quarta-feira, 18 de julho de 2012

Além da Liberdade









“Além da Liberdade”- “The Lady” França / Inglaterra, 2010
Direção: Luc Besson


A primeira imagem do filme já é comovente. Uma menina pequena, sentada no colo do pai, pede que ele lhe conte uma história.
“- Posso contar uma de quando a Birmânia era chamada de País do Ouro.”
Ela se aconchega. Eles estão num jardim, à sombra de palmeiras, à beira de um lago.
“- Era uma vez um lindo país onde havia florestas de ébano e teca por toda a parte. Naquele tempo, tigres vagavam nas selvas e manadas de elefantes caminhavam nas planícies. Havia muita riqueza nesse país. Safiras azuis e rubis vermelhos... Mas essa é uma história triste porque vieram soldados de um país distante e tiraram tudo de nós. Ficamos muito pobres...”, finaliza, levantando a filha e pousando-a na grama do jardim.
Colhe uma flor e com ela enfeita o cabelo da menina, que o olha encantada.
Vestido em seu uniforme do exército, vira-se e dá um adeus, antes de entrar no carro.
Foi a última vez que ela viu o pai, em Ragum, na Birmânia, onde moravam. Ela tinha dois anos de idade.
Assim começa a história verdadeira de Aung San Suu Kyi,que muito cedo perdeu o pai, herói nacional na luta pela independência do país, colonizado pelos ingleses.
No golpe militar de 1962, instalou-se na Birmânia (hoje Mianmar), um governo de generais, conhecido como um dos mais cruéis e repressivos do mundo.
Michelle Yeoh faz, com elegância e sobriedade, o papel dessa mulher que vai viver fora de seu país, casa-se na Inglaterra, tem dois filhos e que, por causa da doença de sua mãe, volta e se vê compelida a abraçar a causa de seu povo, vítima da tirania.
Ela lidera, então, uma luta de resistência pacifica contra o governo brutal de seu país, discursando em comícios, com sinceridade e firmeza, para uma população que a venera e levanta retratos de seu pai.
Carismática, ela defendeu eleições democráticas, enfrentando ameaças terríveis, prisão domiciliar por mais de 15 anos, afastamento do marido (o ótimo David Thewlis) e dos filhos, que ela viu poucas vezes em todos esses anos, impedidos pela não concessão de vistos pelos generais, que queriam forçá-la a deixar o país.
Magrinha, voz suave e firme, rosto bonito, franja, cabelos sempre presos num coque baixo, enfeitados com as orquídeas do jardim, usando a saia longa e blusa do traje local, ninguém adivinharia a força e a tenacidade que a distinguiam, não importa o que acontecesse.
A revista Time colocou-a na capa, chamando-a de “Orquídea de Aço” quando em 1991, seus filhos e marido receberam por ela o prêmio Nobel da Paz.
O filme de Luc Besson é quase austero de tão simples. O roteiro de Rebecca Frayn conta a história sem malabarismos.
Alguns críticos reclamaram que o filme dá muita ênfase ao casamento e vida doméstica de Suu Kyi. Pode-se responder dizendo que, assim fazendo, a roteirista mostrou o tamanho da renúncia afetiva da líder birmanesa em prol da causa de seu país.
De qualquer modo, o diretor Besson oferece a tela a Aung San Suu Kyi e à sua mensagem em defesa da democracia ao mundo.
Recentemente, aos 67 anos, ela foi empossada como membro do Parlamento e fez sua primeira viagem internacional desde 1988, sendo recebida com honras por chefes de estado.
Só por nos mostrar a existência dessa mulher valente, o filme de Luc Besson vale a pena ser visto.
“A Dama de Yanoun”, como Suu Yi é também chamada, emociona e ensina a todos o quanto vale lutar por um sonho em que se acredita.


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