Direção: Benoit Jacquot
Quem não teve na vida um amor não vivido? São eles a
porta de entrada para as já famosas “vidas paralelas”, sempre idealizadas,
principalmente quando as coisas não vão bem em nossas relações
afetivas.
E então, aquele amor que não vivemos porque não
aconteceu, passa a ocupar a mente com promessas que não foram cumpridas. E
se...
O fato é que frustrações são frequentes nas vidas dos
seres humanos e esses amores não acontecidos passam a ser o oásis sonhado no
deserto.
Foi o que aconteceu com Marc e Sylvie em “3
Corações”.
Os dois se encontraram numa noite em que, por
coincidência, trombaram um no outro na cidade de interior onde ela morava. Marc
estava lá a trabalho mas perdera o trem, estava só e de mau humor, não sabia
onde tinha ido parar o celular e buscava um hotel para passar a noite e voltar
para Paris.
Foi assim que começou a
conversa:
“- Com licença, sabe onde posso encontrar um
hotel?”
E foram conversando noite adentro até o sol nascer e sem
trocar nomes ou endereços. Meio de improviso, combinam que ela irá a Paris e
marcam um encontro no Jardim das Tulherias.
Sylvie vivia um momento de impasse em sua vida. Seu
marido terá que ir trabalhar e viver nos Estados Unidos e ela hesitava em
segui-lo.
O aparecimento desse homem parece que a distrai dessa
decisão a ser tomada. Confidencia a Sophie, sua irmã querida com quem trabalha
na loja de antiguidades que tinha sido da mãe delas, que encontrara
alguém.
E vai ao seu encontro com muitas
expectativas.
Mas quis o acaso que, problemas no trabalho e um ataque
de pânico, fizessem com que ele se atrasasse muito e ela já tivesse ido embora
quando ele chega ao encontro marcado.
Sylvie (Charlotte Gainsbourg) e Sophie (Chiara
Mastroianni) são irmãs. Catherine Deneuve é a mãe delas. Benoit Poelvoorde é
Marc, o homem que as irmãs vão amar, uma sem saber da outra, até a hora em que
tudo pode ou não vir à tona.
O roteiro é bem escrito pelo diretor Benoit Jacquot
(“Adeus Minha Rainha”) e Julien Boivent. O espectador segue a história, não
sabendo bem por quem torcer porque as duas irmãs são encantadoras e não merecem
sofrer por esse homem que, aliás, não é nenhum príncipe
encantado.
Catherine Deneuve, a mãe delas, posa de matriarca
impecável, desfila sua eterna beleza e não se mete na vida das filhas, que
sempre correm para ela quando as coisas desandam. Mas seus olhares aflitos dão a
perceber que, talvez, ela seja a única que sabe de
tudo.
O final é a coroação daquilo que eu chamei de “vidas
paralelas” no início desse texto. E se... Seria tudo tão
diferente...
São mentirinhas que contamos para nós mesmos para nos
distrair da realidade inevitável.
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