segunda-feira, 29 de junho de 2015

Minha Querida Dama


“Minha Querida Dama”- “My Old Lady” , Estados Unidos, França, 2014
Direção: Israel Horovitz

Um americano em Paris. Procura um endereço andando pelas ruas do Marais, bairro tradicional da cidade.
Entra no pátio de um “hotel particulier”, bate numa porta azul e entra, porque está aberta. Vasculha o apartamento, como se fosse o dono e se depara com uma velha senhora deitada numa “chaise longue”.
Ele dirige-se a ela num francês sofrível mas ela responde em inglês:
“- Você é Mathias?O advogado falou que você vinha.”
“- Herdei esse apartamento de meu pai.”
“- Sou Mathilde Girard”, apresenta-se ela.
“- A senhora poderia me mostrar o apartamento?”
“- Claro. Passemos ao “salon d’hiver”, por aqui” e ela o conduz a uma sala luminosa cuja grande janela mostra um belo jardim.
“- Esse jardim no meio de Paris deve valer uma fortuna!”
Ele senta-se ao piano e dedilha as teclas.
“- Você se parece muito com seu pai.”
“- Você conheceu meu pai? Ele comprou o seu apartamento?”
E é nesse momento que o sonho de Mathias Gold, de vender o apartamento e sair do buraco financeiro em que estava metido, desmorona. Ele fica sabendo pela velha senhora que havia herdado um “viager”, ou seja, uma maneira da lei francesa permitir que alguém compre um imóvel, mais barato, com um inquilino dentro, por toda sua vida. Além disso compromete-se a pagar-lhe uma quantia por mês, até sua morte.
“- Seu pai comprou esse apartamento há 43 anos atrás.”
“- Era a minha última esperança...Ele me pegou de novo!” diz com raiva.
E assim começa a convivência forçada de um trio formado pelo americano de 57 anos, três divórcios e problemas com a bebida, a senhora de 92 anos e sua filha, Chloé, solteirona de 50 anos, professora de inglês e amante de um homem casado.
Israel Horovitz, 75 anos, autor de 70 peças teatrais, escreveu “My Old Lady”, levou-a ao palco, fez a adaptação para o cinema e dirigiu o filme.
O que começa divertido, vai ficando mais pesado quando o passado sobe à tona. Mathias e Chloé são lamurientos e culpam seus pais por tudo que não acontecera de bom na vida deles. Muito parecidos. E, portanto, com vocação para casal.
Mas Mathias é o mais complicado dos dois. Além do pai ausente e que não o valorizava, sempre segundo ele, descobrimos com horror que sua mãe ainda fora mais cruel que o pai, como toda pessoa que se acha vítima acha-se no direito de tratar os outros.
Mas crianças traumatizadas tem que fazer escolhas na vida quando crescem. E é a partir de uma catarse que Mathias entende finalmente que precisa viver seus dias, que ainda restam, saindo dessa sombra dos pais sombrios.
Kevin Kline está soberbo. Faz rir com seu humor ácido e comove quando encara de frente sua tragédia pessoal.
Kristin Scott-Thomas também caminha para um final melhor resolvido, graças ao espelho que vê em Mathias.
E Maggie Smith, aos 80 anos, convencendo como uma saudável e enérgica senhora de 92 anos, tem um jeito de olhar que faz do espectador seu cúmplice. Está maravilhosa.
Só esse trio já vale o filme. Mas tem mais. O Sena, com suas margens fotogênicas sob todo tipo de luz e um apartamento bem produzido como cenário para uma nova história de amor.

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