segunda-feira, 8 de junho de 2015

Permanência


“Permanência”, Brasil, 2014
Direção: Leonardo Lacca

Há um desconforto entre os dois.
Ele se anuncia pelo interfone, tentando brincar e põe a mala no elevador.
Sobe a escada com passos largos. Ela sorri quando abre a porta e vê que o elevador chegou primeiro com a mala, mas sem ele. Lembranças chegam antes dele, que retarda aquele encontro.
“- Você ainda tem problema com elevador?”
Na cozinha, ela se esquiva quando ele fica mais ardente. E oferece café.
O que foi que separou aquele casal?
“Permanência”, primeiro filme de Leonardo Lacca, ilustra o tema do silêncio. Não o vazio, mas o que contém o que não se diz. E por isso o desconforto. Ficam palavras entaladas na garganta. E a emoção paira.
Cabe ao espectador valer-se das suas próprias experiências para preencher as lacunas, já que é uma linguagem que todos compreendem.
Ivo (Irandhir Santos), fotógrafo que chega do Recife para sua primeira exposição em São Paulo, reencontra Rita (Rita Carelli). Ela está casada com outro, muito diferente de Ivo, que apesar de sentir o clima entre sua mulher e o recém-chegado e porejar ciúme, faz um tipo seguro de si, tratando o outro como um caipira na grande cidade. É aparentemente acolhedor e prestativo, mas soa falso e inútil.
Ivo é filho de uma aventura do pai (Genésio de Barros), que o esconde, também mantendo um silêncio incômodo. Tem como desculpa, a existência de Tereza, sua mulher, que não vai gostar de saber desse segredo.
Ivo vai pela cidade, transa com Laís (Laila Pas) mas tem Rita na cabeça.
As mãos deles, apaixonadas, se torcendo juntas e clandestinas no cinema, são mais sensuais que qualquer outro ato de amor.
E dela, restam com ele fotos, sinais da permanência de sentimentos. Ela olha essas fotos e se emociona com o que trazem ao coração.
Aquele amor vivido permanece na memória dos dois, onde deixou traços indeléveis.
“Permanência” foi muito premiado no Festival do Recife: melhor filme, melhor atriz para Rita Carelli, melhor ator coadjuvante para Genésio Barros, melhor atriz coadjuvante para Laila Pas e melhor direção de arte para Juliano Dornelles.
Mais um bom filme nacional que vem engrossar o veio que nos vem do Recife.
“Permanência” é um filme que se vê intrigado, até que o espectador perceba que tem que entrar em sintonia com as emoções e não com as palavras. 

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