"Direito de amar" (A single man, Tom Ford, Estados Unidos, 2009)
Postado em 22 de março de 2010, às 14:00
Se você acha que Tom Ford é apenas um estilista luxuoso que faz lembrar de marcas internacionais ( Gucci, Saint Laurent) que ele reergueu com seu toque de mestre, enganou-se.
Em uma entrevista à revista Vogue Brasil, Tom Ford conta como a crise econômica mundial quase fez naufragar seu sonho de fazer cinema e levar para a tela, a seu modo, o livro de Christopher Isherwood dos anos 60 que ele tinha lido aos 20 anos e relido há pouco tempo:
“Vinte e poucos anos haviam se passado desde que eu lera o livro e resolvi voltar a ele. E aí ele me tocou de uma maneira diferente, ainda mais profunda. Estava agora na meia-idade, tinha saído da Gucci e deixado o mundo da moda, um universo no qual coloquei muita energia, e de repente senti que tinha perdido a identidade. Não tinha mais uma voz dentro da cultura contemporânea e passei a lutar contra isso”.
Como não havia mais financiadores para o filme, Tom Ford desembolsou então sete milhões de dólares e foi procurar Colin Firth para viver o professor de literatura que pensa em se matar após perder o companheiro em um acidente de carro.
O diretor Tom Ford, em seu “début” cinematográfico, acertou em cheio na escolha do protagonista de seu filme. O inglês Colin Firth ganhou o prêmio de melhor interpretação em Veneza, o Globo de Ouro e foi indicado pela primeira vez para o Oscar. Só a interpretação dele já valeria ver o filme.
No elenco Ford colocou também a ótima Julianne Moore, que faz uma mulher decadente mas charmosa que tenta seduzir o requintado professor por puro medo da solidão.
George, homossexual assumido, vive no filme um luto complicado. Parece que a vida perdeu o sentido, já que tudo o remete às lembranças dos 16 anos passados ao lado do amado companheiro morto.
O título em português, “Direito de amar”, é uma tradução homofóbica já que sugere com condescendência que o professor e seu companheiro também podiam se qualificar para o nobre sentimento do amor. Ao desprezar o título ”Um homem só’, que poderia ser a tradução para “A single man”, o preconceito age às avessas. Uma lástima.
Mas quem se distancia dessa maneira de pensar, pode assistir a um belo e vigoroso filme.
Tom Ford cujo talento para a beleza e o requinte ninguém põe em dúvida, coloca na tela a dor de um homem e tudo que o leva à negação da vida.
Conta essa história em imagens magníficas. Uma delas: em câmara lenta um corpo masculino é visto afundando em águas turvas, à mercê de um sentimento de peso que invade George.
Em um outro achado estético deslumbrante, Tom Ford faz as cores do filme mudarem de quase um sépia para o colorido berrante do Technicolor dos anos 50, acompanhando o vai e vem de sentimentos de depressão e mania, vida e morte, que assolam o professor em seu luto. Para um momento inesquecível Ford usa um preto e branco suntuoso.
Um clímax inesperado encerra o filme fazendo com que o ator Colin Firth mereça todos os prêmios e o diretor Tom Ford os nossos aplausos.
Comentário encaminhado ao Mpost, em 6 de abril de 2010, às 20:36
ResponderExcluirEste eu não vi, mas como você explica os filmes tão gostoso, fico com vontade de ver todos, prometo te responder em breve.
Alice Carta
William Rezende, em 24 de março de 2010, às 0:50
ResponderExcluirEleonora, tem como fazer comentários em vídeo como a Isabela Boscov e Marcelo Janot?
Sylvia Manzano, em 22 de março de 2010, às 17:11
ResponderExcluirEleonora tem toda razão: traduzir A SINGLE MAN por DIREITO DE AMAR
é meio repelente.
A tradução dos filmes de uma maneira geral é um Deus nos acuda e os filmes que são dublados então, são um descalabro.
Alguém deveria denunciar isso, porque fere os direitos autorais, já que uma tradução mal feita e tendenciosa pode mudar o sentido de tudo.
Eles colocam as nossas gírias e dá pra perceber que não são gírias usadas no original do filme, eles esculacham cenas sérias, transformando-as em comédia.
Já disse e repito: é um crime de lesa inteligência do espectador.
Mas fora isso, deu muita vontade de assistir esse filme, depois que nos foi presenteado pela crítica tão sensível da Eleonora.
É um tema muito delicado e pelo visto, foi tratado com toda a delicadeza necessária.
O cinema é mesmo a escola mais divertida e completa que existe.
Dá aula de tudo, desde o conflito no oriente médio, até lições de vida, de culinária ao can-can, de violência até a redenção.
Que bom seria e como sairíamos ganhando se os brasileiros abandonassem as famigeradas novelas da globo e assistissem filme no horário mais nobre da noite.
Que bom seria se um número grande de professores e alunos lessem as críticas da Eleonora, porque elas criam empatia entre o leitor e o filme comentado, dão vontade de assistir o filme, vontade de discutir sobre o filme: seria uma revolução pelo cinema.
Há muito que se aprender nos filmes, basta se ter olhos de ver.