Direção: Scott McGehee e
David Siegel
Impressionante como as
cantigas de ninar são às vezes trágicas. Parecem indicar que o mundo da infância
não é tão protegido como pensamos.
Em “Pelos Olhos de
Maisie”, a mãe da menina, que tem uns seis ou sete anos, é Susanna (Julianne
Moore, convincente como sempre), roqueira, um pouco passada da idade certa para
essa profissão, desbocada e carente. Põe Maisie (Onata Aprile, surpreendente)
para dormir na cama dela e, para ajudá-la a adormecer, canta, acompanhando-se ao
violão, uma cantiga de ninar que conta a história de um berço que balança ao
vento, no topo de uma árvore. Quando o galho quebra, o berço vem abaixo, com
bebê e tudo mais.
E Maisie adormece sob um
olhar do rosto crispado da mãe. Algo não vai bem.
Será que Maisie já
percebeu que seu mundo vai desabar?
Crianças bem tratadas são
geralmente confiantes. E Maisie tem tudo. Pai e mãe, um apartamento confortável,
um quarto lindo, bichinhos de pelúcia e madeira, TV, jogos, bonecas, roupas que
ela escolhe com a ajuda da babá loura, jovem, bonita e
carinhosa.
Mas, quando escutamos os
pais brigando sobre dinheiro, aos gritos na sala, Maisie sendo levada para o
terraço com a pizza, somos tomados pela certeza que aquele casamento não vai
bem. E não estranhamos quando o pai de Maisie, Beale (Steve Coogan), troca
olhares com Margo (Joanna Vanderham), a babá loura.
E o que Maisie vai
ver?
A começar pela troca de
fechadura da porta de entrada do apartamento, acontecem incidentes que são
presságios.
Assim, a coleguinha de
colégio, que veio passar a tarde e a noite com Maisie, soluça quietinha na cama,
depois de passear pela sala onde a roqueira assiste a um vídeo dela num show,
cantando uma canção lasciva. Cercada de homens que bebem, ela puxa Maisie para o
colo. Um dos homens, Lincoln (Alexander Skarsgad), parece muito interessado em
Susanna. A amiguinha fica de lado, assustada com o clima.
O pai vem buscar a menina
naquela mesma noite mas Maisie tem que ficar. Vai enfrentar o que sobra para ela
na briga dos adultos narcisistas e egoístas que a cercam.
O divórcio vai por às
claras o que Maisie percebe aos poucos. Seus pais, que aparentemente brigam por
sua custódia, tem outras motivações para querê-la por perto.
É um sofrimento para
Maisie, ignorado por seus pais, interessados unicamente na disputa, nos ciúmes e
na vontade de ficar com a filha só para se vingar do outro.
Observamos esse penar no
rostinho sério da menina, também dominada pela dúvida. Com quem devo
ficar?
O saudável apego de
Maisie à vida, faz com que amadureça antes do tempo, mas sem perder a alegria.
Só uma vez uma lágrima escorre de seus olhos.
Adultos costumam esquecer
que as crianças que estão por perto julgam seu comportamento. É o que acontece
com Maisie. O que ela vê e o que fica sabendo, serão decisivos para suas
escolhas.
O filme, dirigido pela
dupla Scott McGehee e David Siegel, inspirou-se no romance, publicado em 1897,
do famoso escritor americano, mas que viveu boa parte de sua vida na Inglaterra,
Henry James (1843-1916).
Adaptado para uma Nova
Iorque contemporânea, o filme parece dizer que o ser humano não muda em seus
defeitos viscerais.
Com uma câmara que muitas
vezes são os olhos de Maisie, as cenas acontecem, deixando que o espectador perceba os sentimentos em jogo, que
não são nomeados.
Ótimo elenco, produção
caprichada e uma história comovente fazem de “Pelos Olhos de Maisie” um filme
que faz pensar na nossa própria infância e na de nossos
filhos.
Dá vontade também de ler
o romance de Henry James e aprofundar-se mais na vida de
Maisie.
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