sábado, 24 de janeiro de 2015

O Jogo da Imitação




“O Jogo da Imitação”- “The Imitation Game”, Estados Unidos, Reino Unido, 2014
Direção: Morten Tyldum

Histórias reais conseguem às vezes ser mais inacreditáveis que as de ficção. A do pai do computador, Alan Turing, é uma delas.
Garoto super inteligente e tímido, sofreu na mão dos colegas da escola inglesa. Até o dia em que um outro garoto, também inteligente, disse para ele:
“- Você sabe por que te perseguem? Porque você é diferente deles.”
A partir daí uma dupla estava formada e eles passavam papeizinhos um para o outro, em código, com problemas difíceis, para resolver por pura diversão. A aula de matemática era muito elementar para os dois.
Passavam horas conversando à sombra dos velhos carvalhos do parque. Conversas que só eles entendiam. Foi desse único amigo que Alan ganhou seu primeiro livro sobre códigos.
Mas, um dia, essa amizade chegou ao final. Alan foi abandonado e nunca mais teve alguém íntimo como aquele colega inesquecível.
Anos depois, ele consegue um feito impensável. Cria uma máquina que decifra as mensagens criptografadas enviadas pela Enigma, a máquina dos alemães, que mandava mensagens ao seu exército sobre quais seriam os próximos ataques aos aliados. Foi a máquina precursora do computador que Alan chamou Chistopher.
Por causa de Alan Turing, a Segunda Guerra terminou dois anos antes do que era previsto e por isso 14 milhões de vidas foram salvas.
Mas a humanidade não é grata. E sempre foi terrível com os diferentes. Com Alan Turing, foi especialmente cruel. Ele pagou um preço alto por ser homossexual.
Benedict Cumberbatch está assustador como o matemático Alan Turing. Trejeitos, manias, olhares e aquilo que ele tinha desde criança, uma frieza com relação aos colegas, que lhe era devolvida com um tratamento especialmente selvagem dos outros meninos e de um distanciamento dos outros adultos. Esses traços transformaram Alan num ser isolado, que Cumberbatch faz surgir na tela com talento.
Até que Keira Knightley aparece e, sendo uma moça tão inteligente quanto ele, tenta fazer dele um ser mais descontraído, menos desligado e perdido em seus pensamentos e um pouco mais simpático com as outras pessoas.
Ela gostava dele. Suas cabeças privilegiadas eram parecidas. Um casamento de mentes parecia ser possível e faria dele alguém menos diferente e mais aceito.
Mas para Alan Turing tudo isso era difícil. Ele não queria abrir mão da pessoa que ele era.
O diretor inglês Morten Tyldum, em seu segundo longa, constrói a história de forma não linear, com “flashbaks” perfeitos. O uso de cenas reais da guerra em meio a outras encenadas, não parece artificial e passa o clima de terror em que as pessoas viviam na Europa.
Em “O Jogo da Imitação” tudo é muito especial. A música do mestre Alexandre Desplat comunga com os sentimentos dos personagens, os figurinos são perfeitos, os cenários muito bem trabalhados. Tudo sem defeito.
E a história é contada num crescendo incrível que fascina a plateia. Não é de se espantar que o filme esteja em todas as listas de melhores do ano. E ganhou 8 indicações para o Oscar: melhor filme, diretor, ator,atriz coadjuvante, roteiro adaptado, edição, música original e desenho de produção. 
Imperdível.



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