domingo, 14 de agosto de 2011

Um Sonho de Amor





“Um Sonho de Amor”- “Io Sono l’Amore”, Itália, 2009
Direção: Luca Guadagnino





Os letreiros são à moda antiga e as primeiras imagens mostram Milão sob a neve.

A fachada de uma vila que parece um palácio enche a tela.

Um alto pórtico de madeira e cristal permite que a luz e o olhar devassem o ambiente de entrada.



Na cozinha, a criadagem e a patroa Emma (Tilda Swinton) lustram a prataria.

Um jantar de aniversário para o patriarca da família está sendo montado na casa de seu filho Tancredi, casado com Emma, que depois da prataria, faz o “placement” dos convidados. São dezesseis na mesa ovalada onde brilham cristais, velas e porcelanas.

Naquela noite, Edoardo Recchi (Gabriele Ferzetti, 86 anos) vai anunciar seu sucessor na indústria têxtil que leva o nome e a tradição da família:

“- A empresa Recchi vai permanecer para sempre. Mas chegou o momento de eu me retirar e designar meu sucessor.”

Vira-se para o filho:

“- Decidi deixar tudo em suas mãos, Tancredi e nas de seu filho Edoardo. Porque serão necessários dois homens para me substituir.”

Emma beija as mãos do sogro, agradecida.

Após o brinde, deixam a mesa e passam ao living da casa.

Madeiras nobres, janelas amplas com cortinas de tecidos pesados, objetos preciosos, quadros de mestres e um jardim de cactus aos pés da escadaria majestosa, com painéis de rádica, adornam os ambientes da casa palaciana que exibe, assim, um luxo com estilo.

Mas alguém chega inesperadamente. É Antonio (Edoardo Gabriellini), amigo de Edoardo, primogênito de Emma e Tancredi. Traz uma torta que fez especialmente para a mãe do amigo. Juntos querem abrir um restaurante.

“- Mamma! Apresento-lhe Antonio.”

É a primeira vez que se cruzam.

Quando Emma entrevê a partida de Antonio pela janela de seu quarto, sentimos que algo está para acontecer.

“Um Sonho de Amor” é a história de um romance. Mas, mais que isso, mostra como o amor pode levar alguém a descobrir-se.

Ao longo do filme, ficamos sabendo que Emma foi trazida da Rússia por Tancredi que, menos que uma esposa, precisava de um adorno que funcionasse perfeitamente na engrenagem da casa dele. Chamou-a Emma, desconsiderando seu nome verdadeiro e disse para a mãe Allegra (Marisa Berenson, ainda bela):

“- Mamma! Vou me casar com uma mulher mais bonita que você! “

Écos de um Édipo antigo ressoam ainda na geração dos filhos de Tancredi: Edoardo é apegado à mãe e prefere a companhia do amigo Antonio à da noiva. Elizabetta, a filha, busca uma identidade sexual.

E é através deles, jovens e bem nascidos, que Emma vai sentir o primeiro impacto do amor. Sua imagem pensativa entre os adornos do teto do Duomo de Milão, depois de uma conversa com a filha, mostra que algo está mudando nela.

Luca Guadagnino, diretor e co-roteirista do filme lembra a estética de Visconti quando retrata o “way of life” dos personagens da família. Cenários e figurinos elegantes formam um todo harmonioso.

Mas as cenas filmadas em Milão na Villa Necchi Campiglio, construída em 1930, além de passar uma idéia de bom gosto, mostram também como aquela casa presta-se a parecer “um palácio que é metade museu, metade prisão”, nas palavras de Tilda Swinton.

E é Emma que vai concentrar em si, a imagem de toda uma sensualidade nascente, que a câmara de Guadagnino vai mostrar com perfeição. Tilda Swinton, com seu rosto expressivo, vestida de vermelho, tem a luz focada em cima dela. Mais precisamente, em sua boca deliciada, que mastiga e saboreia o prato feito por Antonio com um prazer quase erótico.

Transportada para um outro mundo, o sabor dos camarões descortinam para Emma tudo que palpita e quer viver em suas entranhas.

Uma tragédia vai apressar o tempo e o destino dos personagens.

E nós, na platéia ficamos silentes. Compreendemos aquilo que já sabíamos: o amor é uma força poderosa que dá coragem e ensina o ser humano a mudar o rumo, ou melhor, a encontrar o rumo para a sua vida.


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