Direção: Christian
Vincent
Quem gosta de cozinhar,
ou é um “gourmet” que aprecia a simplicidade sofisticada, deve ir correndo ver
esse filme delicado, nada pretensioso e tão especial na maneira como conta uma
história inspirada na vida de uma cozinheira.
Sim, porque ela não
gostava de ser chamada de “chef”.
Talvez porque a comida
que ela fazia, era toda uma homenagem à lembrança da avó e da mãe, que lhe
ensinaram a arte de cozinhar.
Hortense Laborie
(Catherine Frot), foi o nome escolhido para a personagem, que, na verdade,
chamava-se Danielle Delpeuch.
Morava no Périgord, com
seus campos cultivados, pequenas fazendas e povoados. E lá, ela fazia o “foie
gras” e procurava trufas com o seu cachorro treinado.
Amiga de Julia Childs,
ela foi também a primeira responsável pela divulgação da culinária francesa,
dando cursos a estrangeiros que vinham de longe para aprender com ela os
segredos da cozinha francesa tradicional.
De repente, ela recebe um
telefonema e alguém vem buscá-la para cozinhar para um alto funcionário do
governo, em Paris. Ela hesita, tem o tio velhinho, a fazenda, os animais... Mas
fica entre encantada e assustada quando descobre que vai cozinhar as refeições
do Presidente da República e seus convidados. No filme não se nomeia o
presidente mas era Mitterrand (1916- 1996), no fim de seu
governo.
Foi apresentada às regras
do protocolo, aos meandros do palácio e à sua cozinha no subsolo, muito bem
equipada. Um “chef patisseur”, para fazer os doces, Nicolas (Arthur Dupont), era
só dela.
Ela era a única mulher
naquele lugar. E, por aí, começaram as invejas, o preconceito e os orgulhos
feridos dos machistas que se achavam os donos da cozinha do palácio
Elysée.
“- Mas o que ele gosta de
comer?”
“- Se o presidente quiser
falar com a senhora, será avisada.”
E, na primeira vez que o
presidente (o escritor Jean D’Ormesson, 87 anos, novato no cinema) a chama,
ficam conversando sobre livros de cozinha, um dos prazeres daquele homem, que
gostava do que Hortense fazia, de antemão, porque era a comida de suas avós, a
tradicional, que ele queria comer.
“- Madame, me dê o melhor
que a França sabe fazer.”
A cena em que o
presidente vai à cozinha e ela faz com que ele coma uma “tartine” com trufas,
acompanhada de um Chateau Rayas 1979, é marcante. Trufas da fazenda dela,
evidente, escolhidas a dedo.
Porque tudo na cozinha de
Hortense era artesanal. Mesmo os melhores produtos que a dispensa do palácio
possuía, não serviam para ela, que conhecia todos os bons endereços, onde se
conseguia o que não existia em outro lugar.
Ciúmes de todos os lados.
Ela conseguiu angariar inimigos tanto na cozinha do “chef” geral Le Piq, como
nos escritórios dos burocratas que só pensam em cortar
orçamentos.
A saúde do presidente
também lhe cortava as asas, porque ele não podia comer quase nada do que ela
queria fazer para ele.
Laborie ficou dois anos
no Elysée e depois partiu para a Antártica, onde o filme começa e vai e vem do
palácio para essa base científica, onde, durante um ano ela tentou recuperar-se
da experiência ao mesmo tempo maravilhosa e frustrante que
vivera.
E nós percebemos, diante
da confecção dos pratos que a câmera acompanha passo a passo, que essa tradição
culinária pertence a uma época que está acabando e cedendo lugar a produtos
industrializados.
Aliás, como ninguém tem
tempo para comer e ninguém quer engordar, essa arte tende a desaparecer, mesmo
na França. Uma pena...
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