sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Grandes Olhos



“Grandes Olhos”- “Big Eyes”, Estados Unidos 2014
Direção: Tim Burton

Os anos 50 não foram confortáveis para as mulheres americanas. Os homens tinham voltado da guerra na Europa e retomado seus postos de trabalho, que tinham deixado nas mãos delas. Assim, as mulheres foram mandadas de volta para a cozinha.
Mas Margareth tinha talento e força de vontade. Mudou de cidade com a filha, fugida, no meio da noite, quando se separou do primeiro marido no Canadá e batalhou um emprego numa fábrica de móveis para sustentar-se, em São Francisco.
Ela era pintora nas horas vagas e tinha uma marca pessoal: retratos de crianças de grandes olhos expressivos. Seu primeiro modelo foi a filha. Nos fins de semana, as duas iam para a praça onde artistas desconhecidos expunham seus trabalhos, vendidos por qualquer troco.
Mas, como a vida era difícil para uma mulher sozinha, pressionada pelo ex-marido para retirar dela a guarda da filha única, Margareth foi presa fácil para Walter Keane, pintor que ela conheceu na praça. Intempestivamente, ele a pediu em casamento.
Daí para convencê-la de que era ele quem tinha que assumir a autoria das pinturas dela, já que as dele não faziam nenhum sucesso, foi um pulo. O argumento usado por Walter Keane foi o de que era preciso alguém com a personalidade dele para vender as obras de Margareth. Afinal, ninguém se interessaria, acrescentou ele com autoridade masculina, em comprar pinturas de uma mulher.
Tim Burton dirige “Grandes Olhos” com o talento de sempre. Afinal, personalidades desajustadas são a sua especialidade. A história dos Keane é contada em cores cinemascópicas e esplêndida reconstituição de época.
Seus atores, dirigidos com perspicácia, interpretam o casal Keane com a medida certa de insegurança e ingenuidade, quase doentia de Margareth (vivida com alma por Amy Adams) versus o mau caráter aliado à sedução barata de Walter (Christopher Waltz, diabólicamente perverso).
A história é contada do começo ao fim, sem flashbacks e assusta como demonstra a facilidade com que alguém se submete aos caprichos de outro, quando uma personalidade psicopática usa da sedução para conquistar o que quer. Quando contrariada, mostra do que é capaz.
Mais uma vez, Tim Burton mergulha nas facetas mais terríveis da alma humana. E o faz com brilho.
É uma história verídica e, nos créditos finais, vemos os protagonistas desse drama em fotos. Margareth tem 87 anos e sobreviveu a Walter.
Amy Adams ganhou o segundo Globo de Ouro consecutivo por sua Margareth mas o Oscar esnobou solenemente o filme de Tim Burton. Nenhuma indicação. Manias da Academia, que ignora assim, um grande diretor e um filme atraente, com grandes atuações.

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