sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Precisamos Falar Sobre Kevin



“Precisamos Falar Sobre Kevin”- “We Need to Talk About Kevin”, Estados Unidos, 2011

Direção : Lynne Ramsay



Choque. Na tela, a câmara se aproxima por cima, de uma cena que nos parece, ao mesmo tempo, sensual e macabra. Orgia de sangue? Sacrifícios humanos? Uma moça é levantada por mãos anônimas e é jogada num líquido vermelho que tinge a todos na cena.

Mas não é o que parece.

E quando nosso coração se acalma e estamos esperando ver uma madona com sua criança, o que vem é um novo susto.

Uma alma penada arrasta o carrinho de um bebê que não pára de chorar.

Atordoada, procura as britadeiras, que furam com estrépito as entranhas da cidade, para no meio delas não escutar os gritos que não cessam.

O que pode ser mais aterrador para uma mãe do que um bebê que ela não pode ou não consegue acalmar?

Há algo muito estranho nessa dupla. Mas por que?

Quando o pai chega e pega o filho tranquilo nos braços, a mãe suada e jogada no sofá, balbucia:

“- Não faça isso... Acabei de conseguir colocá-lo para dormir... Não parou de chorar o dia inteiro...”

Estranhamente não há choro com o pai.

E a nossa primeira impressão é de que aquela mãe é no mínimo muito pouco maternal. Em nossas fantasias idealizadas só existem mães que amam os seus bebês, que as preferem a tudo no mundo. No escuro do inconsciente há o reverso da medalha, mas não queremos pensar nisso...

Como no início do filme, nada é o que parece ser.

Naquela dupla, existe a repulsa, o amor aparece como medo e tortura e nos encolhemos quando vemos, com o passar dos anos, o quanto aquela mãe vai sofrer.

Ela é Eva, interpretada com brilho por essa magnífica atriz, Tilda Swinton.

Aliás, “Precisamos Falar Sobre Kevin” é a injustiça maior do Oscar desse ano. Não indicar para o prêmio essa atriz que não tem medo de nenhum papel e cuja entrega a eles é sempre total, é o cúmulo da falta de sensibilidade dos membros da Academia.

E por que excluir das indicações o jovem Ezra Miller que faz o psicopata Kevin com perfeição?

Para não falar também de John C. Reilly, o pai, contraponto essencial que faz tudo ser tão impressionante nesse filme?

Grandes atores. Talentosa diretora, a escocesa Lynne Ramsay, premiada em Cannes por seus curtas “Small Deaths” e “Kill the Day”.

Pesadelo que não se perde em explicações indisponíveis,“Precisamos Falar Sobre Kevin” merece ser visto por quem gosta de um cinema de nível excepcional.



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