domingo, 28 de junho de 2015

Rainha e País


“Rainha e País”- “Queen and Country”, Reino Unido, 2014
Direção: John Boorman

Um filme nostálgico sobre um país e a vida de um jovem que, na verdade, é o próprio diretor e suas recordações.
John Boorman, 82 anos, faz aqui a continuação de seu “Esperança e Glória - Hope and Glory” de 1987, que contava as aventuras dele, quando criança, durante a Segunda Guerra, em Londres.
Mas não é preciso ter assistido ao primeiro filme para apreciar o segundo.
“Rainha e País” lembra, em sua primeira cena, o menino que, em 1943, agradece a Hitler o bombardeio de sua escola, porque não vai ter mais aulas e pula para 1952, quando ele completa 18 anos e vive com a família numa ilha do rio Tâmisa, lugar para onde se mudaram, fugindo das bombas nazistas em Londres.
Na pele do jovem Bill Rohan (Callum Turner), que é convocado para o exército, o diretor e roteirista lembra de sua vida em passagens com o amigo Percy (Caleb Candry Jones), dono de um humor ácido.
A guerra da Coreia mobiliza naquele momento os ingleses para lutar, mais uma vez, ao lado dos americanos. Mas o país mudou e as palestras de Bill para os recrutas, apoiadas em artigos do “The London Times” revelam o quanto de desacordo existia na Inglaterra e na nova geração, que não vê encanto nenhum em ir lutar por algo que não é compartilhado, uma bandeira que não é a deles.
“- Essa guerra é imoral”, diz Bill citando palavras do jornal respeitado, o que lhe vale uma encrenca.
Além da novidade de crítica à política do governo, os dois amigos partilham da mesma opinião sobre as rígidas regras do exército inglês, que prepara os jovens para o combate na Ásia. E declaram uma guerra particular contra o Sargento Bradley (David Tewliss), irascível e fanático por disciplina e seguimento das regras do manual do exército.
Anuncia-se o espírito transgressor e crítico ao “establishment” que iria varrer a Inglaterra nos anos 60.
Mas há também no filme o tema sexo versus romance, que colore os ímpetos libidinosos dos rapazes e moças. Há garotas mais livres, como a irmã de Bill (Vanessa Kirky) e outras mais complicadas como “Ophelia”(Tamsin Egerton), a mulher mais velha de 24 anos, por quem Bill, quase 20 anos, se apaixona.
Boorman cria na tela momentos inspirados como quando a família toda se reúne na frente da TV, comprada especialmente para a coroação da Rainha Elizabeth II, muito jovem e com uma graça solene. Ali percebemos o quanto o país produziu de gerações e mentalidades diferentes. O avô critica a casa real de Windsor, chamando-os de “alemães”, enquanto o  pai reverencia a Rainha e a Inglaterra.
“- Eu me pergunto qual país poderia exibir um espetáculo tão magnífico quanto esse!”, comenta o pai que lutou na Segunda Guerra, com um patriotismo reverente.
E Bill, membro da nova geração, vê a cerimonia com um ar levemente divertido, porém atento.
“Rainha e País”, sem nomes conhecidos no elenco, vai agradar a quem gosta de memórias afetivas e de um ritmo mais lento, num cinema delicado e de espírito jovem, sob a batuta de um mestre do cinema, do alto de seus 82 anos de idade.

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