“A vida íntima de Pippa Lee” (The private lives of Pippa Lee, 2009 - EUA - Rebecca Miller)
Postado em 16 de janeiro de 2010, às 12:30
É um filme estrelado. Nomes como Robin Wright Penn (Pippa Lee adulta), Alan Arkin (o marido 30 anos mais velho do que ela), Maria Bello (a mãe de Pippa), Monica Bellucci (a ex do marido), Julianne Moore (o "caso" da tia lésbica), Winona Ryder (o "caso" do marido), Keanu Reeves (o "cara" meio pancada”) e Blake Lively (Pippa quando jovem) participam de um filme escrito e dirigido por Rebecca Miller, filha do conhecido dramaturgo Arthur Miller (1915-2005). Como se não bastasse, o produtor executivo do filme é ninguém menos do que Brad Pitt.
A diretora, que escreveu e adaptou seu próprio livro, diz em uma entrevista: - "Arthur (Miller) era meu pai, só penso nele assim, embora como intelectual me interesse muito a construção e repercussão de sua obra. Se isso é bom ou mau para a minha carreira, se ele me ilumina ou projeta uma sombra, confesso que são questões que só surgem quando dou entrevistas."
E ela é casada com Daniel Day-Lewis que já ganhou dois Oscars por "Meu pé esquerdo" e "Sangue Negro".
Poderíamos indagar onde fica a figura da mãe no universo familiar da autora. Ninguém perguntou sobre isso... Mas, para Pippa Lee, sua personagem, certamente essa pergunta é crucial. Porque ela tem muitas vidas, muitos recomeços. Isso perdeu-se na tradução do titulo do filme do inglês para o português: "Como muita gente, já vivi muitas vidas", diz Pippa no início do filme.
Em sua primeira vida, vivida na tela por Madeline McNulty, ela é a bebê mimada por sua mãe narcisista que a trata como uma extensão de si mesma.
Já maiorzinha, vestida de anjo, "cowgirl", dançarina, posa para sua mãe pintora, toda admiração pela filhinha. "Ela é um bebê ou um bichinho de estimação?", pergunta o irmão.
Esse foi o paraíso de Pippa mas que durou muito pouco.
"Eu era o seu bem mais precioso", diz uma Pippa adulta, relembrando dessa primeira vida.
Entrando na adolescência, dá-se conta de que a mãe é triste, que seu humor tem altos e baixos e ela se crê a culpada de tudo isso: - "Meu dever era fazer ela feliz outra vez. Seu humor governava a minha vida".
E Pippa, identificada com sua mãe, tenta entender o enigma de sua instabilidade agindo como ela. Toma todas as anfetaminas que acha no armário da mãe e que ela tomava para não engordar.
"Eu te amo tanto. Agora nós duas podemos ficar "chapadas" e "felizes", grita uma menina enlouquecida.
A mãe fica furiosa e Pippa foge de casa começando assim a sua segunda vida que vai iniciá-la na sexualidade, na perversidade e na "dolce vita" do fim dos anos 60.
Ela é uma menina perdida que encontra um homem importante, o maior editor da época, trinta anos mais velho do que ela (Alan Arkin, comovente) e que se apaixona por Pippa.
Alguém a define como uma "femme fatale" ingênua.
Vive, então, a sua terceira vida já na pele de Robin Wright Penn, que está maravilhosa no papel.
Nessa vida ela vai tentar viver da melhor maneira possível mas se torna um "enigma adaptável", segundo seu marido que envelhece e de quem ela cuida como se ele fosse um bebê. Ou alguém à beira da morte.
Começam estranhos episódios em sua vida enquanto ela se pega menos controlada, mais sensível.
E ela se pergunta: - "Será que não estou tendo um 'nervous breakdown' (colapso nervoso) silencioso?"
O roteiro do filme propõe novas interrogações para Pippa que parece finalmente aceitar sua dissociação cabeça/coração.
E nós, na platéia, torcemos por ela, que se redescobre e se reinventa enquanto ainda (?) há tempo para isso.
Fatalmente, alguns de nós vamos nos perguntar na saída do cinema: - "Quantas vidas eu me permiti viver?"
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