terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Albert Nobbs



“Albert Nobbs”- Idem, Inglaterra, Irlanda 2011

Direção: Rodrigo Garcia



Uma nuca muito branca num colarinho alto. Uma mão pequena ajeita o cabelo ruivo.

De costas, assim somos apresentados a Albert Nobbs, o garçom de um pequeno hotel em Dublin, no fim do século XIX.

E, quando o vemos trabalhando, com gestos precisos e corpo rígido, nos damos conta com surpresa de que “ele” é Glenn Close.

Rosto branco qual máscara imóvel, onde só os olhos se mexem amedrontados, Albert Nobbs é o novo papel que trouxe de volta Glenn Close aos holofotes.

Indicada cinco vezes ao Oscar nos anos 80, essa atriz extraordinária reaparece, 22 anos depois de sua última indicação a melhor atriz. E no papel que fez com sucesso no teatro em 1982, na peça baseada num conto do escritor irlandês George Moore (1852-1933) e pelo qual ela se apaixonou.

Levou tempo mas Glenn Close conseguiu fazer o filme que queria tanto fazer. Para esse filme sair do papel, ela produziu, escreveu o roteiro com John Banville, colocou a letra na canção, “Lay your head down”, com música de Brian Byrne e chamou Rodrigo Garcia, filho do grande escritor Gabriel Garcia Marques, para dirigir.

“Albert Nobbs” conta com uma direção de arte impecável que nos faz viajar aos últimos anos do século XIX, ao hotel da sra Baker (Pauline Collins).

Na Irlanda da passagem do século XIX para o XX, a pobreza era extrema e mulheres se vestiam de homem para conseguir um emprego.

As relações entre os empregados do hotel é que serão foco do filme: Nobbs, o garçom, Helen Dawes (Mia Wasiskowa, a “Alice”de Tim Robbins), a bela garçonete, Hubert Page, o faz-tudo (Janet McTeer, a surpresa do filme, indicada para melhor atriz coadjuvante no Oscar) e o galã vivido por Aaron Johnson.

Mas tudo gira em torno a Albert Nobbs, um personagem singular.

“- Recriar o interior de uma pessoa tão silenciosa”, foi o que mais fascinou Glenn Close para fazer o personagem.

O atencioso garçom que trabalha há 17 anos no hotelzinho e que vive essa farsa quanto à sua verdadeira identidade, só pensa em economizar dinheiro para abrir um negócio próprio, uma tabacaria.

De noite, antes de dormir, olha com ternura um retrato onde está escrito “Mãe”, para voltar a guardá-lo nas páginas da Biblia. Santificada, essa mulher vai inspirar os sonhos infantis de Nobbs sobre uma tabacaria com uma sala nos fundos, um lar maternal, quente e acolhedor.

Mas de dia, ele é a personificação do medo. Defende dentro de si uma menina abusada, reprimida pelo disfarce de Albert Nobbs.

A história é comovente e ao mesmo tempo angustiante, assim como é Albert Nobbs, “uma pessoa inacabada”, como diz Glenn Close numa entrevista ao New York Times.

Ela está soberba vivendo esse personagem preso numa teia de mentiras que ele mesmo criou e que o aprisiona.

Retrato de um ser humano determinado a sobreviver, Albert Nobbs pode ser o passaporte para o seu tão merecido Oscar.

Se não acontecer, não importa. Guardaremos sua imagem em nossos corações, tocados pela tristeza e desamparo, tão bem vividos na tela por essa atriz sublime.




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