sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Pelos Olhos de Maisie


“Pelos Olhos de Maisie”- “What Maisie Knew”, Estados Unidos, 2012
Direção: Scott McGehee e David Siegel

Impressionante como as cantigas de ninar são às vezes trágicas. Parecem indicar que o mundo da infância não é tão protegido como pensamos.
Em “Pelos Olhos de Maisie”, a mãe da menina, que tem uns seis ou sete anos, é Susanna (Julianne Moore, convincente como sempre), roqueira, um pouco passada da idade certa para essa profissão, desbocada e carente. Põe Maisie (Onata Aprile, surpreendente) para dormir na cama dela e, para ajudá-la a adormecer, canta, acompanhando-se ao violão, uma cantiga de ninar que conta a história de um berço que balança ao vento, no topo de uma árvore. Quando o galho quebra, o berço vem abaixo, com bebê e tudo mais.
E Maisie adormece sob um olhar do rosto crispado da mãe. Algo não vai bem.
Será que Maisie já percebeu que seu mundo vai desabar?
Crianças bem tratadas são geralmente confiantes. E Maisie tem tudo. Pai e mãe, um apartamento confortável, um quarto lindo, bichinhos de pelúcia e madeira, TV, jogos, bonecas, roupas que ela escolhe com a ajuda da babá loura, jovem, bonita e carinhosa.
Mas, quando escutamos os pais brigando sobre dinheiro, aos gritos na sala, Maisie sendo levada para o terraço com a pizza, somos tomados pela certeza que aquele casamento não vai bem. E não estranhamos quando o pai de Maisie, Beale (Steve Coogan), troca olhares com Margo (Joanna Vanderham), a babá loura.
E o que Maisie vai ver?
A começar pela troca de fechadura da porta de entrada do apartamento, acontecem incidentes que são presságios.
Assim, a coleguinha de colégio, que veio passar a tarde e a noite com Maisie, soluça quietinha na cama, depois de passear pela sala onde a roqueira assiste a um vídeo dela num show, cantando uma canção lasciva. Cercada de homens que bebem, ela puxa Maisie para o colo. Um dos homens, Lincoln (Alexander Skarsgad), parece muito interessado em Susanna. A amiguinha fica de lado, assustada com o clima.
O pai vem buscar a menina naquela mesma noite mas Maisie tem que ficar. Vai enfrentar o que sobra para ela na briga dos adultos narcisistas e egoístas que a cercam.
O divórcio vai por às claras o que Maisie percebe aos poucos. Seus pais, que aparentemente brigam por sua custódia, tem outras motivações para querê-la por perto.
É um sofrimento para Maisie, ignorado por seus pais, interessados unicamente na disputa, nos ciúmes e na vontade de ficar com a filha só para se vingar do outro.
Observamos esse penar no rostinho sério da menina, também dominada pela dúvida. Com quem devo ficar?
O saudável apego de Maisie à vida, faz com que amadureça antes do tempo, mas sem perder a alegria. Só uma vez uma lágrima escorre de seus olhos.
Adultos costumam esquecer que as crianças que estão por perto julgam seu comportamento. É o que acontece com Maisie. O que ela vê e o que fica sabendo, serão decisivos para suas escolhas.
O filme, dirigido pela dupla Scott McGehee e David Siegel, inspirou-se no romance, publicado em 1897, do famoso escritor americano, mas que viveu boa parte de sua vida na Inglaterra, Henry James (1843-1916).
Adaptado para uma Nova Iorque contemporânea, o filme parece dizer que o ser humano não muda em seus defeitos viscerais.
Com uma câmara que muitas vezes são os olhos de Maisie, as cenas acontecem, deixando que o  espectador perceba os sentimentos em jogo, que não são nomeados.
Ótimo elenco, produção caprichada e uma história comovente fazem de “Pelos Olhos de Maisie” um filme que faz pensar na nossa própria infância e na de nossos filhos.
Dá vontade também de ler o romance de Henry James e aprofundar-se mais na vida de Maisie.

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