sábado, 23 de outubro de 2010

Como esquecer





“Como esquecer”, Brasil, 2010

Direção: Malu de Martino



Ficou claro, ultimamente, que temas polêmicos para os brasileiros como a homossexualidade e o aborto, precisam ser discutidos em espaços mais amplos, favoráveis à reflexão.

Nessa linha, a diretora de “Como esquecer”, Malu de Martino, parece não temer a excomunhão e enfrenta os preconceitos de frente.

Seu filme, baseado no livro “Como esquecer – Anotações Quase Inglêsas”, de Myriam Campello, conta a história de Julia, professora de literatura inglesa que chora a perda de um amor, Antonia.

A bela Ana Paula Arósio encarna Julia, uma mulher desglamorizada que não consegue esquecer aquela que a abandonou. Entrega-se a um masoquismo explícito, ferindo-se e pensando em morrer. Um luto patológico.

Para interpretar Julia, Ana Paula aparece de rosto lavado, olheiras, cabelo sem brilho e sempre preso, vestida em roupas escuras e largas. Ela é alguém que não quer conformar-se. Afasta as pessoas. Não quer consolo. Fechou-se para a vida.

Em “off”, a voz de Julia atua revelando mais a sua personagem, dando um caráter literário ao filme. Às vêzes esse recurso fica exagerado, outras vêzes cai bem.

“Desde o dia em que Antonia foi embora da minha vida eu me pergunto: o que é o contrário do amor? O ódio? Não. Para mim é uma perplexidade ferida de onde só vou conseguir escapar com a ajuda de quem me abandonou. O que será o contrário do amor?“, ela pergunta.

Hugo (Murilo Rosa), homossexual assumido, ator amigo de Julia, propõe irem morar em uma casa em Pedra de Guaratiba, perto do mar e do sol. Ele também está de luto. Seu companheiro morreu.

Aos dois junta-se Lisa (Natália Lage) que, abandonada grávida pelo namorado, faz um aborto e sofre também com a perda.

Julia, retraída e inconsolável, diz em “off”:

“Dividir a casa com outras pessoas pode nos dar um calor de rebanho mas é também uma perturbação contínua.”

Ou ainda : “Até os amigos íntimos não agüentam nosso sofrimento...Faz lembrá-los de dores passadas ou que virão...”

Mas o fato é que o tempo passa, a aluna Carmem e a pintora Helena (Arieta Correa) se aproximam de Julia e ela começa a respirar melhor e a sair da casca protetora que construira para si mesma. E então as emoções penetram e acendem luzes na alma de Julia que se surpreende consigo mesma:

“O amor exige muito e eu tenho pouco para dar...”

“Como esquecer” fala do luto, da impossilidade do amor mas também do trabalho interno necessário para suplantar uma dependência mórbida e escapar do egoísmo extremo que nos aprisiona e nos tranca fora dos prazeres quotidianos nas trocas com outros seres humanos.

“Já conheço os passos dessa estrada,

Sei que não vai dar em nada,

Seus segredos sei de cor...

Já conheço as pedras do caminho

E sei também que aí sozinho, eu vou ficar

Tanto pior...”

Elis Regina canta “Retrato em branco e preto”de Tom Jobim e Chico Buarque na abertura do filme. A música vai soar ao longo dessa história e acompanhar a dor dos “embates amorosos catastróficos”, como diz Julia.

Mas nos letreiros finais, k. d. lang fecha o filme com “Coming home”que canta uma tristeza doce, despertada pelas lembranças de infância de Julia que vão certamente ajudá-la a melhor conhecer a si mesma, libertando-a para novas escolhas.

O maior mérito de “Como esquecer” é humanizar preconceitos e por isso mesmo, desconstrui-los.

7 comentários:

  1. BLITZ , livro do jornalista Rodrigo Rodrigues,
    é BOM p/ coleção de Tietes da BandaRock, que escancarou o espaço nacional para as Bandas Roqueiras. O livro é pura tietagem. Além do umbigo deles e do texto, não há referencias ao Meio Musical e nem a situação geral da Nação. Diferente de outros do gênero que não vou citar porque aqui não é espaço de música brasileira, mas de filme. Então, por que essa referencia aí? Pra vc não pensar que não escrevo sobre “coisas” brasileiras só porque até agora não “apliquei” nenhum comentário dos filmes brasileiros vistos e comentados pvc. Por que? Simplesmente porque não os vi; e por que não os vi? Ah!!!, “that´s the question!”.
    Como estamos em “semanapatriótica”, eleições, em que os ânimos estão “a flor do sensível”,
    é melhor deixar pra lá. Quem sabe fique p/ o próximo filme brasileiro que vc comentar.
    Não vou provocar saturação de energias, - bastam as políticas, - pra mais ou pra menos, expressando (des)interesse no cinema nacional. Faça de conta que aconteceu uma “blitz”!

    Veja, neste filme, vc falou de TEMAS, - deliciosos para CONVERSAS INTERATIVAS,
    (JAMAIS em discussão “catequética”), -
    mas não disse se a FORMA, a linguagem cinematográfica utilizada pela Malu de Martino
    é saborosa, envolvente ou sei lá o quê, condição “sine qua non” pra me “botar” numa sala de cinema. Como disse, (ainda) não vi o filme pra saber o tom dessa FORMA, importante pra essa linguagem de comunicação. Então vou deixar em suspense. (Tãtãrãrã!!!!)

    Suas “dicas”, Eleonora, sobre os TEMAS do filme e suas “desconstruções” merecem meu referendum. “Blitznianamente,...OK, vc venceu!”

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  2. Wilson,
    Vc tem que ver o filme. E aposto que vai gostar.
    Não fuja dos temas! Aliás é bem melhor discutir questões de vida privada com arte como faz a Malu de Martino,a diretora talentosa de "Como esquecer". Nada de políticagem mas vida mesmo!
    Bjs

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  3. Seramigo, confesso que não entendi esse seu comentário.
    O que tem a ver com a "semanapatriótica" que vivemos?
    É impressão minha ou vc tenta desqualificar esta semana?
    Reli a crítica da Eleonora procurando nela algo que tivesse ligação e não achei.
    Apenas um comentário no primeiro parágrafo, que me pareceu bem pertinente.
    Tive que redefinir minha senha no google e estou escrevendo 2 vezes o comentário.
    Se não der desta vez, desisto.

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  4. Caríssima Sylvia
    Tentando desfazer e reequilibrar a impressão que ficou. Fiz um texto sobre ELEIÇÕES partilhado c/ pessoas Amigas e parte dele diz:
    "...Sou a favor do VOTO, sem abstenção ou indefinição, porque se reclamamos de nossos Representantes, temos que (saber) VOTAR. Onde o Partido é apenas instrumento; onde o importante é a "estatura" Pública do Cidadão, acima de qualquer suspeita ou de Partido.". Independente de resultado, deixo claro minha QUALIFICAÇÃO SUPREMA DESTA SEMANA que precede a ELEIÇÃO, como instrumento de nossas escolhas e anseios. Espero que isso a tranquilize! Grato pela oportunidade que me deu p/ esclarecer, insistindo em "postar" sua impressão.

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  5. Eleonora
    Assim que der, nem que seja em DVD, vou ver "as questões da vida privada que a Malu discute c/ arte....e talento";(sic). Vc me convenceu e "OK, venceu!" bj

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  6. Seramigo: explicações aceitas.
    Acho que vivemos um momento mágico no Brasil e daí a minha decepção achando que vc estava desqualificando a semana.
    Sugiro que veja o vídeo da Marilena Chauí no Ato na Universidade de São Paulo, que se encontra no blog do Azenha.
    É de arrepiar.
    Agora uma brincadeira, certamente inconveniente, pero:
    Minha nova senha no google foi: dilmapres.
    Qdo a gente coloca uma senha nova, aparecem as avaliações: fraca, muito fraca, forte, muito forte, vc deve saber disso.
    POis bem, apareceu a seguinte avaliação: muito forte.
    Fiquei feliz: até o google concorda que a Dilma será nossa nova presidente.

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  7. Queridos meus,
    Adorei a polêmica!
    Porém concordo com a Sylvia. Essa semana é histórica. Como ela, vibro com o Brasil conquistando a sua primeira mulher presidente!
    Eleonora Rosset

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