domingo, 25 de agosto de 2013

Sem Dor, Sem Ganho




“Sem Dor, Sem Ganho” - “Pain & Gain”, Estados Unidos, 2013
Direção: Michael Bay

“- Meu nome é Daniel Lugo e eu acredito em fitness!”
Quando a rua é tomada por policiais vestidos como se fossem para uma guerra, esse rapaz, torso nu, belo corpo, fazendo abdominais pendurado num “outdoor”, sai correndo apavorado.
A câmera o segue na fuga e, horrorizados, assistimos a um atropelamento. O rapaz voa no ar.
Em “off”, ouvimos uma voz dizer:
“Os acontecimentos que vamos ver, ocorreram entre outubro de 1994 e julho de 1995. E, infelizmente, são fatos reais.”
Assim, nos preparamos para ver a história de Daniel Lugo (Mark Wahlberger, que ganhou 18 quilos para fazer esse papel) e já sabemos que a coisa é feia.
Voltamos no tempo e aquele garoto musculoso é “personal trainer” numa academia, paraíso de “bodybuilders”:
“- É uma pena que nem todos desenvolvam seu potencial. Mas não foi isso que aconteceu comigo. Eu sempre soube que não era como a maioria. Porque na América é assim. Começamos com aquelas colônias fraquinhas e agora somos o país mais malhado e sarado do mundo. É radical!”
Ele olha para uma gorda na esteira e pensa:
“- Não simpatizo com quem desperdiça seus dons. É asqueroso. Mais do que isso. É anti-patriótico.”
E, com essa história de se aprimorar, tudo é válido. Todos os sarados da academia vivem de pílulas, injeções, “bombas”.
Nas horas vagas, Daniel Lugo vende o que não existe, aplicando o dinheiro dos aposentados de Miami em seu próprio bolso, com muita lábia e “cara de pau”:
“- Não é que eu não goste de velhinhos... Gente moribunda na praia... Mas são generosos,” pensa cínico.
Vai parar na cadeia e não aprende nada com isso.
Volta à academia e assiste entusiasmado às aulas de auto-ajuda de um pilantra, Jonny Woo (Ken Jeong):
“- Todo mundo na América ou é realizador ou é um acomodado. Arrumem um objetivo, um plano, vamos fazer da América um lugar melhor”, grita ele.
E, encantado com essa lenga-lenga e com a figura do asiático cercado de mulheres, Lugo resolve ter um plano. Vai sequestrar seu cliente mais rico da academia (Tony Shalhoub), para tirar tudo dele. Para a empreitada, convence dois outros musculosos (Anthony Mackie e Dwayne Johnson) e uma romena ilegal no país, linda e burra, para realizarem “o sonho americano” deles.
Esteróides, strippers e mentiras. Personalidades psicopáticas, sem remorso, só medo de serem pegos, ainda por cima fazem tudo errado. E, a cada erro, aumenta a crueldade do grupo para conseguir o que querem.
Muitos pensamentos em “off”, cores lisérgicas e câmera nervosa em ângulos inusitados, o filme de Michael Bay (“Transformers”, “Armageddon”, “Pearl Harbor”) tem ritmo.
Mas, incomoda muito saber que tudo aquilo aconteceu mesmo e a plateia está rindo.
Em “Sem Dor, Sem Ganho” há crueldade sob uma fantasia de humor negro. Tem também preconceito explícito contra imigrantes que tem o que eles não tem porque nem se esforçam. Vai acabar mal mas, assim mesmo, o exemplo é péssimo.
“- Não quero ter só o que você tem. Quero ser você”, diz Lugo ao sequestrado, pondo em palavras e atos a doença contemporânea de não só invejar o que o outro tem mas, ainda por cima, a vontade de despojá-lo de tudo.
Arrogância e estupidez são uma combinação perigosa.
Ed Harris, fazendo o detetive aposentado, vai ser a pedra no caminho desse bando criminoso.
“Sem Dor, Sem Ganho” é exemplar na demonstração de que a sempre presente selvageria do ser humano, ronda cada um de nós, cada vez mais perto.

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