Direção: Clint Eastwood
Na mesa do almoço, dois meninos apreensivos, aguardam a
fala do pai. O cinto dele está sobre a mesa e o ambiente é tenso. O menor está
com um olho roxo e sabemos que o irmão mais velho entrou numa briga para
defender o menor:
“- Na vida, existem pessoas que são lobos, agressivos
por natureza, que tem que ser eliminados. Há as ovelhas e os cães pastores que
as protegem. Vocês precisam entender que o seu dever é defender os nossos. Não
admito que vocês não sejam cães pastores. Você acabou com ele
Chris?”
“- Yes, sir.”
Depois vemos o menino com o pai, aproximando-se do seu
primeiro troféu. O animal foi abatido com um só tiro. O pai o encoraja e se
orgulha dele.
Não é de se admirar que esse menino tenha se tornado o
maior matador individual da história militar dos Estados Unidos. Tinha no sangue
a agressividade do pai e foi estimulado desde criança a matar. Ao contrário do
que desejava o pai, Chris Kyle (Bradley Cooper) era um
lobo.
Acompanhando sua história, no filme inspirado em seu
livro de memórias, vemos que até foi difícil atirar em sua primeira criança mas
durante seus 1.000 dias de guerra ele tornou-se um viciado em matar. Para Chris,
ter o tiro certeiro do melhor atirador de elite, era um triunfo sem o qual não
podia mais viver.
A guerra foi uma boa desculpa para ele soltar o bicho
que morava dentro dele. O psiquiatra que o atende em sua volta,
pergunta:
“- Você matou 160 pessoas. E voltou quatro vezes para a
guerra. Agora quase matou o cachorro que brincava com o seu filho... Isso não o
preocupa?”
Ele, que era amoroso com Taya (ótima Sienna Miller), a
garota que ele escolhera para se casar, foi ficando cada vez mais distante, mais
frio e duro:
“- Eu queria que você voltasse a ser humano!”, implora
Taya, estranhando o jeito dele com ela e os filhos.
Mas, sentado na frente da TV desligada, Chris assiste a
seu programa favorito. Os sons e as imagens da guerra, seu cenário ideal, estão
instalados para sempre em sua mente psicótica. Só no meio da batalha ele se
sente vivo, fazendo o que mais gosta. E isso foi também a sua
perdição.
Clint Eastwood, 84 anos, ganhador de dois Oscars de
melhor filme com “Os Imperdoáveis” e “Menina de Ouro”, volta a ocupar a imprensa
americana, desde que seu último filme, lançado na temporada do Oscar, ganhou 6
indicações: melhor filme, ator (Bradley Cooper), roteiro adaptado, montagem,
edição de som e mixagem de som.
Quer se goste ou não das posições políticas de Clint
Eastwood, uma coisa é certa. Ele sabe como atingir o emocional das pessoas.
“Sniper Americano” é um filme que faz com que se pense em como a guerra afeta de
modo terrível a mente de certos indivíduos, além de matar e ferir outros tantos.
E mais, como lidar com os que voltam estropiados no corpo e na
alma?
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