“O Jogo da Imitação”- “The Imitation Game”, Estados
Unidos, Reino Unido, 2014
Direção: Morten Tyldum
Histórias reais conseguem às vezes ser mais
inacreditáveis que as de ficção. A do pai do computador, Alan Turing, é uma
delas.
Garoto super inteligente e tímido, sofreu na mão dos
colegas da escola inglesa. Até o dia em que um outro garoto, também inteligente,
disse para ele:
“- Você sabe por que te perseguem? Porque você é
diferente deles.”
A partir daí uma dupla estava formada e eles passavam
papeizinhos um para o outro, em código, com problemas difíceis, para resolver
por pura diversão. A aula de matemática era muito elementar para os
dois.
Passavam horas conversando à sombra dos velhos carvalhos
do parque. Conversas que só eles entendiam. Foi desse único amigo que Alan
ganhou seu primeiro livro sobre códigos.
Mas, um dia, essa amizade chegou ao final. Alan foi
abandonado e nunca mais teve alguém íntimo como aquele colega
inesquecível.
Anos depois, ele consegue um feito impensável. Cria uma
máquina que decifra as mensagens criptografadas enviadas pela Enigma, a máquina
dos alemães, que mandava mensagens ao seu exército sobre quais seriam os
próximos ataques aos aliados. Foi a máquina precursora do computador que Alan
chamou Chistopher.
Por causa de Alan Turing, a Segunda Guerra terminou dois
anos antes do que era previsto e por isso 14 milhões de vidas foram
salvas.
Mas a humanidade não é grata. E sempre foi terrível com
os diferentes. Com Alan Turing, foi especialmente cruel. Ele pagou um preço alto
por ser homossexual.
Benedict Cumberbatch está assustador como o matemático
Alan Turing. Trejeitos, manias, olhares e aquilo que ele tinha desde criança,
uma frieza com relação aos colegas, que lhe era devolvida com um tratamento
especialmente selvagem dos outros meninos e de um distanciamento dos outros
adultos. Esses traços transformaram Alan num ser isolado, que Cumberbatch faz
surgir na tela com talento.
Até que Keira Knightley aparece e, sendo uma moça tão
inteligente quanto ele, tenta fazer dele um ser mais descontraído, menos
desligado e perdido em seus pensamentos e um pouco mais simpático com as outras
pessoas.
Ela gostava dele. Suas cabeças privilegiadas eram
parecidas. Um casamento de mentes parecia ser possível e faria dele alguém menos
diferente e mais aceito.
Mas para Alan Turing tudo isso era difícil. Ele não
queria abrir mão da pessoa que ele era.
O diretor inglês Morten Tyldum, em seu segundo longa,
constrói a história de forma não linear, com “flashbaks” perfeitos. O uso de
cenas reais da guerra em meio a outras encenadas, não parece artificial e passa
o clima de terror em que as pessoas viviam na Europa.
Em “O Jogo da Imitação” tudo é muito especial. A música
do mestre Alexandre Desplat comunga com os sentimentos dos personagens, os
figurinos são perfeitos, os cenários muito bem trabalhados. Tudo sem
defeito.
E a história é contada num crescendo incrível que
fascina a plateia. Não é de se espantar que o filme esteja em todas as listas de
melhores do ano. E ganhou 8 indicações para o Oscar: melhor filme, diretor,
ator,atriz coadjuvante, roteiro adaptado, edição, música original e desenho de
produção.
Imperdível.
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