quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Instrumentos Mortais - Cidade dos Ossos


“Instrumentos Mortais – Cidade dos Ossos”- “The Mortal Instruments: City of Bones”, Alemanha, 2013
Direção: Harald Zwart

Se você é uma jovem ou um jovem ligado em livros, deve ter ouvido falar dessa nova saga que empolga a turma que gosta de aventuras, mistérios, mundos paralelos e romance.
Cassandra Clare, a autora dos seis livros, que começaram a ser traduzidos no Brasil em 2010, sabe do que essa galera gosta. Aberta a lacuna com o fim dos livros e filmes do bruxinho Harry Potter e também dos vampiros de “Crepúsculo”, abram alas para Clary, que vive em Nova Iorque e descobre um mundo oculto, com muitos sustos e figuras sinistras.
Ela (Lily Collins, a Branca de Neve de “Espelho, Espelho Meu”) é bonita, morena de pele muito clara, ajuizada e mora com a mãe. No dia de seu aniversário, programa ir a uma leitura de poemas com os amigos e depois para uma boate, dançar e comemorar.
Mas, mal sabe ela, que naquela noite, sua vida vai mudar, radicalmente.
Presságios, como o símbolo que aparece para ela, insistentemente, no bloco do telefone, no capuccino, na porta da boate, numa escrita que ela não entende, antecedem ao assassinato que Clary presencia mas que, estranhamente, envolve garotos que só ela vê.
O que está acontecendo? O amigo Simon (Robert Sheeham) pensa que ela tomou alguma droga. A própria Clary desconfia da sua sanidade. Chamar a polícia como? Se o corpo desapareceu?
Em casa, a mãe (Lena Hadey) e seu companheiro, parecem preocupados com ela. Há algo que ela precisa saber.
“- Você tem que falar com ela.”
“- Ela ainda não está pronta”, responde a mãe.
E, no dia seguinte, uma surpresa espantosa assusta Clary. Seu quarto está forrado com papéis com aquele estranho símbolo. Ela põe alguns na mochila e sai correndo para mostrar para Simon.
A mãe, que queria falar com a filha, não a encontra mas fica impactada com aquele quarto repleto de símbolos que parece que ela conhece.
E a história vai seguir, porque a mãe de Clary é sequestrada por tipos estranhos e ela, corajosamente sai à sua procura.
Caçadores de Sombras, demônios e anjos, lobisomens e vampiros. Esse é o mundo oculto de “Cidade dos Ossos” que me fez lembrar de “As Brumas de Avalon”, da saga do Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda, onde as mulheres também eram corajosas e poderosas.
Os temas, no subtexto de “Cidade dos Ossos”, são conhecidos de todos que lidam com adolescentes. Assim temos a procura da identidade, descoberta do sexo, medo, insegurança, idealização e tentação com drogas.
O filme prende a atenção não só de adolescentes. Bem feito e sem a crueldade explícita, empapada de sangue, como é o habitual, diverte com a imaginação e as lutas entre os Caçadores, ajudados por lobisomens, contra a legião de demônios, que é imensa.
Jonathan Rhys Meyers (de “Tudors”) e Jared Hamis, que são figuras/chave da trama, vivem com muita garra seus personagens, acrescentando o elemento desconhecido masculino à vida de Clary.
Se você é fã da saga nos livros, não perca. Se ainda não é, descubra.



Os Sabores do Palácio


“Os Sabores do Palácio”- “Les Saveurs du Palais”, França, 2012
Direção: Christian Vincent

Quem gosta de cozinhar, ou é um “gourmet” que aprecia a simplicidade sofisticada, deve ir correndo ver esse filme delicado, nada pretensioso e tão especial na maneira como conta uma história inspirada na vida de uma cozinheira.
Sim, porque ela não gostava de ser chamada de “chef”.
Talvez porque a comida que ela fazia, era toda uma homenagem à lembrança da avó e da mãe, que lhe ensinaram a arte de cozinhar.
Hortense Laborie (Catherine Frot), foi o nome escolhido para a personagem, que, na verdade, chamava-se Danielle Delpeuch.
Morava no Périgord, com seus campos cultivados, pequenas fazendas e povoados. E lá, ela fazia o “foie gras” e procurava trufas com o seu cachorro treinado.
Amiga de Julia Childs, ela foi também a primeira responsável pela divulgação da culinária francesa, dando cursos a estrangeiros que vinham de longe para aprender com ela os segredos da cozinha francesa tradicional.
De repente, ela recebe um telefonema e alguém vem buscá-la para cozinhar para um alto funcionário do governo, em Paris. Ela hesita, tem o tio velhinho, a fazenda, os animais... Mas fica entre encantada e assustada quando descobre que vai cozinhar as refeições do Presidente da República e seus convidados. No filme não se nomeia o presidente mas era Mitterrand (1916- 1996), no fim de seu governo.
Foi apresentada às regras do protocolo, aos meandros do palácio e à sua cozinha no subsolo, muito bem equipada. Um “chef patisseur”, para fazer os doces, Nicolas (Arthur Dupont), era só dela.
Ela era a única mulher naquele lugar. E, por aí, começaram as invejas, o preconceito e os orgulhos feridos dos machistas que se achavam os donos da cozinha do palácio Elysée.
“- Mas o que ele gosta de comer?”
“- Se o presidente quiser falar com a senhora, será avisada.”
E, na primeira vez que o presidente (o escritor Jean D’Ormesson, 87 anos, novato no cinema) a chama, ficam conversando sobre livros de cozinha, um dos prazeres daquele homem, que gostava do que Hortense fazia, de antemão, porque era a comida de suas avós, a tradicional, que ele queria comer.
“- Madame, me dê o melhor que a França sabe fazer.”
A cena em que o presidente vai à cozinha e ela faz com que ele coma uma “tartine” com trufas, acompanhada de um Chateau Rayas 1979, é marcante. Trufas da fazenda dela, evidente, escolhidas a dedo.
Porque tudo na cozinha de Hortense era artesanal. Mesmo os melhores produtos que a dispensa do palácio possuía, não serviam para ela, que conhecia todos os bons endereços, onde se conseguia o que não existia em outro lugar.
Ciúmes de todos os lados. Ela conseguiu angariar inimigos tanto na cozinha do “chef” geral Le Piq, como nos escritórios dos burocratas que só pensam em cortar orçamentos.
A saúde do presidente também lhe cortava as asas, porque ele não podia comer quase nada do que ela queria fazer para ele.
Laborie ficou dois anos no Elysée e depois partiu para a Antártica, onde o filme começa e vai e vem do palácio para essa base científica, onde, durante um ano ela tentou recuperar-se da experiência ao mesmo tempo maravilhosa e frustrante que vivera.
E nós percebemos, diante da confecção dos pratos que a câmera acompanha passo a passo, que essa tradição culinária pertence a uma época que está acabando e cedendo lugar a produtos industrializados.
Aliás, como ninguém tem tempo para comer e ninguém quer engordar, essa arte tende a desaparecer, mesmo na França. Uma pena... 

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A Sorte em Suas Mãos

 “A Sorte em Suas Mãos”- “La Suerte en Tus Manos”, Argentina/Espanha/Brasil
Direção: Daniel Burman

Será que um adulto consegue ser como uma criança e voltar a se divertir e brincar, mas principalmente, olhar o mundo com um jeito novo?
Parece que Daniel Burman quis se divertir em “A Sorte em Suas Mãos” e nos mostrar que o mundo pode ser um lugar mais interessante quando seguimos o coração  e somos mais espontâneos.
Jorge Drexler, o excelente músico uruguaio (Oscar pela música de “Diários de Motocicleta” de Walter Salles), novato no cinema, faz Uriel Cohen, portenho, judeu sem muita religião, ansioso, divorciado, pai de uma menina de uns 11 anos e um menino mais novo.
Ele é um pai presente e também displicente. Costuma fazer promessas que não cumpre. Por exemplo, o aquário comprado para os filhos, ainda não tem os prometidos peixes. E quando as crianças estão com ele, sempre se atrasam para a escola:
“- Diz para a professora que nós tivemos que socorrer um cão que tinha sido atropelado por um taxista bipolar.”
A filha estranha:
“- O que é bipolar?”
“- Diz que fomos assaltados, então.”
Uriel é mentiroso por vício, porque a realidade nua e crua parece muito sem graça para ele. Isso vai atrapalhar demais a sua vida.
Herdou do pai uma loja de câmbio mas parece que se envergonha da profissão de doleiro e gostaria de trabalhar em algo mais glamoroso.
Por outro lado, adora promoções, porque tem a impressão de levar vantagem e o pôquer que joga escondido.
Por causa do jogo vai parar em Rosário, onde tem cassino e dá de cara com uma ex-namorada, que acabara de brigar com o noivo. Uriel faz uma reentrada na vida dela.
Gloria (Valeria Bertucelli) parece contente em revê-lo mas quando Uriel pergunta por que se afastaram no passado, ela confessa que não aguentava mais a mania dele por motéis e a falta de uma companhia carinhosa:
“- Nós nunca nos encontramos ao ar livre, nunca íamos ao cinema ou ao boliche. Nem mesmo numa festa de amigos. Você não conversava comigo no telefone, nem me mandava flores ou chocolates. Nunca ficamos agarradinhos no ponto do ônibus...”
E ele, que tinha acabado de fazer uma vasectomia, para não ter mais filhos, transar sem compromisso ou medo, de repente tem uma ideia:
“- Você quer ser minha namorada?”
Norma Alleandro, a atriz mais famosa da Argentina, faz a mãe de Gloria, com belas cenas entre elas.
E em diversos momentos do filme os adultos brincam: na piscina de bolinhas, no balanço no parque, nas bolas que flutuam sobre a água, no chá de bonecas e mesmo no show da cena final. Divertem-se.
Jogar não é proibido mas viver jogando pode fazer alguém nem ver a sorte na vida que pode estar passando ao lado. Parece que essa é a moral dessa comédia romântica do sempre excelente diretor Daniel Burman.

domingo, 25 de agosto de 2013

Sem Dor, Sem Ganho




“Sem Dor, Sem Ganho” - “Pain & Gain”, Estados Unidos, 2013
Direção: Michael Bay

“- Meu nome é Daniel Lugo e eu acredito em fitness!”
Quando a rua é tomada por policiais vestidos como se fossem para uma guerra, esse rapaz, torso nu, belo corpo, fazendo abdominais pendurado num “outdoor”, sai correndo apavorado.
A câmera o segue na fuga e, horrorizados, assistimos a um atropelamento. O rapaz voa no ar.
Em “off”, ouvimos uma voz dizer:
“Os acontecimentos que vamos ver, ocorreram entre outubro de 1994 e julho de 1995. E, infelizmente, são fatos reais.”
Assim, nos preparamos para ver a história de Daniel Lugo (Mark Wahlberger, que ganhou 18 quilos para fazer esse papel) e já sabemos que a coisa é feia.
Voltamos no tempo e aquele garoto musculoso é “personal trainer” numa academia, paraíso de “bodybuilders”:
“- É uma pena que nem todos desenvolvam seu potencial. Mas não foi isso que aconteceu comigo. Eu sempre soube que não era como a maioria. Porque na América é assim. Começamos com aquelas colônias fraquinhas e agora somos o país mais malhado e sarado do mundo. É radical!”
Ele olha para uma gorda na esteira e pensa:
“- Não simpatizo com quem desperdiça seus dons. É asqueroso. Mais do que isso. É anti-patriótico.”
E, com essa história de se aprimorar, tudo é válido. Todos os sarados da academia vivem de pílulas, injeções, “bombas”.
Nas horas vagas, Daniel Lugo vende o que não existe, aplicando o dinheiro dos aposentados de Miami em seu próprio bolso, com muita lábia e “cara de pau”:
“- Não é que eu não goste de velhinhos... Gente moribunda na praia... Mas são generosos,” pensa cínico.
Vai parar na cadeia e não aprende nada com isso.
Volta à academia e assiste entusiasmado às aulas de auto-ajuda de um pilantra, Jonny Woo (Ken Jeong):
“- Todo mundo na América ou é realizador ou é um acomodado. Arrumem um objetivo, um plano, vamos fazer da América um lugar melhor”, grita ele.
E, encantado com essa lenga-lenga e com a figura do asiático cercado de mulheres, Lugo resolve ter um plano. Vai sequestrar seu cliente mais rico da academia (Tony Shalhoub), para tirar tudo dele. Para a empreitada, convence dois outros musculosos (Anthony Mackie e Dwayne Johnson) e uma romena ilegal no país, linda e burra, para realizarem “o sonho americano” deles.
Esteróides, strippers e mentiras. Personalidades psicopáticas, sem remorso, só medo de serem pegos, ainda por cima fazem tudo errado. E, a cada erro, aumenta a crueldade do grupo para conseguir o que querem.
Muitos pensamentos em “off”, cores lisérgicas e câmera nervosa em ângulos inusitados, o filme de Michael Bay (“Transformers”, “Armageddon”, “Pearl Harbor”) tem ritmo.
Mas, incomoda muito saber que tudo aquilo aconteceu mesmo e a plateia está rindo.
Em “Sem Dor, Sem Ganho” há crueldade sob uma fantasia de humor negro. Tem também preconceito explícito contra imigrantes que tem o que eles não tem porque nem se esforçam. Vai acabar mal mas, assim mesmo, o exemplo é péssimo.
“- Não quero ter só o que você tem. Quero ser você”, diz Lugo ao sequestrado, pondo em palavras e atos a doença contemporânea de não só invejar o que o outro tem mas, ainda por cima, a vontade de despojá-lo de tudo.
Arrogância e estupidez são uma combinação perigosa.
Ed Harris, fazendo o detetive aposentado, vai ser a pedra no caminho desse bando criminoso.
“Sem Dor, Sem Ganho” é exemplar na demonstração de que a sempre presente selvageria do ser humano, ronda cada um de nós, cada vez mais perto.

domingo, 18 de agosto de 2013

Flores Raras


“Flores Raras”, Brasil, 2012
Direção: Bruno Barreto

De Nova Iorque, num banco do Central Park, ela vem para o Brasil, em busca de inspiração, à procura de uma “cura geográfica”, como sentencia seu amigo e confidente, o também poeta Robert Lowell.
Muito branca, abre a escotilha do navio e vislumbra a Baia da Guanabara, com seu azul do mar e rochas negras, enfeitadas de verde tropical.
Elizabeth Bishop, 40 anos, vai encontrar aqui o amor, mas ela ainda não sabe.
Veio visitar a amiga Mary (Tracy Middendorf) e vai com ela e sua companheira Lota, num carro conversível, para a serra de Petrópolis.
Um cenário deslumbrante.
Lota assobia “Kalú”, acompanhando a cantora no rádio, jeito confiante, despachada, pele morena, cabelos negros num coque, óculos e um sorriso grande.
“- Bem-vinda à Samambaia!”, diz Lota para Elizabeth.
Naquela casa (projetada por Sergio Bernardes), pousada num jardim de plantas tropicais (Burle Marx), com um lago espelhando a montanha ao fundo, a poeta americana Elizabeth Bishop (1911-1979) ou Cookie, como Lota a chamava, vai viver um romance com a brasileira nascida em Paris, Maria Carlota Costallat de Macedo Soares (1910-1967), paisagista que concebeu o parque do Aterro do Flamengo.
“- Onde você estudou arquitetura, Lota?” pergunta Elizabeth.
“- Eu nasci arquiteta”, responde Lota.
Bishop, que viveu quase duas décadas com Lota, entre a fazenda Samambaia e o apartamento do Leme, no Rio de Janeiro, escreveu aqui seu livro “Poems - North & South - A Cold Spring” que ganhou o Prêmio Pulitzer de Literatura de 1955.
Lota, amiga de Carlos Lacerda, governador do então Estado da Guanabara, ganhou o aterro conseguido com o desmanche do Morro de Santo Antonio. E liderou os trabalhos.
Foi justamente esse projeto de um parque para o Rio e as dificuldades em sua implantação, que afastou Elizabeth de Lota. A maneira diferente das duas de encarar o golpe militar de 1964 também contribuiu para um afastamento.
A poeta voltou aos Estados Unidos, depois de uma séria recaída no alcoolismo e foi ensinar numa universidade.
Quando voltou ao Brasil, Elizabeth comprou uma casa em Minas Gerais, hoje um centro cultural. Havia se apaixonado por Ouro Preto quando visitou a cidade com Lota.
O filme de Bruno Barreto é de uma beleza e delicadeza surpreendentes.
Glória Pires, brilhante como Lota e a australiana Miranda Otto, tímida e reticente como Bishop, bem dirigidas, emocionam na maneira como passam a alegria e a melancolia de ser quem são, mulheres talentosas, sensíveis e sofridas.
A opção sexual das duas, que poderia afastar um público mais conservador, é tratada com suavidade e uma tensão contida.
Adaptado do livro “Flores Raras e Banalíssimas”, Ed. Rocco, de Carmen Lucia Oliveira, o filme reconstrói com bom gosto o cenário e figurinos da época, anos 50 e 60 e, com diálogos naturais e concisos, a maioria deles em inglês, conta a história das duas artistas com respeito pelas mulheres que elas foram.
Numa palavra, “Flores Raras” não se perde em vulgaridades.
O grande mérito do filme é trazer à luz a história que poucos brasileiros conheciam e resgatar a figura de Lota Macedo Soares que bem merecia ser homenageada, como foi, por esse belo filme.

sábado, 17 de agosto de 2013

Bling Ring - A Gangue de Hollywood


“Bling Ring – A Gangue de Hollywood”- “Bling Ring”, Estados Unidos, 2013
Direção: Sofia Coppola

O desejo secreto ou mesmo explícito de ter mais do que os quinze minutos de fama de que falou Andy Warhol, é o centro de “Bling Ring”.
A diretora Sofia Coppola, 42 anos, filha do célebre cineasta Francis Ford Coppola, da trilogia “The Godfather - O Poderoso Chefão”, ocupa um lugar privilegiado na lista de jovens diretores de cinema.
Ela fez sucesso desde o seu primeiro filme, “Virgens Suicidas”1999  e continuou fazendo com os que se seguiram: “Encontros e Desencontros”2003, “Maria Antonieta”2005, “Um Lugar Qualquer”2010. Além de escrever seus próprios roteiros, ela também produz seus filmes. Desde criança, Sofia participou do mundo do cinema fazendo figuração nos filmes do pai e atuando como atriz.
Mas é como diretora que ela mostra a que veio:
“... o que me move é sempre essa vontade de colocar minha câmera perto de pessoas que não estão confortáveis com elas mesmas ou com o mundo.”
Em “Bling Ring” ela mostra, como que em um documentário, ao som de músicas bem escolhidas, a vida de jovens que vivem em Los Angeles e que se enrascaram com a polícia, quando foram pegos depois de invadir e roubar casas de celebridades como Paris Hilton, Lindsay Loham e Audrina Patridge. E é tudo verdade.
Aconteceu entre 2008 e 2009.
Em 2010 foi reportagem da revista de moda e comportamento dos famosos, “Vanity Fair”. “Os Suspeitos Usavam Louboutins” era o titulo do artigo de Nancy Jo Sales, que entrevistou os jovens e suas famílias. Virou livro e agora filme.
Ninguém ali precisava roubar nada. Todos os jovens da gangue eram de classe média alta. E todos obcecados pelos sites, Face e notícias frescas da internet sobre as celebridades que moravam na mesma cidade que eles.
Entrar nas casas era fácil. Como em um templo, eles se maravilhavam com os tesouros guardados nos closets e banheiros das pessoas que eles admiravam.
Um rapaz e quatro garotas. Nicki (Emma Watson), Mark (Israel Broussard), Rebecca (Katie Chang), Sam (Taissa Farmiga) e Chloe (Claire Julian), extasiados, jogavam-se sobre as bolsas Hermès e Chanel (“é uma Birkin!”), os vestidos (Oh! Um Hervé Leger!” ou “um Balenciaga!”) e as joias, maquiagem, perfumes, óculos e sapatos (“Olhem os Louboutins!”).
Levavam o que podiam, roubavam carros e, pior, não se preocupavam com as câmeras de segurança filmando tudo e, proeza máxima, postavam fotos com os “achados”, como aquela de uma das garotas com a bolsa amarela Chanel no Face.
Depois dos saques, iam beber, dançar e se drogar nos “night clubs” da moda, onde se pavoneavam com suas histórias excitantes.
Acabaram na delegacia.
Mas o que buscavam?
Na sociedade consumista em que vivemos, poucos não vão entender o que esses garotos queriam. Porque parece que é o desejo oculto ou explícito de muita gente. A fama a qualquer custo. A moda como fetiche.
Pobres meninos ricos. Comprar uma identidade a esse preço, aos olhos da maioria, foi uma aventura suicida. Mas não para Nick, interpretada com humor por Emma Watson, que finaliza “Bling Ring” anunciando que suas aventuras estarão em breve num site dela.
O filme de Sofia Coppola é um depoimento sobre a nossa triste cultura de massa superficial e seus valores. Mas atire a primeira pedra quem nunca se interessou por isso. São indivíduos muito raros.


sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Pelos Olhos de Maisie


“Pelos Olhos de Maisie”- “What Maisie Knew”, Estados Unidos, 2012
Direção: Scott McGehee e David Siegel

Impressionante como as cantigas de ninar são às vezes trágicas. Parecem indicar que o mundo da infância não é tão protegido como pensamos.
Em “Pelos Olhos de Maisie”, a mãe da menina, que tem uns seis ou sete anos, é Susanna (Julianne Moore, convincente como sempre), roqueira, um pouco passada da idade certa para essa profissão, desbocada e carente. Põe Maisie (Onata Aprile, surpreendente) para dormir na cama dela e, para ajudá-la a adormecer, canta, acompanhando-se ao violão, uma cantiga de ninar que conta a história de um berço que balança ao vento, no topo de uma árvore. Quando o galho quebra, o berço vem abaixo, com bebê e tudo mais.
E Maisie adormece sob um olhar do rosto crispado da mãe. Algo não vai bem.
Será que Maisie já percebeu que seu mundo vai desabar?
Crianças bem tratadas são geralmente confiantes. E Maisie tem tudo. Pai e mãe, um apartamento confortável, um quarto lindo, bichinhos de pelúcia e madeira, TV, jogos, bonecas, roupas que ela escolhe com a ajuda da babá loura, jovem, bonita e carinhosa.
Mas, quando escutamos os pais brigando sobre dinheiro, aos gritos na sala, Maisie sendo levada para o terraço com a pizza, somos tomados pela certeza que aquele casamento não vai bem. E não estranhamos quando o pai de Maisie, Beale (Steve Coogan), troca olhares com Margo (Joanna Vanderham), a babá loura.
E o que Maisie vai ver?
A começar pela troca de fechadura da porta de entrada do apartamento, acontecem incidentes que são presságios.
Assim, a coleguinha de colégio, que veio passar a tarde e a noite com Maisie, soluça quietinha na cama, depois de passear pela sala onde a roqueira assiste a um vídeo dela num show, cantando uma canção lasciva. Cercada de homens que bebem, ela puxa Maisie para o colo. Um dos homens, Lincoln (Alexander Skarsgad), parece muito interessado em Susanna. A amiguinha fica de lado, assustada com o clima.
O pai vem buscar a menina naquela mesma noite mas Maisie tem que ficar. Vai enfrentar o que sobra para ela na briga dos adultos narcisistas e egoístas que a cercam.
O divórcio vai por às claras o que Maisie percebe aos poucos. Seus pais, que aparentemente brigam por sua custódia, tem outras motivações para querê-la por perto.
É um sofrimento para Maisie, ignorado por seus pais, interessados unicamente na disputa, nos ciúmes e na vontade de ficar com a filha só para se vingar do outro.
Observamos esse penar no rostinho sério da menina, também dominada pela dúvida. Com quem devo ficar?
O saudável apego de Maisie à vida, faz com que amadureça antes do tempo, mas sem perder a alegria. Só uma vez uma lágrima escorre de seus olhos.
Adultos costumam esquecer que as crianças que estão por perto julgam seu comportamento. É o que acontece com Maisie. O que ela vê e o que fica sabendo, serão decisivos para suas escolhas.
O filme, dirigido pela dupla Scott McGehee e David Siegel, inspirou-se no romance, publicado em 1897, do famoso escritor americano, mas que viveu boa parte de sua vida na Inglaterra, Henry James (1843-1916).
Adaptado para uma Nova Iorque contemporânea, o filme parece dizer que o ser humano não muda em seus defeitos viscerais.
Com uma câmara que muitas vezes são os olhos de Maisie, as cenas acontecem, deixando que o  espectador perceba os sentimentos em jogo, que não são nomeados.
Ótimo elenco, produção caprichada e uma história comovente fazem de “Pelos Olhos de Maisie” um filme que faz pensar na nossa própria infância e na de nossos filhos.
Dá vontade também de ler o romance de Henry James e aprofundar-se mais na vida de Maisie.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Paixão


“Paixão”- “Passion”, França, Alemanha, 2012
Direção: Brian De Palma

Quando pessoas usam a sexualidade como arma para manipular os outros e conseguir vantagens ou vingança, tudo pode dar errado.
É o que vemos acontecer no painel sofisticado e contemporâneo que Brian De Palma cria sobre o universo dos grandes executivos, num “remake” de um filme francês de 2010, “Crime d‘Amour”, de Alain Corneau, estrelado por Kristin Scott Thomas e Ludivine Saignier.
Em “Paixão” são as mulheres que ficam em primeiro plano. Um trio sedutor vai tirar o fôlego da plateia e assustar com classe.
Christine, a loura (a bela americana Rachel McAdams), Isabelle, a morena (Noomi Rapace, a sueca de “Millenium”) e Dani, a ruiva (a alemã Karoline Herfurth), trabalham na agência de publicidade “Koch Image International”. São a executiva chefe, sua assistente e a assistente júnior.
Escritórios de madeira clara, intermináveis paredes de vidro e muitas telas cintilantes de computadores da Apple, compõem o cenário do filme que se passa em Berlim.
Aliás, no momento, o projeto das duas principais executivas é dar um toque de classe e malícia ao “smartphone” da Panasonic.
Entenda-se que a rivalidade que ocorre entre as grandes marcas da agência, ocorre também entre os personagens que se encarregam de promovê-las no mercado. Quem conseguir criar a melhor campanha leva tudo. A briga pode acabar em crime.
Preparem-se, portanto, para um clima de sedução manipuladora, falsos amantes e amigos, beijos de “Judas” e abraços mortais.
A moeda corrente é o sexo e a criatividade. E há uma perturbadora instabilidade nos postos chaves.
Quando se fala de sexo, o que menos importa é o objeto do desejo. Aqui, o que vale realmente é o desejo do que manipula o outro, para conseguir o que quer. E geralmente é poder e mais dinheiro.
Assim, Christine é ambiciosa, elegante e manipuladora. Gosta de jogos eróticos e de surpresas, e é perigosa, comenta Dirk (Paul Anderson), um dos homens em torno dela, que ela põe na cama e depois descarta sem dó nem piedade.
Isabelle, a brilhante assistente de Christine, tem um mistério em sua vida que parece estar ligado ao seu jeito despojado, franja e rabo de cavalo, pouca maquiagem e sempre de preto. Não gosta de aparecer.
Quando Isabelle percebe uma traição de Christine, ela demora a reagir, mas algo destrutivo que estava adormecido nela, acorda e a conduz.
Brian De Palma, 72 anos (“Carrie, a Estranha” 1971, “Vestida para Matar” 1980, “A Fogueira das Vaidades” 1990, “Femme Fatale” 2002), ajudado pela música de Pino Donaggio, que cria climas, fotografia que passa mensagens (José Luis Alcaine) e figurinos que chamam a atenção (Karen Muller-Serrau), faz de “Paixão” um jogo perverso recheado de duplicidades, enganos, psicopatia e sonhos dentro de sonhos, delirantes e alucinados.
Usando a tela dupla com o talento de sempre, Brian De Palma cria cenas que atraem igualmente a nossa atenção. Buscamos a bailarina Polina Semionova que dança uma ninfa sedutora no "pas-des-deux" de Jerome Robbins para a música de Debussy, "Prélude pour l'après midi d'un Faune", na tela da esquerda e mudamos rápido para o closet onde a loura, refletida nos espelhos, caminha para uma surpresa fatal na tela à direita. Um ir e vir de olhares que é estonteante e que já entrou para a história do suspense. 
Você vai sair do cinema com muitas dúvidas. O que é estimulante para boas conversas depois do filme.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Camille Claudel 1915


 “Camille Claudel 1915”- Idem, França, 2012
 Direção: Bruno Dumont

Juliette Binoche é uma estrela. Daí a possibilidade de filmar com todos os diretores de cinema que ela admira. Dessa vez, o escolhido foi Bruno Dumont, que fez dela Camille Claudel (1864-1943), na época em que já estava internada no hospício, onde ficou dos 49 aos 79 anos, quando morreu.
Não foi fácil para ela. Bruno Dumont é um diretor exigente e original. Para compor a personagem, Binoche não tinha nada além das cartas que Claudel trocou com Auguste Rodin, de quem tornou-se amante aos 20 anos.
O romance teve um final deplorável. Camille fez um aborto, Rodin não se separou da mulher, houve um escândalo e a artista, que também era escultora, destruiu obras do amante e as dela. Por isso são raros os museus que possuem esculturas de Claudel.
Dizem alguns que Rodin se aproveitava do talento dela para que suas obras fossem finalizadas. Outros ainda vão mais longe e dizem que era ela quem na verdade fazia muitas das obras que ele assinava. Ninguém jamais saberá a verdade.
Essa história foi contada no cinema pelo filme “Camille Claudel” interpretada por Isabelle Adjani em 1988, dirigida por Bruno Nuytten.
Diz Juliette Binoche sobre a loucura de Camille Claudel:
“O homem que ela mais amou na vida virou seu maior inimigo. A crise de paranoia dela foi gerada pela solidão, pela pobreza e pela traição que sofreu.”
Como cenário para o seu filme, Bruno Dumont escolheu um hospício verdadeiro, onde Juliette Binoche conviveu com pessoas internadas que sofriam de diversos distúrbios mentais.
Foi difícil mas a experiência, além de “visceral”, como ela a descreve, foi um presente para o seu público. Porque a atriz encarna Camille Claudel com um talento e sensibilidade raros.
É extraordinário vê-la fazer dois grandes monólogos, nos quais alterna lucidez e delírios sobre Rodin tê-la envenenado e poder continuar a fazê-lo. Uma fragilidade extrema está estampada em seu rosto muito pálido, com olhos que escurecem para olhar dentro de si mesma e escapar ao horror da convivência com os gritos, choros e expressões daquelas pessoas loucas ao seu redor.
“Um filme como esse esvazia o ator,” disse ela.
Porque exige uma entrega total, a ponto da própria Binoche pedir que fosse assistida durante toda a filmagem, com medo de enlouquecer como sua personagem.
Foi escolhido o ano de1915 para o filme porque foi quando o irmão de Camille, o escritor católico famoso, Paul Claudel, vai visitá-la no hospício.
A expectativa de liberdade se desmorona para Camille, ao encontrar no irmão um muro intransponível. Ela perde toda e qualquer esperança de sair dali e se entrega a uma aceitação de seu destino, magistralmente sugerida por Binoche na cena final.
Um filme difícil de assistir mas, também recompensador, porque raras vezes veremos outra interpretação da qualidade da Camille Claudel de Juliette Binoche.
Uma atriz excepcional.

sábado, 3 de agosto de 2013

Ferrugem e Osso


“Ferrugem e Osso” - “De Ferrouille et d’Os”, França, 2012
Direção: Jacques Audiard

Às vezes, o amor floresce onde menos se espera. Nada parece unir aqueles seres, aparentemente sem nada a ter um com o outro.
O que acontece, talvez, é que a agressividade, mal usada, afasta quem poderia ser descoberto pelo coração. Uma crise pode uni-los, ensinando a usar a agressividade em benefício próprio. “Ferrugem e Osso” é a história de duas pessoas assim.
Uma delas é Ali (o excelente ator belga Matthias Schoenaerts), ex-lutador de box e pai por obrigação, que vai procurar a irmã em Antibes, sul da França.
Ela acolhe os dois e cuida de Sam que tem cinco anos. Ali procura emprego e vai ser segurança numa boate.
É lá que ele conhece Stéphanie (Marion Cotillard), que ele resgata ensanguentada do chão, em meio a uma briga. Ela é parecida com Ali, violenta e quieta.
Depois de culpar a moça pela briga, por causa dos trajes que ela usa, ele a leva para casa. Lá ele vê as fotos com as orcas e pergunta surpreso:
“- É você?”
O rapaz que vive com ela faz cara feia mas ela não dá atenção e providencia gelo para a mão machucada de Ali, que deixa seu telefone com ela.
No Aquário de Antibes, a música anuncia o show das orcas. Stéphanie e seus colegas, aparecem no palco.
O voo dos belos animais, suas piruetas no ar, aquelas enormes baleias obedecendo às mãos dos seus treinadores, maravilham o público.
Mas, naquele dia, fora do programa, em câmara lenta, uma orca invade a passarela. Destroços boiam. O corpo inerte de Stéphanie flutua na água azul ensanguentada.
Horror.
Ela sobrevive mas preferia ter morrido. Afunda em depressão.
Nesse momento de sua vida, Ali reaparece. Ele não tem pena dela. Mas ajuda do jeito certo. A história deles vai começar.
“Ferrugem e Osso” foi adaptado de um conto de Craig Davidson pelo diretor Jcques Audiard, conhecido por seu filme “O Profeta” de 2009, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro e que ganhou o Grande Prêmio do Juri no Festival de Cannes.
A grande estrela do filme é Marion Cotillard, indicada novamente a melhor atriz do Oscar por esse papel. Ela já tem um, por “La Vie en Rose”, onde interpreta Piaf e já foi dirigida por grandes diretores, inclusive Woody Allen, em “Meia Noite em Paris”.
“Ferrugem e Osso” é uma história bem contada com elementos dramáticos emocionantes. Jacques Audiard conduz o filme num ritmo sem tropeços e existem cenas lindas de arrepiar.
A preferida de Marion Cotillard é a que ela filmou com a grande orca no Aquário, depois da tragédia de sua personagem. Há uma relação comovente entre a baleia e a atriz, filmada sem truques, em grande enquadramento. Põe a plateia em silêncio e alguns em lágrimas.
“Ferrugem e Osso” é daqueles filmes imperdíveis e inesquecíveis. Vai agradar a todos pela verdade e força das interpretações e da direção firme e sensível de Jacques Audiard, um nome que devemos guardar na memória.

A Bela que Dorme


“A Bela que Dorme”- “Bella Adormentata”, Itália/França, 2012
Direção: Marco Bellocchio

A morte nos assusta. Gostamos de ignorá-la. Mas existem situações em que precisamos tomar decisões e até adotar uma posição clara, que terá consequências irremediáveis.
Em “A Bela que Dorme”, um dos melhores cineastas vivos, o italiano Marco Bellocchio, vai tratar dessa questão espinhosa com muito talento. Ele não nos coloca perante uma resposta única. Mesmo porque, o que está por trás da eutanásia (do grego “boa morte”), é a liberdade de escolher entre a vida e a morte, nossa ou de outros, território final embaçado por religiosidades, moralismos e, no fundo, medo.
Mas, ultimamente, o cinema tem nos proposto a realidade da eutanásia, assunto tabu, segredo de família, terreno de rancores, quando deveria ser de compaixão.
“Mar Adentro” (2004), do diretor chileno-espanhol Alejandro Amenábar, tem Javier Bardem, vivendo um homem que luta para ter direito de por fim à própria vida, condenado que está à uma cama, tetraplégico, há 28 anos.
Antes mesmo, em 2002, assistimos ao surpreendente “Invasões Bárbaras”, do canadense Denys Arcand, no qual um filho ajuda seu pai a morrer com dignidade.
Feito para a televisão americana, “You don’t know Jack” de 2010, tem ninguém menos que Al Pacino vivendo o controvertido Jack Kervokian, conhecido como o Dr Morte, que ajudava pessoas com doenças terminais a morrer.
É esse também o assunto de um filme francês de 2012, que não passou aqui ainda, “Quelques Heures du Printemps”, de Stéphane Brizé, no qual um filho, interpretado por Vincent Lindon, acompanha sua mãe, com um câncer fatal, a procurar suicídio assistido na Suiça.
Sem falar de “Amor” de Michael Haneke, Palma de Ouro em Cannes e Oscar de melhor filme estrangeiro de 2012, quando, fazer o outro morrer, é um ato extremo de amor.
Coincidência ou não, o filme de 2011, inédito no Brasil, “Vulcão” da Islândia, trata de forma semelhante a “Amor”, um caso envolvendo um casal de idosos.
Bellocchio em “A Bela que Dorme”, usa um fato real para alimentar a discussão sobre a eutanásia.
Em 2009, a Itália viu um pai ganhar uma batalha na justiça para desligar os aparelhos que mantinham em coma, há 17 anos, sua filha Eluana Englaro.
Na vigília, em frente à clínica onde vai acontecer a morte permitida pela justiça, aglomeram-se pessoas contrárias à eutanásia que rezam, acendem velas, gritam palavras de ordem e cantam. Tudo passado ao vivo na TV italiana.
Entre essas pessoas está Maria (Alba Rohrwacher), filha do senador Uliano Beffardi (Toni Servillo, que foi Aldo Moro no filme “Bom Dia, Noite”(2003), também de Bellocchio), que ali encontra Roberto (Michelle Riondino), militante pró-vida, que cuida do irmão com problemas psiquiátricos.
São duas as belas adormecidas: Eluana e a filha da atriz, a “Divina Madre”, interpretada por Isabelle Huppert.
Eluana morre na clínica. E a menina, filha da atriz, é uma coadjuvante no ritual macabro que sua mãe sustenta, atormentada em sonhos por desejos contrários aos que expressa acordada.
E duas mulheres querem morrer. O senador, pai de Maria, viveu um drama pessoal quando sua esposa católica fervorosa, sofrendo muito, pede a ele que a liberte da vida que não valia mais a pena.
E, como contraponto, uma mulher drogada (Maya Sansa), quer se suicidar e é impedida pelo médico Dr Pallido (Pier Giorgio Bellocchio, filho do diretor) que acredita que ela tem futuro.
Marco Bellocchio, com “A Bela que Dorme”, ganhou o prêmio de melhor filme do júri da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 2012.
Não é um filme que levanta bandeiras a favor ou contra a eutanásia. Ao contrário, devolve ao ser humano a decisão a ser tomada com liberdade conforme a consciência de cada um.