terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Steve Jobs


“Steve Jobs”- Idem, Estados Unidos 2015
Direção: Danny Boyle

A natureza humana é tão complexa que, às vezes, é quase inexplicável. Por que aquele homem tão inteligente não percebe que tudo que faz tem a marca de uma vingança destrutiva? E que isso vai acabar com ele?
Nada foi fácil para Steve Jobs. Para ele chegar onde chegou, o mago das tecnologias que mudaram nossos conceitos sobre a relação entre as pessoas, teve que lutar muito. Principalmente contra o que latejava lá dentro dele, impedindo que esquecesse da história de sua vida.
Claro que não foram lembranças mas memórias afetivas de rejeição, falta de amor e calor. E alguém contou a ele como sua jovem mãe biológica o colocou para adoção, como foi devolvido pelo primeiro casal, como o segundo casal teve que brigar com sua mãe biológica porque não preenchiam os requisitos que ela considerava indispensável para adotar o filho que ela não queria...
E, principalmente, como a mãe adotiva distanciou-se dele, por um ano, com medo de apegar-se e depois o tirarem dela.
Conclusão, ele deve ter fantasiado sobre si mesmo que deveria ter algo horrível nele que afastava todo o amor que merecia. E então, nega toda espécie de sentimento, a não ser o doloroso ódio e abraça a onipotência. Nada o atinge.
Apega-se ao que pode ser visto, a fachada, o exterior, o espetáculo. Quer mudar o mundo.
“- Por que você quer que todos o odeiem?” pergunta um dia alguém de sua equipe.
“- Não me importo. Não preciso que me odeiem nem que me amem.”
Mas, quando se apresenta para as plateias que gritam seu nome no lançamento de seus produtos, quer que o aplaudam. Só recebe bem o amor da multidão, anônimo.
Mesmo Joanna (Kate Winslet, ótima), que o amou calada todo o tempo que trabalhou com ele, não podia se aproximar muito. Ela funcionou como uma espécie de mãe substituta, atenta à agenda dele. E ele falava com ela e recebia respostas. Nem sempre o que ele queria ouvir. Mas não gritava nem era arrogante com ela. Parece que esse foi o máximo de proximidade que Steve Jobs conseguiu ter com uma pessoa.
Mas tudo é bem mais complicado. Aquele que diz, na presença de uma menina de 5 anos e sua mãe, que ele não é seu pai, esconde o desejo de que ela mostre que é sua filha.
Quando a menina (Mackenzie Moss) usa a máquina que ele inventou para desenhar, o narcisismo dele recebe uma dose do que precisava para apaziguar um pouco aquela ferida antiga. Mas muitos anos se passaram até que ele admitisse que o nome da máquina era mesmo o nome dela, Lisa.Tarde demais?
O filme dirigido energicamente por Danny Boyle conta a história em três capítulos:1984, lançamento do Macintosh pessoal; 1988, o “black cube” NeXT, com Jobs fora da Apple; 1998, volta à Apple e lança o iMAC.
O que prende o espectador é a briga de Jobs para ser sempre o único, o dono da verdade, o maestro que dirige a orquestra enquanto os outros da equipe só tocam os instrumentos. Ele é o produto que ele vende.
E Michael Fassbender, foi muito bem escolhido, não por sua semelhança física, que não existe, mas pela compreensão de quem foi o homem que ele interpreta. Ele extasia a plateia.
Fassbender e Kate Winslet (que já ganhou o Globo de Ouro e o Bafta como atriz coadjuvante), estão na lista dos indicados ao Oscar 2016.
Grande filme.

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