quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Museu




“Museu”- “Museo”, México, 2018
Direção: Alonzo Ruizpalacios

Um roubo deixa o México estarrecido. Levaram 140 peças da cultura Maia que estavam expostas no Museu Arqueológico da Cidade do México, na véspera de Natal de 1985. Quem terá tido essa audácia, perguntam-se os mexicanos. Certamente criminosos internacionais especializados em roubos de arte.
Nós, na plateia, sabemos quem foi e estamos surpresos de como aqueles dois amigos, estudantes de veterinária, Juan (Gael Garcia Bernal, ótimo) e Benjamin Wilson (Leonardo Ortizagris), conseguiram tal feito, com tanta facilidade.
O narrador, que é o cúmplice de Juan, comenta no começo do filme que o amigo sempre dizia que não acreditava no que lia nos livros de História. Como saber se aquilo que está contado lá é verdade? Porque só a pessoa que viveu aquele fato é que poderia saber. E às vezes, nem mesmo essa pessoa sabe, acrescenta o narrador.
E, como somos avisados que o que vamos ver no filme “Museu” é uma réplica da história original, entendemos que o centro principal aqui não é o roubo mas as motivações dos jovens que o cometeram e suas consequências.
Os dois moravam em Cidade Satélite, subúrbio de Cidade do México, ambos de classe média, vivendo ainda com a família. Benjamin tinha que cuidar do pai, doente terminal. E Juan era de uma família grande com pai e mãe, tios e tias e irmãs mais velhas, casadas e com filhos. Não era levado em consideração por ninguém na família. Era um tipo perdido que não conseguia terminar sua tese da faculdade para receber o diploma. Não se esperava nada dele.
Talvez então fizeram o que fizeram para ser alguém? Ou era só o dinheiro que esperavam conseguir com a venda das peças o que mais importava? Não sabemos. Uma coisa é certa. O cérebro do roubo era Juan. Benjamin seguia o amigo.
Os dois davam a impressão de não pensar no que iria acontecer depois do roubo. Aliás, são cenas belíssimas, filmadas em total silêncio, no museu às escuras, iluminado apenas com as lanternas da dupla.
Duas cenas somente fazem pensar em algo como remorso ou culpa na mente de Juan: a alucinação com o rei Pacal bloqueando o caminho da fuga do museu e um sonho com o pai em silêncio olhando sério para ele.
Mas os dois vão ter que cair na real. Quem no mundo seria tolo o bastante para comprar o tesouro que haviam roubado? Eram peças extraordinárias, históricas, de preço incalculável. E mais: todo o México procurava as peças roubadas. O que estava enrolado em camisetas nas mochilas deles era ao mesmo tempo um tesouro precioso e invendável.
Irônico e infeliz plano na cabeça de jovens que não sabiam que a cultura vale mais que o dinheiro.
O roteiro de Alonso Ruizpalacios, o diretor e Manuel Alcalá ganhou o Urso de Prata de melhor roteiro no Festival de Berlim 2018.


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