Direção: Michael Bay
“-
Meu nome é Daniel Lugo e eu acredito em fitness!”
Quando a rua é tomada por policiais vestidos como se
fossem para uma guerra, esse rapaz, torso nu, belo corpo, fazendo abdominais
pendurado num “outdoor”, sai correndo apavorado.
A
câmera o segue na fuga e, horrorizados, assistimos a um atropelamento. O rapaz
voa no ar.
Em
“off”, ouvimos uma voz dizer:
“Os acontecimentos que vamos ver, ocorreram entre
outubro de 1994 e julho de 1995. E, infelizmente, são fatos
reais.”
Assim, nos preparamos para ver a história de Daniel Lugo
(Mark Wahlberger, que ganhou 18 quilos para fazer esse papel) e já sabemos que a
coisa é feia.
Voltamos no tempo e aquele garoto musculoso é “personal
trainer” numa academia, paraíso de “bodybuilders”:
“-
É uma pena que nem todos desenvolvam seu potencial. Mas não foi isso que
aconteceu comigo. Eu sempre soube que não era como a maioria. Porque na América
é assim. Começamos com aquelas colônias fraquinhas e agora somos o país mais
malhado e sarado do mundo. É radical!”
Ele olha para uma gorda na esteira e
pensa:
“-
Não simpatizo com quem desperdiça seus dons. É asqueroso. Mais do que isso. É
anti-patriótico.”
E,
com essa história de se aprimorar, tudo é válido. Todos os sarados da academia
vivem de pílulas, injeções, “bombas”.
Nas horas vagas, Daniel Lugo vende o que não existe,
aplicando o dinheiro dos aposentados de Miami em seu próprio bolso, com muita
lábia e “cara de pau”:
“-
Não é que eu não goste de velhinhos... Gente moribunda na praia... Mas são
generosos,” pensa cínico.
Vai parar na cadeia e não aprende nada com isso.
Volta à academia e assiste entusiasmado às aulas de
auto-ajuda de um pilantra, Jonny Woo (Ken Jeong):
“-
Todo mundo na América ou é realizador ou é um acomodado. Arrumem um objetivo, um
plano, vamos fazer da América um lugar melhor”, grita
ele.
E,
encantado com essa lenga-lenga e com a figura do asiático cercado de mulheres,
Lugo resolve ter um plano. Vai sequestrar seu cliente mais rico da academia
(Tony Shalhoub), para tirar tudo dele. Para a empreitada, convence dois outros
musculosos (Anthony Mackie e Dwayne Johnson) e uma romena ilegal no país, linda
e burra, para realizarem “o sonho americano” deles.
Esteróides, strippers e mentiras. Personalidades
psicopáticas, sem remorso, só medo de serem pegos, ainda por cima fazem tudo
errado. E, a cada erro, aumenta a crueldade do grupo para conseguir o que
querem.
Muitos pensamentos em “off”, cores lisérgicas e câmera
nervosa em ângulos inusitados, o filme de Michael Bay (“Transformers”,
“Armageddon”, “Pearl Harbor”) tem ritmo.
Mas, incomoda muito saber que tudo aquilo aconteceu
mesmo e a plateia está rindo.
Em
“Sem Dor, Sem Ganho” há crueldade sob uma fantasia de humor negro. Tem também
preconceito explícito contra imigrantes que tem o que eles não tem porque nem se
esforçam. Vai acabar mal mas, assim mesmo, o exemplo é
péssimo.
“-
Não quero ter só o que você tem. Quero ser você”, diz Lugo ao sequestrado, pondo
em palavras e atos a doença contemporânea de não só invejar o que o outro tem
mas, ainda por cima, a vontade de despojá-lo de tudo.
Arrogância e estupidez são uma combinação
perigosa.
Ed
Harris, fazendo o detetive aposentado, vai ser a pedra no caminho desse bando
criminoso.
“Sem Dor, Sem Ganho” é exemplar na demonstração de que a
sempre presente selvageria do ser humano, ronda cada um de nós, cada vez mais
perto.
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