quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

O Quarto de Jack


“O Quarto de Jack”- “Room”, Estados Unidos, 2015
Direção: Lenny Abrahamson

Ela era o mundo dele. Jack tinha cinco anos e eram só os dois que existiam  naquele quarto, sua mãe e ele.
Se bem que, às vezes, Ma o levava para dormir no armário e fechava ele lá. E Jack ouvia a voz do homem porque ficava acordado, esperando poder voltar para a cama dos dois e ter o calor de Ma de volta.
No teto tinha uma pequena claraboia por onde Jack via nuvens, folhas, chuva e a neve. Mas era como se fosse um quadro que mudava de cores. E à noite mostrava luzinhas. De vez em quando uma bola iluminada.
Jack era feliz. Tinha tudo que queria. A mãe estava sempre com ele. Desde sempre.
Até que ela começou a querer que ele acreditasse que existia mais do que só eles e o homem e que o mundo era maior do que o quarto.
Jack primeiro ficou indiferente, depois assustado.
E, um dia, tudo mudou.
“O Quarto de Jack – Room” é um filme original. Aquela simbiose mãe/filho é um sonho que todos nós tivemos. A mãe/nosso mundo. Quando crescemos, aquela ligação intensa fica menos presente porque o mundo nos atrai.
Mas como o mundo era proibido para Jack e Joy, os dois só tinham um ao outro. E, nos enternece perceber que aquele menino, com o cabelo comprido como uma garota, não precisava de mais nada para ser feliz.
Mas entendemos, aos poucos, que a situação dos dois é trágica. Joy foi sequestrada e está trancada no quarto por sete anos. Jack nasceu lá e nunca saiu desse quarto.
Podemos imaginar como foi difícil para Joy criar Jack como um menino normal. Porque assim como ela era o mundo de seu filho, ele era o mundo para ela. O quarto ficava menos triste e trágico porque Jack existia.
Até que Joy resolve que vai contar, aos poucos, para Jack, o que foi que aconteceu. E vai tentar fugir.
O roteiro do filme, escrito pela autora do livro adaptado, Emma Donoghue, emociona e nos faz ficar muito próximos daquela mãe e seu filho.
A interpretação de Brie Larson é tão realista que sofremos com ela, vivemos o amor dela por Jack e compreendemos sua depressão na segunda parte do filme. Enquanto o filho ganha um mundo novo, ela perdeu o dela, aos 17 anos e não pode mais recuperá-lo. Ao mesmo tempo, talvez só agora ela pode permitir-se esses sentimentos, que poderiam ter sido fatais para ela e Jack naquele quarto que era como uma ilha perdida no oceano.
Merecidamente, Brie Larson ganhou o Globo de Ouro e está em todas as listas de prêmios para melhor atriz, inclusive o Oscar 2016.
Jack, interpretado com brilho por Jacob Tremblay, que é um ator de nove anos, faz um menino de cinco anos inteligente, dotado de grande imaginação, ingênuo e feliz. E convence o público que fica encantado com ele.
O irlandês Lenny Abrahamson, 50 anos, é um diretor talentoso (seu filme de 2012 “What Richard Did”ganhou o prêmio de melhor filme do ano na Irlanda). Seu trabalho com os atores, faz de “Room” (“Quarto” no título original), uma experiência emocional intensa, ora nos colocando no mundo de Jack e ali nos tornamos crianças como ele, ora no de Joy e sofremos e nos defendemos como ela, querendo esquecer o mundo lá fora.
Mas, principalmente, o filme nos faz viver aquele amor imenso que salva mãe e filho de uma tragédia maior.

“O Quarto de Jack” está na lista dos melhores filmes do ano do Oscar 2016. Quem é sensível não pode perder.

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