Direção: Bruno
Barreto
De Nova Iorque, num banco
do Central Park, ela vem para o Brasil, em busca de inspiração, à procura de uma
“cura geográfica”, como sentencia seu amigo e confidente, o também poeta Robert
Lowell.
Muito branca, abre a
escotilha do navio e vislumbra a Baia da Guanabara, com seu azul do mar e rochas
negras, enfeitadas de verde tropical.
Elizabeth Bishop, 40
anos, vai encontrar aqui o amor, mas ela ainda não sabe.
Veio visitar a amiga Mary
(Tracy Middendorf) e vai com ela e sua companheira Lota, num carro conversível,
para a serra de Petrópolis.
Um cenário
deslumbrante.
Lota assobia “Kalú”,
acompanhando a cantora no rádio, jeito confiante, despachada, pele morena,
cabelos negros num coque, óculos e um sorriso grande.
“- Bem-vinda à
Samambaia!”, diz Lota para Elizabeth.
Naquela casa (projetada
por Sergio Bernardes), pousada num jardim de plantas tropicais (Burle Marx), com
um lago espelhando a montanha ao fundo, a poeta americana Elizabeth Bishop
(1911-1979) ou Cookie, como Lota a chamava, vai viver um romance com a
brasileira nascida em Paris, Maria Carlota Costallat de Macedo Soares
(1910-1967), paisagista que concebeu o parque do Aterro do
Flamengo.
“- Onde você estudou
arquitetura, Lota?” pergunta Elizabeth.
“- Eu nasci arquiteta”,
responde Lota.
Bishop, que viveu quase
duas décadas com Lota, entre a fazenda Samambaia e o apartamento do Leme, no Rio
de Janeiro, escreveu aqui seu livro “Poems - North & South - A Cold Spring”
que ganhou o Prêmio Pulitzer de Literatura de 1955.
Lota, amiga de Carlos
Lacerda, governador do então Estado da Guanabara, ganhou o aterro conseguido com
o desmanche do Morro de Santo Antonio. E liderou os trabalhos.
Foi justamente esse
projeto de um parque para o Rio e as dificuldades em sua implantação, que
afastou Elizabeth de Lota. A maneira diferente das duas de encarar o golpe
militar de 1964 também contribuiu para um afastamento.
A poeta voltou aos
Estados Unidos, depois de uma séria recaída no alcoolismo e foi ensinar numa
universidade.
Quando voltou ao Brasil,
Elizabeth comprou uma casa em Minas Gerais, hoje um centro cultural. Havia se
apaixonado por Ouro Preto quando visitou a cidade com Lota.
O filme de Bruno Barreto
é de uma beleza e delicadeza surpreendentes.
Glória Pires, brilhante
como Lota e a australiana Miranda Otto, tímida e reticente como Bishop, bem
dirigidas, emocionam na maneira como passam a alegria e a melancolia de ser quem
são, mulheres talentosas, sensíveis e sofridas.
A opção sexual das duas,
que poderia afastar um público mais conservador, é tratada com suavidade e uma
tensão contida.
Adaptado do livro “Flores
Raras e Banalíssimas”, Ed. Rocco, de Carmen Lucia Oliveira, o filme reconstrói
com bom gosto o cenário e figurinos da época, anos 50 e 60 e, com diálogos
naturais e concisos, a maioria deles em inglês, conta a história das duas
artistas com respeito pelas mulheres que elas foram.
Numa palavra, “Flores
Raras” não se perde em vulgaridades.
O grande mérito do filme
é trazer à luz a história que poucos brasileiros conheciam e resgatar a figura
de Lota Macedo Soares que bem merecia ser homenageada, como foi, por esse belo
filme.
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