domingo, 19 de abril de 2015

O Sal da Terra


“O Sal da Terra”- “Le Sel de la Terre”, França, Itália, 2014
Direção: Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado

O documentário começa com a voz de Wim Wenders definindo o que é um fotógrafo, já que vamos ouvir falar de um deles, o famoso Sebastião Salgado, 72 anos. Então a palavra que junta luz e desenho, trata de alguém que “escreve e reescreve o mundo em luz e sombras”, diz um dos diretores, o grande cineasta de “Asas do Desejo” de 1987 e de “Pina” 2011.
Wenders conta que foi há 20 anos que viu uma foto de Sebastião Salgado que o fez chorar: a tuaregue cega. Logo, ele entendeu que as pessoas eram importantes para o fotógrafo. E conclui “afinal, elas são o sal da terra.”
E a câmera do alemão foca no rosto do seu fotógrafo, de quem ele vai ouvir histórias sobre sua vida e suas fotos. E o faz com ternura, sem pressa, deixando que ele fale num francês com sotaque mineiro.
Rosto de pele queimada de sol, olhos claros, cabeça pelada, sobrancelhas brancas e abundantes. Olhar sereno:
“- Não é só o fotógrafo que tira a foto. A pessoa dá a foto para o fotógrafo.”
E vamos ver desfilar um universo: pessoas ambiciosas, com “o vício do ouro”, como as de Serra Pelada, aborígenes da Indonésia, o povo sofrido do Nordeste do Brasil no século passado, aqueles que habitam os Andes há milênios, índios mexicanos, o povo de Sahel, refugiados da África, os Médicos sem Fronteiras, os bombeiros de Calgary, os mortos de Rwanda, um genocídio no Congo, a guerra cruel na Croácia, Bósnia e Sérvia, no fim do século XX.
“- O inferno tinha tomado conta do paraíso”, diz Salgado que confessa que, na África, tinha que colocar sua máquina no chão da estrada para poder chorar.
“- Nós somos um animal terrível... Extremamente violentos.”
Voltou de lá com a alma doente.
“- Sebastião tinha visto o coração das trevas”, emenda Wim Wenders.
E o outro diretor Juliano Ribeiro Salgado, o filho que reencontrou o pai, conta e mostra a Fazenda Salgado em Minas, onde o pai nasceu e do projeto de recuperação da Mata Atlântica, o Instituto Terra, ideia da mãe. Um milagre.
E o fotógrafo reencontra o prazer de fotografar com o seu projeto “Genesis” (2003-2004).
“- Quis fazer uma homenagem ao planeta.”
E imagens deslumbrantes e tocantes mostram a pata da iguana e a tartaruga de Galápagos, as focas, leões marinhos, flores, ilhas, mares, elefantes, gorilas, uma baleia amiga, icebergs, os “nenets” e suas renas e na Amazonia, os índios descritos pelos jesuítas.
“- Genesis ia ser uma carta de amor ao planeta. Seu “opus magno”,” pontua Wenders.
E a lição maior de “O Sal da Terra”: em qualquer lugar, a terra destruída pode virar florestas.
O documentário foi indicado ao Oscar 2015. Não ganhou mas o público desfruta do privilégio de conhecer de perto Sebastião Salgado, brasileiro de dar orgulho na gente.

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