domingo, 22 de junho de 2014

Oslo, 31 de Agosto


“Oslo, 31 de Agosto”- “Oslo, 31 August” Noruega, 2011
Direção: Joachim Trier

Quando uma pessoa procura a auto-destruição e ela se empenha nisso, sempre consegue o que busca.
Mas há um longo caminho a ser percorrido e os que amam e querem ajudar aquela pessoa vão desistindo aos poucos.
No caso do personagem do filme, ele escolhe as drogas. Heroína, anfetaminas, cocaína, maconha. Todas.
Vamos assistir ao último dia de Anders.
Teve uma noite livre da clínica de reabilitação onde está internado e passou a noite com uma garota. Mas, desde que sai do apartamento dela, tenta ser radical. Pedras nos bolsos entra no lago. Mas desiste. Tirou da cabeça? Parece que antes ele tem que fazer algo.
Tem uma entrevista para um emprego nesse dia. E, no caminho, passa pela casa de um amigo.
A filha pequena desse amigo desenha um ogro quando vê Anders chegar. E olha desconfiada para ele.
O pai brinca, tenta explicar que o amigo largou as drogas mas criança não se engana.
Algo desumano cresce a olhos vistos naquele rapaz de 34 anos, bonito, magro, com um rosto sem expressão.
“- Então Anders? Esteve com Malin? Que tal? Você já dormiu com tantas suecas!”
“- Difícil dizer...Eu não estava lá...”
Ele ausentou-se de tudo. Mas o que quer ainda?
“ - Me lembro de você falando: se alguém quer se destruir, é permitido.”
E, por mais que o amigo tente, ele derruba, um a um, seus argumentos a favor da vida. Parece que tem um prazer perverso nisso.
“- Ninguém precisa de mim... Não de verdade...Só quero que você entenda. Se eu terminar com tudo, será porque eu quero assim.”
“- Não posso ouvir você dizer assim desse jeito que vai se suicidar! E seus pais? “
“- Ia parecer uma overdose. Acontece todos os dias.”
“- Qual é? Você já passou por isso antes”, encoraja o amigo.
“- Tudo vai se arranjar” diz Anders sorrindo irônico. E completa a frase:
“- Só que não é verdade.”
Conversam mais um pouco e ele consegue deixar o amigo deprimido e culpado.
Na despedida se abraçam e o amigo fala:
“- Você não vai fazer nenhuma besteira? Eu ficaria muito mal.”
“- Prometo”, responde Anders, sem convicção.
E vai, deixando o amigo aflito.
Seu percurso é semeado por gente que ele perturba.
Na entrevista consegue falar mal do jornal que quer empregá-lo e confessa que é drogado. Sai antes que o outro possa mudar de ideia.
A própria irmã não quer vê-lo.
Num club noturno diz para uma desconhecida que pergunta o que ele faz:
“- Procuro compaixão...”
Tenta falar com a ex mas ela não retorna suas insistentes ligações. E ouve de um rapaz a quem ele aborda para pedir perdão:
“- Não é da sua conta se eu tive ou não um caso com sua ex. Não conheço você mas sei como trata as pessoas a seu redor. Não quero seu perdão. Você é um viciado...”
Parece que esse foi o único que Anders não conseguiu enganar.
Ele liga para Iselin e diz que foi uma pena ela não querer ouvir seu último recado e segue o seu caminho anunciado. É a manhã do dia 31 de agosto.
O diretor Joachim Trier, no seu segundo filme, faz uma homenagem à “Nouvelle Vague” francesa, inspirando-se para o roteiro no livro “Le Feu Follet”, de Pierre Drieu La Rochelle de1931, que foi adaptado por Louis Malle em 1963 no seu filme “The Fire Within”. Em comum, o tema do suicídio.
“Oslo, 31 de Agosto” tem uma interpretação impecável de Anders Danielsen Lie e é um filme que nos alerta sobre os perigos que rondam a vida, quando nos entregamos à auto-compaixão e ao ódio aos que querem nos abrir os olhos.

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