segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Bom Comportamento


“Bom Comportamento”- “Good Time”, Estados Unidos, 2017
Direção: Joshua e Benny Safdie

Esquece a Nova York dos turistas. Esquece também aquelas pessoas correndo para o trabalho. Esquece até dos latinos ilegais. Porque nesse filme estamos numa parte da cidade, o Queens, que pouca gente que conhecemos visitou.
Foi lá que nasceram os irmãos Safdie, numa família judia. Foi o pai deles, que trabalhou naquela rua dos diamantários e levou a família para Manhattan, que os incentivou a fazer cinema. Estudaram na Boston University.
Muito diferente é a história dos irmãos Connie e Nick Nikas que vão viver uma aventura infernal no Queens, um labirinto sem saída, em “Bom Comportamento”, que caiu no agrado da crítica internacional quando participou da competição para a Palma de Ouro no Festival de Cannes desse ano.
Tudo começa num hospital psiquiátrico onde Nick é testado por um psicólogo, mostrando uma desconexão importante com a realidade, total falta de compreensão de situações simples e um universo afetivo de tonalidade paranoica.
Connie tira o irmão do consultório, mas não porque quer ajudá-lo. É porque precisa dele, grande e forte, para levar avante uma ideia louca de roubar um banco.
Começa então a cascata de erros que vai desnortear tanto Connie (Robert Pattinson, excelente no papel) quanto o espectador, perdido em espaços claustrofóbicos, iluminados com luzes surreais, onde a confusão mental de Connie é igual ou até maior que a do irmão, que é preso logo depois do assalto ao banco e é surrado na cela da prisão.
Desesperado de culpa para obter o dinheiro da fiança do irmão, Connie vai se afundando cada vez mais num pântano de areias movediças.
Personagem autodestrutivo, impulsivo, assustado, Connie tenta acertar mas como não entende os códigos de sobrevivência vigentes, erra cada vez mais.
A plateia entra em contato íntimo com uma mente confusa, espelhada nos olhos vidrados de Connie/Pattinson, drogado e sem dormir.
A música composta para o filme pelo DJ Oneohtrix Point Never é incessante, estridente e totalmente adequada a essa viagem alucinante e frenética.
E eu e muita gente que vê esse filme se pergunta se não seria vital que revessemos nosso modo de educar essas crianças de maneira que fosse atraente tornar-se produtivo para a comunidade onde vivem. Afinal ninguém quer ser bandido desde o dia em que nasce. Mas com famílias disfuncionais ou inexistentes quantos jovens tem esse mesmo destino trágico dos irmãos Nikas?
Os irmãos Safdie, que fizeram esse filme perfeito e criativo, parecem perguntar para nós justamente isso: o que foi que aconteceu com essas pessoas jovens e já sem futuro?


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