domingo, 2 de setembro de 2018

As Herdeiras




“As Herdeiras”- “Las Herederas”, Paraguai, Alemanha, Brasil, Uruguai, Noruega, França, 2018
Direção: Marcelo Martinessi

A sutileza, a timidez, a dependência e a quase invisibilidade eram características do mundo de Chela (Ana Brun) que mantinha uma relação íntima com Chiquita (Margarita Irun), que é mais independente, mais segura e que tomava conta de tudo na casa onde Ana nascera e na qual viviam juntas há 30 anos.
As duas pertenciam a uma elite da cidade de Assunção, Paraguai e conheceram a riqueza. Mas agora era a decadência que lá se instalava.
“As Herdeiras” vai contar a história dessas duas mulheres naquela idade que não se sabe direito se são cinquenta e tantos ou sessenta e poucos. E nesse período da vida é difícil aceitar mudanças. Então elas são obrigadas a receber pessoas interessadas em comprar o que resta do fausto de uma época. Os cristais, a prataria, quadros e móveis, tudo está à venda.
Chela e Chiquita são ajudadas pela amiga Carmela (Alicia Guerra) a lidar com todo tipo de gente, que vasculha a casa e pechincha o preço.
A nova empregada Pati (Nilda Gonzalez) é analfabeta mas gentil com as patroas e firme com os possíveis compradores das riquezas que restaram.
Mas não adianta. As dívidas com o banco levam Chiquita à prisão. Chela vai ficar só.
E quando isso acontece, ela não consegue dormir. A ausência da companheira vai mexer com medos profundos. Parece uma criança perdida, tal a imobilidade perante o mundo. Só consegue pintar seus quadros e não sai de casa.
Visita Chiquita na prisão mas a balbúrdia e o vozerio das mulheres a atordoam.
E, contra todas as previsões, aos poucos, essa mulher vai mudar. Mas será algo que acontece dentro dela, no poço profundo de seus sentimentos, escondidos até de si mesma.
O tempo da prisão de Chiquita vai ser o de libertação para Chela, que aprende a dar passos no mundo, muito instigada a isso pela vizinha que pede que a leve ao jogo diário com as amigas. Conduzindo o velho Mercedes, leva as senhoras para casa.
Tímida e orgulhosa no início, depois aceita que paguem pelos seus serviços.
E a juventude de Angy (Ana Ivanova), uma moça que ele fica conhecendo, vai abrir outras portas trancadas em Chela. Seus olhos azuis se iluminam, o espelho mostra uma mulher ainda bela e o futuro dirá o que pode acontecer.
O filme ganhou o Urso de Prata de melhor atriz para Ana Brun e de melhor direção para Marcelo Martinessi no Festival de Berlim. Além disso, “As Herdeiras” ganhou 20
prêmios nos festivais pelo mundo e aqui em Gramado ganhou o prêmio de melhor filme do júri popular, melhor roteiro para Marcelo Martinessi e melhores atrizes para Ana Brun, Margarita Irun e Ana Ivanova.
Um filme delicado, que não quer polêmica mas mostrar que o mundo feminino tradicional está mudando em toda a parte.


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