“O Abraço da Serpente”- “El Abrazo de la Serpiente”
Colombia, 2015
Direção: Ciro Guerra
Em 1909, o alemão Theodor Koch-Grunberg, etnólogo,
escreve em seu diário:
“É impossível descrever em palavras a beleza e o
esplendor que eu vi...Voltei de lá transformado...”
A Amazônia, sua floresta, rios, árvores, plantas,
flores, animais e índios eram o centro de interesse desse homem, cujos diários
inspiram o roteiro do filme do colombiano Ciro Guerra, assim como os escritos, 40 anos depois, pelo botânico
americano Richard Evans Schultes. Dois homens
diferentes.
Num surpreendente preto e branco, a floresta verde se
reflete no espelho do rio, numa terra onde o homem branco é o estrangeiro
inimigo. Um mistério envolve tudo como uma neblina.
Um índio de corpo atlético, penas nos braços fortes e
colar no pescoço altaneiro, observa as araras que passam gritando, quando chega
uma canoa com um índio vestido com roupas e um homem branco que parece doente.
Pedem ajuda.
“- Não sou como vocês”, responde o índio. “Não ajudo
homem branco.”
Mas o branco (Jan Bijvoet, ator belga) convence o índio
(Nilbio Torres) que foi amigo de um xamã remanescente de sua tribo. E mostra um
colar.
“- Posso levá-lo até ele. Acha que “ayakruna” pode me
salvar?”
Karamakate vive sozinho em sua oca desde que sua tribo foi dizimada pelos brancos. É a primeira vez que houve falar que há sobreviventes. E por isso vai ajudar o estrangeiro. À noite, sopra um pó no nariz do alemão e
diz que isso é apenas para distrair a doença. E pergunta se ele está disposto a
seguir as leis da selva, durante a viagem que farão juntos.
Um salto no tempo e vemos o mesmo índio, bem mais velho
(Antonio Bolivar), desenhando numa pedra. Chega uma canoa com um homem branco
(Brionne Davis interpreta o botânico americano Richard Evans
Schultes).
“- Pode me ver?” pergunta o
índio.
“- Há 40 anos este homem esteve aqui e escreveu sobre
uma planta que estou procurando” diz, mostrando o retrato do alemão. Ele ignora
a pergunta do índio que introduz o mundo imaterial na história e sobre a qual o
americano nada sabe.
“- A planta que procuro cresce na seringueira e curou
esse europeu,” acrescentando, “eu nunca sonho. Um xamã me disse que você poderia
me curar.”
Oferece duas notas de dólar para o índio que
ri:
“- Formiga é que gosta de dinheiro. Eu não. Gosto
ruim.”
O velho índio, que esqueceu quase tudo da vida dele e
por isso crê que é um “chullachaqui”, não mais um homem mas um duplo vazio e por isso pensava que era invisível, segue na canoa com o branco em busca da “ayakruna”. Mas será que é isso mesmo
que o americano procura?
Vamos nos perder com eles no rio, ora manso ora bravo,
com suas corredeiras e a mata fechada sempre colada às suas margens. Vamos
encontrar índios maltratados nas Missões, seringueiros mortos em lutas com os
índios, ambos explorados pelos barões da borracha, extraída da
seringueira.
Vamos conhecer as cores lisérgicas do “Sonho da Anaconda”, viagem iniciática
provocada pela “ayakruna”, planta rara e sagrada, que nasce agora só no alto da
“Oficina dos Deuses”, grandes pedras no meio da floresta. Ela inspira sonhos que
são o caminho a ser seguido, acreditam os índios.
“O Abraço da Serpente”, dirigido com inspiração por Ciro Guerra, é o representante da Colombia no
Oscar 2016. Ganhou o prêmio da Quinzena dos Realizadores no último Festival de
Cannes. Revela uma Amazônia que não conhecemos e
foi perdida. Uma tragédia para a humanidade.