O preço da traição - Chloe, Atom Egoyan, EUA / Canadá / França, 2009
Postado em 28 de maio de 2010, às 12h33
“Porno-soft ”? Se visto de um ângulo conservador, esse filme pode ser colocado nesse nicho.
Mas quem conhece o diretor egípcio naturalizado canadense, Atom Egoyan, sabe que o caminho não é por aí. Quem se lembra de “The sweet hereafter”, “O doce amanhã”, de 1997, sobre o sensível tema da morte das crianças de uma cidadezinha e “Exotica”, de 1994, um quebra-cabeças emocional que se passa em um cabaré, sabe que o diretor se interessa pelos profundos mistérios da natureza humana e situações - limite que expõem nossas fragilidades.
O roteiro de “O preço da traição” baseou-se no filme francês “Natalie”, de 2003, dirigido por Anne Fontaine. E foi escrito por uma mulher talentosa, Erin Cressida Wilson. Intrigou Egoyan que viu nele “o estudo de um casamento”.
O filme pode ser contado em poucas palavras como sendo a história de um triângulo amoroso que encena infidelidade, fantasia e erotismo.
Tem Julianne Moore como a esposa de meia-idade, Liam Neeson como o marido bonito e sedutor e Amanda Seyfried como a garota de programa. Contratada pela mulher para tentar seduzir o próprio marido, já que ela desconfia de sua fidelidade, a loura menina sexy vai fazer surgir o inesperado e o trágico.
Por que será que a médica ginecologista de sucesso, interpretada por Julianne Moore, não pensou em contratar um detetive para espionar o marido? Essa é a pergunta-chave que desvenda a motivação da conduta da dra Stewart.
Casada com um professor atraente, sempre cercado de jovens alunas, Catherine mostra, desde as primeiras cenas, que está com a auto-estima baixa. Seus ombros caidos, de costas para a câmara, são a imagem externa de seu mundo interno desabando.
Envelhecer nunca é fácil. Especialmente para uma mulher bonita, deprimida, que começa a deixar-se levar por paranóias e carências.
Além disso o marido bonitão fica cada dia mais charmoso. Às tantas ela diz para ele:
“- Você ficando mais bonito a cada dia e eu me sentindo velha, tão velha…”
Uma tremenda injustiça da natureza.
Quanta inveja começa a purgar no coração de Catherine que quer para ela a vida interessante e excitante do marido... Só que a inveja nunca foi boa conselheira e vai destruir ainda mais as chances de felicidade dessa mulher.
Tudo vai de mal a pior para Catherine que, além do mais, está perdendo o seu “bebê”: seu filho único entrou na adolescência e trocou seus mimos pelas menininhas em flor que traz para casa para passar a noite com elas.
Quando surge Chloe na vida dessa mulher elegante, carente e desnorteada que mora em uma casa contemporânea, só vidros transparentes herméticamente fechados, há como que a passagem de um vento fresco de verão que estremece folhas já de outono.
Catherine quer então se ver no espelho de Chloe. Por isso não contrata detetive. Ela quer a juventude da loura e suas histórias excitantes sobre a vida sexual do marido. Perdeu o rumo. E vai pagar caro por isso.
E preste atenção. Em um jogo de imagens bem ao gosto do diretor Atom Egoyan, o filme tem duas cenas finais. Na primeira, a realidade atinge a todos com sua inequívoca clareza. Na segunda, uma fantasia narcísica de poder é encenada para cegar os olhos impotentes de Catherine e os nossos perante a dureza dos fatos. Pura ilusão.
Você pode até escolher qual delas prefere. Mas não se esqueça: devemos nos responsabilizar pelas consequências de nossas escolhas em nossas vidas. Quem enfrenta a realidade, por mais dura que ela seja, pode tentar modificá-la. Quem quer se enganar perde essa oportunidade.
sylviamanzano@uol.com.br disse em 28/05/2010 17:49
ResponderExcluir"Quem enfrenta a realidade, por mais dura que ela seja, pode tentar modificá-la. Quem quer se enganar perde essa oportunidade." Eu copiei, ampliei e plastifiquei essa frase, que é pra nunca mais esquecer. Ela veio a calhar para uma situação que eu vivi outro dia e adoro a facilidade da Eleonora em explicar certos conceitos que são complexos, de uma forma leve e conclusiva. Em todas as críticas que faz, ela coloca certas frases conclusivas, quer servem para tudo, não só praquele determinado filme analisado. É o que antigamente se chamava máximas e eu acho que ela deveria escrever um livro de máximas ou então, de texto mais longo mesmo. Eu sp achei que esse era o diferencial: uma psicanalista analisando filmes e vejo que não me enganei. Adoooooooooro, como dizem os adolescentes.