Direção:
Bruno Dumont
Juliette Binoche é uma
estrela. Daí a possibilidade de filmar com todos os diretores de cinema que ela
admira. Dessa vez, o escolhido foi Bruno Dumont, que fez dela Camille Claudel
(1864-1943), na época em que já estava internada no hospício, onde ficou dos 49
aos 79 anos, quando morreu.
Não foi fácil para ela.
Bruno Dumont é um diretor exigente e original. Para compor a personagem, Binoche
não tinha nada além das cartas que Claudel trocou com Auguste Rodin, de quem
tornou-se amante aos 20 anos.
O romance teve um final
deplorável. Camille fez um aborto, Rodin não se separou da mulher, houve um
escândalo e a artista, que também era escultora, destruiu obras do amante e as
dela. Por isso são raros os museus que possuem esculturas de Claudel.
Dizem alguns que Rodin se
aproveitava do talento dela para que suas obras fossem finalizadas. Outros ainda
vão mais longe e dizem que era ela quem na verdade fazia muitas das obras que
ele assinava. Ninguém jamais saberá a verdade.
Essa história foi contada
no cinema pelo filme “Camille Claudel” interpretada por Isabelle Adjani em 1988,
dirigida por Bruno Nuytten.
Diz Juliette Binoche
sobre a loucura de Camille Claudel:
“O homem que ela mais
amou na vida virou seu maior inimigo. A crise de paranoia dela foi gerada pela
solidão, pela pobreza e pela traição que sofreu.”
Como cenário para o seu
filme, Bruno Dumont escolheu um hospício verdadeiro, onde Juliette Binoche
conviveu com pessoas internadas que sofriam de diversos distúrbios
mentais.
Foi difícil mas a
experiência, além de “visceral”, como ela a descreve, foi um presente para o seu
público. Porque a atriz encarna Camille Claudel com um talento e sensibilidade
raros.
É extraordinário vê-la
fazer dois grandes monólogos, nos quais alterna lucidez e delírios sobre Rodin
tê-la envenenado e poder continuar a fazê-lo. Uma fragilidade extrema está
estampada em seu rosto muito pálido, com olhos que escurecem para olhar dentro
de si mesma e escapar ao horror da convivência com os gritos, choros e
expressões daquelas pessoas loucas ao seu redor.
“Um filme como esse
esvazia o ator,” disse ela.
Porque exige uma entrega
total, a ponto da própria Binoche pedir que fosse assistida durante toda a
filmagem, com medo de enlouquecer como sua personagem.
Foi escolhido o ano
de1915 para o filme porque foi quando o irmão de Camille, o escritor católico
famoso, Paul Claudel, vai visitá-la no hospício.
A expectativa de
liberdade se desmorona para Camille, ao encontrar no irmão um muro
intransponível. Ela perde toda e qualquer esperança de sair dali e se entrega a
uma aceitação de seu destino, magistralmente sugerida por Binoche na cena
final.
Um filme difícil de
assistir mas, também recompensador, porque raras vezes veremos outra
interpretação da qualidade da Camille Claudel de Juliette
Binoche.
Uma atriz
excepcional.
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