“Grandes Olhos”- “Big Eyes”, Estados Unidos
2014
Direção: Tim Burton
Os anos 50 não foram confortáveis para as mulheres
americanas. Os homens tinham voltado da guerra na Europa e retomado seus postos
de trabalho, que tinham deixado nas mãos delas. Assim, as mulheres foram
mandadas de volta para a cozinha.
Mas Margareth tinha talento e força de vontade. Mudou de
cidade com a filha, fugida, no meio da noite, quando se separou do primeiro
marido no Canadá e batalhou um emprego numa fábrica de móveis para sustentar-se,
em São Francisco.
Ela era pintora nas horas vagas e tinha uma marca
pessoal: retratos de crianças de grandes olhos expressivos. Seu primeiro modelo
foi a filha. Nos fins de semana, as duas iam para a praça onde artistas
desconhecidos expunham seus trabalhos, vendidos por qualquer
troco.
Mas, como a vida era difícil para uma mulher sozinha,
pressionada pelo ex-marido para retirar dela a guarda da filha única, Margareth
foi presa fácil para Walter Keane, pintor que ela conheceu na praça.
Intempestivamente, ele a pediu em casamento.
Daí para convencê-la de que era ele quem tinha que
assumir a autoria das pinturas dela, já que as dele não faziam nenhum sucesso,
foi um pulo. O argumento usado por Walter Keane foi o de que era preciso alguém
com a personalidade dele para vender as obras de Margareth. Afinal, ninguém se
interessaria, acrescentou ele com autoridade masculina, em comprar pinturas de
uma mulher.
Tim Burton dirige “Grandes Olhos” com o talento de
sempre. Afinal, personalidades desajustadas são a sua especialidade. A história
dos Keane é contada em cores cinemascópicas e esplêndida reconstituição de
época.
Seus atores, dirigidos com perspicácia, interpretam o
casal Keane com a medida certa de insegurança e ingenuidade, quase doentia de
Margareth (vivida com alma por Amy Adams) versus o mau caráter aliado à sedução
barata de Walter (Christopher Waltz, diabólicamente
perverso).
A história é contada do começo ao fim, sem flashbacks e
assusta como demonstra a facilidade com que alguém se submete aos caprichos de
outro, quando uma personalidade psicopática usa da sedução para conquistar o que
quer. Quando contrariada, mostra do que é capaz.
Mais uma vez, Tim Burton mergulha nas facetas mais
terríveis da alma humana. E o faz com brilho.
É uma história verídica e, nos créditos finais, vemos os
protagonistas desse drama em fotos. Margareth tem 87 anos e sobreviveu a
Walter.
Amy Adams ganhou o segundo Globo de
Ouro consecutivo por sua Margareth mas o Oscar esnobou solenemente o filme de
Tim Burton. Nenhuma indicação. Manias da Academia, que ignora assim, um grande
diretor e um filme atraente, com grandes
atuações.
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