Direção: Ava DuVernay
Enquanto ocorriam os episódios que esse filme conta,
sobre a luta pela reinvidicação ao voto dos negros americanos, no sul dos
Estados Unidos, nós brasileiros, brancos e negros, não podíamos votar por causa
do golpe militar de 1964. Depois de 20 anos, esse direto nos foi devolvido pelo
empenho que a sociedade mostrou, querendo democracia. Mas ainda existem países
no mundo que anseiam por maior participação política.
Assim, “Selma” traz à tona um tema que ainda preocupa
muita gente mundo afora ou seja, a negação de seus direitos civis, o que inclui
escolher seus representantes numa democracia.
E o que o filme também põe em relevo é a persistência, o
destemor, a vontade férrea daquele grupo de pessoas na cidade de Selma, Alabama,
que consegue atrair a simpatia de outros cidadãos americanos, que se juntaram a
eles e protestaram pelo direito dos negros votarem, mesmo não sendo negros,
porque esse é o fundamento da democracia, que garante ao cidadão a escolha de
seus representantes para reger os destinos de uma
nação.
Tratava-se de salientar a posição de que é o voto que
legitima um governo democrático. Não precisa ser obrigatório, como muitos ainda
pensam, mas há que ser um direito para aqueles que quiserem
exercê-lo.
O filme centra a história em Martin Luther King e a
marcha pelos direitos civis em Selma em 1965. O ator David Oyelowo faz o
conhecido líder dos negros e prêmio Nobel da Paz com muita força e foi indicado
ao Globo de Ouro de melhor ator. A canção “Glory” foi colocada na lista das
melhores do ano do Oscar.
Oprah Winfrey, sem a qual o filme não teria existido,
produz e atua de forma emocionante. Sua cena como a ativista Annie Cooper,
entregando o documento que a capacitaria ao voto, é uma das melhores coisas do
filme. Salienta a forma perversa como, mesmo estando na lei, o direito ao voto
pelos negros era negado, sem complacência e com
desrespeito.
A direção e o roteiro de “Selma” são de Ava DuVernay,
que se sai muito bem nas duas tarefas e consegue emocionar e até revoltar
aqueles da plateia que tenham se esquecido de como foi sangrenta essa
batalha.
Aliás, o tema dos direito civis dos negros, está
atualmente nas manchetes dos Estados Unidos por causa da morte dos jovens Eric
Garner e Michael Brown pela violência policial. E, mostrando seu repúdio, o
elenco de “Selma” vestiu no lançamento do filme uma camiseta onde se podia ler
as últimas palavras de Eric Garner antes de morrer nas mãos de um policial, em
junho do ano passado: ”I can’t breathe”.
Essa é uma luta que parece que ainda não acabou.
E pensar que, debaixo da pele que vemos, somos todos
iguais...