Direção: John Boorman
Um filme nostálgico sobre um país e a vida de um jovem
que, na verdade, é o próprio diretor e suas
recordações.
John Boorman, 82 anos, faz aqui a continuação de seu
“Esperança e Glória - Hope and Glory” de 1987, que contava as aventuras dele,
quando criança, durante a Segunda Guerra, em Londres.
Mas não é preciso ter assistido ao primeiro filme para
apreciar o segundo.
“Rainha e País” lembra, em sua primeira cena, o menino
que, em 1943, agradece a Hitler o bombardeio de sua escola, porque não vai ter
mais aulas e pula para 1952, quando ele completa 18 anos e vive com a família
numa ilha do rio Tâmisa, lugar para onde se mudaram, fugindo das bombas nazistas
em Londres.
Na pele do jovem Bill Rohan (Callum Turner), que é
convocado para o exército, o diretor e roteirista lembra de sua vida em
passagens com o amigo Percy (Caleb Candry Jones), dono de um humor ácido.
A guerra da Coreia mobiliza naquele momento os ingleses
para lutar, mais uma vez, ao lado dos americanos. Mas o país mudou e as
palestras de Bill para os recrutas, apoiadas em artigos do “The London Times”
revelam o quanto de desacordo existia na Inglaterra e na nova geração, que não
vê encanto nenhum em ir lutar por algo que não é compartilhado, uma bandeira que
não é a deles.
“- Essa guerra é imoral”, diz Bill citando palavras do
jornal respeitado, o que lhe vale uma encrenca.
Além da novidade de crítica à política do governo, os
dois amigos partilham da mesma opinião sobre as rígidas regras do exército
inglês, que prepara os jovens para o combate na Ásia. E declaram uma guerra
particular contra o Sargento Bradley (David Tewliss), irascível e fanático por
disciplina e seguimento das regras do manual do
exército.
Anuncia-se o espírito transgressor e crítico ao
“establishment” que iria varrer a Inglaterra nos anos
60.
Mas há também no filme o tema sexo versus romance, que
colore os ímpetos libidinosos dos rapazes e moças. Há garotas mais livres, como
a irmã de Bill (Vanessa Kirky) e outras mais complicadas como “Ophelia”(Tamsin
Egerton), a mulher mais velha de 24 anos, por quem Bill, quase 20 anos, se
apaixona.
Boorman cria na tela momentos inspirados como quando a
família toda se reúne na frente da TV, comprada especialmente para a coroação da
Rainha Elizabeth II, muito jovem e com uma graça solene. Ali percebemos o quanto
o país produziu de gerações e mentalidades diferentes. O avô critica a casa real
de Windsor, chamando-os de “alemães”, enquanto o pai reverencia a Rainha e a
Inglaterra.
“- Eu me pergunto qual país poderia exibir um espetáculo
tão magnífico quanto esse!”, comenta o pai que lutou na Segunda Guerra, com um
patriotismo reverente.
E Bill, membro da nova geração, vê a cerimonia com um ar
levemente divertido, porém atento.
“Rainha e País”, sem nomes conhecidos no elenco, vai
agradar a quem gosta de memórias afetivas e de um ritmo mais lento, num cinema
delicado e de espírito jovem, sob a batuta de um mestre do cinema, do alto de
seus 82 anos de idade.
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