa. Afinal, elas mantém a paz na aldeia às custas de queimar jornais, sabotar acesso ao rádio e à televisão e esconder as armas.
À noite, fios são cortados e a televisão já não é mais um perigo.
Mas o ódio acordou no coração dos homens e, embora tanto o padre quanto o imã tentem dissuadir, cada qual o seu povo, na igreja e na mesquita, escaramuças acontecem.
As cabras silenciosas observam as mulheres preocupadas.
“- Será preciso um milagre para acalmá-los”, diz uma delas em suas reuniões ecumênicas.
E fazem o milagre acontecer mas não resolve.
É então que a ideia-mãe brilha nas cabeças femininas. Sexo sempre distrai os homens. Principalmente quando é novidade, veste roupas justas e saltos altos em pernas longas.
Sério e divertido, inspirado e comovente, “E Agora Onde Vamos?”, tem música original de Khaled Mouzanar, marido da diretora, que é muito bem usada para ajudar a contar a história e introduzir tanto o humor quanto a tristeza.
Os atores, excelentes e a diretora que também atua, são coadjuvados por habitantes de dois vilarejos do Libano, que avivam a cor local.
O segundo longa da bela Nadine Labaki de 38 anos, (o primeiro foi o festejado “Caramelo” de 2007) é uma fábula sobre o poder do matriarcado, cuja guerra é sem rancor e para proteger aqueles que elas amam.
A diretora, que também ajudou no roteiro, dedica seu filme “às nossas mães”. Àquelas que nos deram a vida.
O bem mais sagrado.
“E Agora, Onde Vamos?” é um filme original, com uma contundência envolvida em charme.


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