quinta-feira, 20 de setembro de 2012

My Way - O Mito Além da Música

“My Way – O Mito Além da Música”- “Cloclo”, França/Bélgica 2012
Direção: Florent-Emilio Siri


Nas primeiras imagens do filme, vemos o semblante iluminado de um menino louro:
“- Claude, meu lindo!”
É o pai que chega, saindo de um conversível branco. Logo o vemos no espelho, disfarçando as olheiras com pó e se perfumando. Quando desce à sala, onde a mulher joga com as amigas, ele flerta com a mais bonita.
A vida, no Egito, corre bem para Aimé François, casado com uma italiana, mãe superprotetora e egoísta, de seus dois filhos, Cloclo, apelido de Claude de 10 anos e Jojo, a mais velha, Josette.
Mas dez anos depois, em 1959, com a chegada do líder nacionalista Nasser ao poder, a família estrangeira tem que sair do país e fugir para Montecarlo, na Europa.
Lá, o garoto Cloclo vai ser expulso de casa pelo pai autoritário que o quer violinista e não bateirista em uma banda qualquer, como ele começou a vida.
E assim vai a luta de Claude François para se impor como cantor popular na França.
Magistralmente interpretado pelo ator belga Jéremie Renier, “My Way” vai contar a história de um garoto baixo, nada bonito, apesar do nariz operado, que, com perseverança, consegue realizar seu sonho.
Foi uma vida voltada inteiramente para o seu projeto narcísico de brilhar no palco.
Autoritário como o pai, vaidoso também como ele, Cloclo enfrenta, sem alegria, três casamentos e dois filhos e parece que nunca foi feliz. A não ser no palco, onde se comunicava com o seu público, na maioria garotas que ele fascinava para maltratar depois, levado por seu complexo de inferioridade, que ele disfarçava com toques de histeria, desmaiando ou jogando-se sobre as fãs que enchiam os teatros onde se apresentava.
O diretor Florent-Emilio Siri consegue prender o espectador com a historia do “rockstar” mas se estende demais, numa obsessividade com os detalhes, que era também a característica da personalidade de Cloclo.
Aquele que escreveu a letra e cantou em francês o sucesso “Comme d’habitude”, teve sua canção vertida para o inglês por ninguém menos que Paul Anka, que a deu para Frank Sinatra gravar. Foi um grande sucesso internacional do cantor americano mas que só rendeu um “alô” para Cloclo quando se encontraram no lobby de um hotel.
Claude François morreu antes de completar 40 anos, vítima fatal de um acidente doméstico decorrente de sua obsessão por arrumação, já que o equilíbrio interno parecia perdido desde que seu pai morrera sem o aceitar de volta.
Sua vida foi uma vingança contra aquele que ele queria que o amasse para sempre? O filme sugere que isso o marcou profundamente, até mesmo em suas escolhas sexuais.
A reprodução da época é brilhante, a fotografia faz pensar num filme dos anos 60 e 70 e as músicas são na sua maioria versões de sucessos americanos.
Quem assistir ao filme vai lembrar-se de Cloclo quando ouvir “My Way” nas muitas gravações dessa canção.
De certa forma, o patético personagem foi vingado.


Nenhum comentário:

Postar um comentário